Lista de pontos
Introdução
«Emitte lucem tuam et veritatem tuam»1: envia, Senhor, a tua luz e a tua verdade.
Meus filhos, a nossa vocação é seguir a Cristo: «Venite post me et faciam vos fieri piscatores hominum»2. E segui- -lo tão de perto que vivamos com Ele, como os primeiros Doze; tão de perto que nos identifiquemos com Ele, que vivamos a sua vida, até chegar o momento em que, se não tivermos posto obstáculos, possamos dizer com São Paulo: «Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim»3.
Que alegria tão grande é sentirmo-nos metidos em Deus! Endeusados! E, ao mesmo tempo, que felicidade é também notarmos toda a pequenez, toda a miséria, toda a debilidade da nossa pobre natureza terrena, com as suas fraquezas e os seus defeitos! Por isso, quando Cristo nos fala por meio de parábolas, como aos primeiros, muitas vezes não O entendemos, e temos de fazer nossa a súplica dos apóstolos: «Edissere nobis parabolam!»4: Senhor, explica-nos a parábola!
Sal, luz e levedