Lista de pontos

Há 9 pontos em "Em Diálogo com o Senhor", cuja matéria seja Sagrada Família .

Com a trindade da Terra

Os magos chegaram a Belém. Os evangelhos apócrifos, que merecem geralmente uma consideração piedosa, ainda que não mereçam fé, contam que eles colocaram os seus presentes aos pés do Menino; que O adoraram, sem se recatarem, quando encontram o Rei de que andavam à procura, não num palácio real, nem rodeado de numerosa criadagem, mas numa manjedoura, entre um boi e uma mula, envolto nuns paninhos, nos braços da sua Mãe e de São José, como outra criatura qualquer que acaba de vir ao mundo.

São Mateus, na passagem do seu Evangelho que a Igreja nos propõe hoje, termina com estas palavras: E «tendo recebido em sonhos um aviso para que não voltassem a Herodes, regressaram ao seu país por outro caminho»5. Estes homens, extraordinários no seu tempo, possuidores de uma ciência reconhecida, dão crédito a um sonho. O seu comportamento é, uma vez mais, pouco lógico. Quantas coisas humanamente ilógicas, mas cheias da lógica de Deus, há também na nossa vida!

Meus filhos, aproximemo-nos do grupo constituído pela trindade da Terra, Jesus, Maria e José. Eu ponho-me num cantinho; não me atrevo a aproximar-me de Jesus, porque vejo levantarem-se todas as minhas misérias, as passadas e as presentes. Tenho vergonha, mas também percebo que Cristo Jesus me lança um olhar de carinho. Então, aproximo-me de sua Mãe e de São José, o homem, ignorado durante séculos, que Lhe serviu de pai na Terra, e digo a Jesus: Senhor, quero ser teu de verdade, quero que os meus pensamentos, as minhas obras e todo o meu viver sejam teus. Mas bem vês que esta pobre miséria humana me faz andar dum lado para o outro tantas vezes...

Gostaria de ter sido teu desde o primeiro momento, desde o primeiro latejo do meu coração, desde o primeiro instante em que a minha razão começou a trabalhar. Não sou digno de ser – e sem a tua ajuda nunca chegarei a ser – teu irmão, teu filho e teu amor. Tu, sim, és meu irmão e meu amor, e também sou teu filho.

E, não podendo pegar em Cristo e abraçá-lo contra o meu peito, torno-me pequeno. Isto sim, podemos fazê-lo, e combina com o nosso espírito, com o nosso ar de família. Tornar-me-ei pequeno e irei ter com Maria. Se ela tem o seu Filho Jesus no braço direito, também eu, que sou igualmente seu filho, encontrarei um lugar no seu regaço: a Mãe de Deus pegar-me-á com o outro braço e apertar-nos-á juntos contra o seu peito.

Perdoai, meus filhos, que vos diga estas coisas que parecem tolices. Mas não é verdade que somos contemplativos? Uma consideração destas pode ajudar-nos, se for preciso, a recuperar a vida; pode encher-nos de muitos consolos e de muita fortaleza.

Diante do Senhor e, sobretudo, diante do Senhor Menino, inerme, necessitado, tudo será pureza; e verei que, se por um lado tenho, como todos os homens, a possibilidade brutal de O ofender, de ser um animal, por outro lado, isso não é uma vergonha se nos servir para lutar, para expressarmos o nosso amor; se for ocasião para aprendermos a tratar de modo fraterno todos os homens, todas as criaturas.

Ao serviço de Jesus

Temos de fazer continuamente atos de contrição, de reforma, de melhora, ascensões sucessivas. Sim, Senhor que nos escutas: Tu permitiste, depois de a raça humana ter caído com os nossos primeiros pais, a bestialidade desta criatura que se chama homem. Por isso, se alguma vez não puder estar nos braços de tua Mãe, junto de Ti, colocar-me-ei junto da mula e do boi que Te acompanharam no presépio. Serei o cão da família, olhando-Te com olhos ternos, com a missão de defender aquele lar. Assim, encontrarei a teu lado o calor que purifica, o amor de Deus que faz, do animal que todos os homens trazemos dentro de nós, um filho de Deus, algo que não é comparável a nenhuma grandeza da Terra.

A nossa vida, meus filhos, é a vida de um burrinho nobre e bom, que às vezes se rebola pelo chão, a espernear, e dá coices, mas que, habitualmente, é fiel, leva a carga que lhe põem em cima e se conforma com uma comida, sempre a mesma, austera e pouco abundante; e que tem a pele dura para o trabalho. Comove-me a figura do burrinho, que é leal e não abandona a carga. Sou um burrinho, Senhor; aqui estou. Não penseis, meus filhos, que isto é uma tolice. Não é. Estou a mostrar-vos o modo de orar que utilizo, e que serve muito bem.

E ofereço o meu dorso à Mãe de Deus, que leva o seu Filho ao colo, e partimos para o Egito. Mais tarde, emprestar-Lhe-ei de novo as costas para Ele Se sentar, «perfectus Deus, perfectus Homo»6, e converter-me-ei no trono de Deus.

Que paz me dão estas considerações! Que paz nos deve dar saber que o Senhor nos perdoa sempre, que nos ama tanto, que conhece tão bem as fraquezas humanas, que sabe o barro vil de que somos feitos. Mas também sabe que nos inspirou um sopro, a vida, que é divino. Por cima deste dom, que pertence à ordem da natureza, o Senhor infundiu-nos a graça, que nos permite viver a sua própria vida. E dá-nos os sacramentos, que são aquedutos dessa graça divina, em primeiro lugar o batismo, pelo qual começamos a fazer parte da família de Deus.

Não vos posso ocultar, meus filhos, que sofro quando sei que mandam atrasar a administração do batismo às crianças, quando observo que alguns se negam a batizá-las sem uma série de garantias que muitos pais dificilmente podem dar. Desse modo, as crianças ficam pagãs, «filhos da ira»7, escravos de Satanás. Sofro muito quando observo que se atrasa deliberadamente o batismo dos recém-nascidos, porque preferem celebrar mais tarde uma cerimónia a que chamam comunitária, com muitas crianças de cada vez, como se Deus precisasse disso para Se instalar em cada alma.

Então, penso nos meus pais, que foram batizados no dia em que nasceram, tendo nascido sadios. E os meus avós eram simplesmente bons cristãos. Agora, no entanto, alguns que se apresentam como autoridades ensinam o rebanho de Deus a portar-se, desde o princípio, com uma frieza de maus crentes.

Confiança em Deus

Meus filhos, estamos perto de Cristo. Somos portadores de Cristo, somos seus burrinhos – como o de Jerusalém –, e, enquanto não O expulsarmos, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, a Santíssima Trindade, estão connosco. Somos portadores de Cristo e temos de ser luz e calor, temos de ser sal, temos de ser fogo espiritual, temos de ser apostolado constante, temos de ser vibração, temos de ser o vento impetuoso de Pentecostes.

Chega o momento do colóquio, que é muito pessoal. Hoje, depois de Jesus Menino ter recebido a homenagem dos magos, toma-O tu, meu filho, nos teus braços e aperta-O contra o peito, onde nasceram, em tantos momentos, as nossas ofensas. Eu digo-Lhe em voz alta, deveras: nunca me abandones, não toleres que Te expulse do meu coração. Porque é isto que fazemos com o pecado: expulsá-lo da nossa alma.

Meus filhos, vede se há na Terra amor mais fiel que o amor de Deus por nós. Ele olha-nos pelas frestas das janelas – são palavras da Escritura8 –, olha-nos com o amor de uma mãe que espera o filho que está para chegar: já lá vem, já lá vem... Olha-nos com o amor da esposa casta e fiel que espera o marido. É Ele quem nos espera, e, tantas vezes, fomos nós que O fizemos esperar.

Começámos a nossa oração pedindo perdão. Não será este o momento mais oportuno, meus filhos, para cada um dizer concretamente: Senhor, basta!

Senhor, Tu és o amor dos meus amores. Senhor, Tu és o meu Deus e todas as minhas coisas. Senhor, sei que contigo não há derrotas. Senhor, quero deixar-me endeusar, ainda que seja humanamente ilógico e que não me entendam. Toma posse da minha alma uma vez mais, e forja-me com a tua graça.

Mãe, Senhora minha, São José, meu Pai e Senhor, ajudai-me a nunca abandonar o amor do vosso Filho.

Podeis entreter-vos muitas vezes, ao longo do dia, em conversa com a trindade da Terra, que é caminho para manter o trato com a Trindade do Céu. Considerai que a Mãe nos leva ao Filho, e o Filho, pelo Espírito Santo, nos conduz ao Pai, segundo as suas palavras: «Quem Me vê, vê também o Pai»9. Dirigi-vos a cada Pessoa da Santíssima Trindade e repeti sem medo: creio em Deus Pai, creio em Deus Filho, creio em Deus Espírito Santo. Espero em Deus Pai, espero em Deus Filho, espero em Deus Espírito Santo. Amo a Deus Pai, amo a Deus Filho, amo a Deus Espírito Santo. Creio, espero e amo a Santíssima Trindade. Creio, espero e amo a minha Mãe, Santa Maria, que é Mãe de Deus.

Introdução

Ao longo da minha vida, filhos queridíssimos, sempre procurei verter na vossa alma o que Deus me ia dando. No espírito do Opus Dei, não há nada que não seja santo, porque não é uma invenção humana, mas obra da sabedoria divina. Nesse espírito, brilham todas as coisas boas que o Senhor quis colocar no coração do vosso Padre. Se virdes alguma coisa mal na minha pobre vida, não será do espírito da Obra; serão as minhas misérias pessoais. Por isso, rezai por mim, para que seja bom e fiel.

Entre os bens que o Senhor quis dar-me, conta-se a devoção à Santíssima Trindade: à Trindade do Céu, Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, único Deus; e à trindade da Terra: Jesus, Maria e José. Compreendo muito bem a unidade e o carinho desta Sagrada Família. Eram três corações, mas um só amor.

Com desvelos de Pai

Quero muito a São José; parece-me um homem extraordinário. Sempre o imaginei jovem; por isso, aborreci- -me quando colocaram no oratório do Padre uns relevos em que é representado como um homem velho e barbudo. Mandei imediatamente pintar um quadro em que aparece jovem, cheio de vitalidade e de força. Há quem não conceba que se possa guardar a castidade senão na velhice. Mas os velhos só serão castos se o tiverem sido quando eram jovens; quem não tiver sabido ser limpo nos anos da juventude, facilmente terá costumes brutalmente torpes quando for velho.

São José devia ser jovem quando se casou com a Virgem santíssima, uma mulher acabada de sair da adolescência. Sendo jovem, era puro, limpo, castíssimo; e era-o, justamente, por amor. Só enchendo o coração de amor poderemos estar seguros de que ele não se encabritará nem se desviará, mas permanecerá fiel ao amor puríssimo de Deus.

Ontem à noite, depois de me deitar, invoquei muitas vezes São José, muitas, preparando a festa de hoje. Entendi com grande clareza que fazemos realmente parte da sua família. Não é um pensamento gratuito; temos muitas razões para o afirmar. Em primeiro lugar, porque somos filhos de Santa Maria, sua esposa, e irmãos de Jesus Cristo, todos filhos do Pai do Céu. E depois, porque formamos uma família da qual São José quis ser a cabeça; é por isso que lhe chamamos, desde o princípio da Obra, nosso Pai e Senhor.

O Opus Dei não abriu caminho com facilidade. Foi tudo muito difícil, humanamente falando. Eu não queria aprovações eclesiásticas que pudessem distorcer o nosso caminho jurídico, um caminho que não existia e que ainda está a ser feito. Havia muitas pessoas que não entendiam – e ainda há algumas obstinadas em não entender – o nosso fenómeno jurídico, e ainda menos a nossa fisionomia teológica e ascética, esta onda pacífica, pastoral, que vai enchendo a Terra inteira. Eu não desejava aprovações eclesiásticas de nenhum género, mas tínhamos de trabalhar em muitos sítios: havia milhões de almas à nossa espera!

Invocávamos São José, que fez as vezes de Pai do Senhor, e os anos iam passando. Só conseguimos lançar a primeira obra corporativa em 1933; foi a famosa academia DYA. Dávamos aulas de Direito e Arquitetura – daí as letras do nome –, mas na realidade queria dizer Deus e Audácia. Era disso que precisávamos para quebrar, como quebrámos, os moldes jurídicos, e dar uma solução nova às ansiedades da alma dos cristãos que queriam e querem servir Deus com todo o seu coração, dentro das limitações humanas, mas na rua, no trabalho profissional ordinário, sem serem religiosos nem assimilados aos religiosos.

Deixei passar vários anos até redigir o primeiro regulamento da Obra. Recordo-me de que tinha um monte de fichas, nas quais ia recolhendo a nossa experiência. A vontade de Deus estava clara desde o dia 2 de outubro de 1928; mas foi sendo posta em prática pouco a pouco, com o passar dos anos. Evitei o risco de fazer um fato para meter a criatura lá dentro; pelo contrário, ia tirando as medidas – que eram essas fichas de experiência – para fazer o fato adequado. Um dia, passados vários anos, pedi a D. Álvaro e a outros irmãos vossos mais velhos que me ajudassem a ordenar todo esse material. Foi assim que fizemos o primeiro regulamento, em que não se falava de votos, nem de botas, nem de botins, nem de botões, porque não era necessário, e continua a não ser.

Oração pela Igreja

Meus filhos, continuaria a falar se isto fosse uma meditação; mas, como é uma tertúlia, parece-me que já basta. Já tendes matéria suficiente para fazer, cada um por sua conta, um tempo de oração contemplativa: para viver com Jesus, Maria e José naquele lar e naquela oficina de Nazaré; para contemplar a morte do Santo Patriarca, que, conforme a tradição, foi acompanhado por Jesus e Maria; para lhe dizer que o amamos muito, que não nos desampare.

Se no Céu pudesse haver tristeza, São José estaria muito triste nestes tempos, vendo a Igreja decompor-se como se fosse um cadáver. Mas a Igreja não é um cadáver! Passarão as pessoas, mudarão os tempos, e deixarão de se dizer blasfémias e heresias. Atualmente, propagam- -se sem qualquer dificuldade, porque não há pastores que indiquem onde está o lobo. Quem corre riscos é quem proclama a verdade, porque é perseguido e difamado. Só há impunidade para quem difunde heresias e maldades, erros teóricos e práticos de costumes infames.

Os maiores inimigos estão dentro e no alto; não vos deixeis enganar. Quando abrirdes um livro de temas religiosos, que vos queime as mãos se não tiverdes a certeza de que tem bom critério. Fora! É um veneno ativíssimo; atirai-o para longe, como se fosse um livro pornográfico, e com mais violência ainda, porque a pornografia salta aos olhos enquanto isto se infiltra como que por osmose.

Invocai São José comigo, de todo o coração, para que nos obtenha da Santíssima Trindade e de Santa Maria, sua Esposa, nossa Mãe, que encurte o tempo da prova. E, embora tenham suprimido esta invocação da ladainha dos santos, quero convidar-vos a rezá-la comigo: «Ut inimicos Sanctæ Ecclesiæ humiliare digneris, te rogamus audi nos!»2.

Com Maria e com José

«Pelo mistério do Verbo encarnado, nova luz da vossa glória brilhou sobre nós, para que, contemplando a Deus visível aos nossos olhos, aprendamos a amar o que é invisível»7. Que todos O contemplemos com amor. Na minha terra diz-se às vezes: olha como o contempla! Referem-se a uma mãe com o filho nos braços, a um noivo que contempla a sua noiva, à mulher que vela à cabeceira do marido, a um afeto humano nobre e limpo. Pois bem, vamos contemplá-lo assim, revivendo a vinda do Salvador. E comecemos por sua Mãe, sempre Virgem, limpíssima, sentindo necessidade de a louvar e de lhe repetir que a amamos, porque nunca aqueles que deveriam defender e bendizer a Mãe de Deus propagaram tantos despropósitos e tantos horrores contra ela.

A Igreja é pura, limpa, sem mancha; é a Esposa de Cristo. Mas há alguns que, em seu nome, escandalizam o povo; e enganaram muitos que, noutras circunstâncias, teriam sido fiéis. Este Menino desamparado lança-vos os braços ao pescoço, para que O aperteis contra o coração e Lhe ofereçais o propósito firme de reparar, com serenidade, com fortaleza, com alegria.

Não vo-lo tenho ocultado: nos últimos dez anos, todos os sacramentos foram atacados, um por um. De modo particular o sacramento da penitência. De maneira mais malvada, o santíssimo sacramento do altar, o sacrifício da Missa. O coração de cada um de vós deve vibrar e, com essa sacudidela do sangue, desagravar o Senhor como saberíeis consolar a vossa mãe, uma pessoa a quem amásseis com ternura. «Não vos inquieteis com nada, mas em todas as circunstâncias manifestai a Deus as vossas necessidades por meio de orações e súplicas, unidas às ações de graças. E a paz de Deus, que está acima de todo o entendimento, guarde os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus»8.

Tendo começado por louvar e desagravar Santa Maria, manifestaremos a seguir ao patriarca São José que o amamos. Eu chamo-lhe meu Pai e Senhor, e amo-o muito, muito. Também vós deveis amá-lo muito; caso contrário, não seríeis bons filhos meus. Foi um homem jovem, limpíssimo, cheio de firmeza, a quem o próprio Deus escolheu como guardião, seu e de sua Mãe.

Deste modo metemo-nos no presépio de Belém: com José, com Maria, com Jesus. «Então, o teu coração palpitará e dilatar-se-á»9. Na intimidade desse trato familiar, dirijo-me a São José e apoio-me do seu braço poderoso, forte, de trabalhador, que tem o atrativo daquilo que é limpo, reto, daquilo que – sendo muito humano – está divinizado. Apoiado no seu braço, peço-lhe que me leve a sua Esposa Santíssima, sem mácula, Santa Maria. Porque é minha Mãe, e tenho esse direito. E pronto. Depois, os dois levam-me a Jesus.

Minhas filhas e meus filhos, isto não é uma comédia. É o que fazemos muitas vezes na vida, quando começamos a relacionar-nos com uma família. É o modo humano, levado ao divino, de conhecer o lar de Nazaré e de nos metermos dentro dele.

Introdução

Esta noite, pensei em diversas coisas de há muitos anos. Eu digo sempre que sou jovem, e é verdade: «ad Deum qui lætificat iuventutem meam!»1. Sou jovem com a juventude de Deus. Mas já são muitos anos. Disse-o esta manhã, na oração, aos vossos irmãos do Conselho.

Na Terra e no Céu

Faço por chegar à Trindade do Céu pela trindade da Terra: Jesus, Maria e José. É como se estivessem mais acessíveis. Jesus, que é perfectus Deus e perfectus Homo8. Maria, que é uma mulher, a mais pura criatura, a maior; mais do que Ela, só Deus. E José, que vem logo depois de Maria, limpo, varonil, prudente, íntegro. ó meu Deus, que modelos! Só de olhar para eles, dá-me vontade de morrer de pena, porque eu, Senhor, tenho-me portado tão mal... Não tenho sabido estar à altura das circunstâncias, divinizar-me. E Tu deste-me todos os meios; e dás- -mos, e continuarás a dar-mos... Porque é à maneira divina que temos de viver humanamente na Terra.

Temos de estar – e tenho consciência de vo-lo ter dito muitas vezes – sempre no Céu e na Terra. Não é entre o Céu e a Terra, porque somos do mundo, mas no mundo e no Paraíso ao mesmo tempo! Esta é a fórmula, por assim dizer, que exprime de que modo devemos compor a nossa vida enquanto permanecemos in hoc sæculo9. No Céu e na Terra, endeusados; mas sabendo que somos do mundo e que somos terra, com a fragilidade própria do que é terra: um pote de barro que o Senhor Se dignou aproveitar para o seu serviço. E, quando ele se quebrou, recorremos aos famosos grampos, como o filho pródigo: «Pequei contra o Céu e contra Ti...»10. Quer se tratasse de uma coisa de vulto, quer de algo pequeno. Às vezes, dói-nos muito, muito, uma falha pequena, um desamor, um não saber olhar para o Amor dos amores, um não saber sorrir. Porque, quando se ama, não há coisas pequenas; tudo tem muita importância, tudo é grande, mesmo numa criatura miserável e pequena como eu, como tu, meu filho.

O Senhor quis depositar em nós um tesouro riquíssimo. Estou a exagerar? Não, disse pouco. Disse pouco agora, porque antes disse mais. Recordei que em nós habita Deus, Senhor Nosso, com toda a sua grandeza. Nos nossos corações há habitualmente um Céu. E não vou continuar.

Gratias tibi, Deus, gratias tibi, vera et una Trinitas, una et summa Deitas, sancta et una Unitas!11

Que a Mãe de Deus seja para nós Turris Civitatis12iii, a torre que vela pela cidade; a cidade que é cada um, com muitas coisas que vão e vêm dentro de nós, com muito movimento e ao mesmo tempo com tanta quietude; com tanta desordem e com tanta ordem; com tanto ruído e com tanto silêncio; com tanta guerra e com tanta paz.

Sancta Maria, Turris Civitatis, ora pro nobis!

Sancte Joseph, Pater et Domine, ora pro nobis!

Sancti angeli custodes, orate pro nobis!13

Notas
5

Mt 2, 12.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
6

Passagem do Símbolo Atanasiano: «perfeito Deus, perfeito Homem».

7

Ef 2, 3.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
8

Cf. Cant 2, 9.

9

Jo 14, 9.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
2

«Suplicamos-Te que Te dignes confundir os inimigos da Santa Igreja!»: invocação da ladainha dos santos incluída na liturgia batismal no Ritual Romano de 1952.

Notas
7

Missal Romano, Prefácio do Natal I.

8

Fil 4, 6-7.

9

Is 15, 5.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
1

Sl 42, 4: «ao Deus que alegra a minha juventude».

Referências da Sagrada Escritura
Notas
8

Passagem do Símbolo Atanasiano: «perfeito Deus, perfeito Homem».

9

Neste mundo.

10

Lc 15, 21.

11

Obrigado, meu Deus, obrigado, Trindade una e verdadeira, Deus sumo e uno, Unidade una e santa!

12

iii Alusão a Nossa Senhora de Torreciudad, cujo santuário – promovido por São Josemaria – estava nessa altura a ser construído em Aragão, estando quase concluído (N. do E.).

13

Santa Maria, Torre da Cidade, rogai por nós! São José, Pai e Senhor, rogai por nós! Santos anjos da guarda, rogai por nós!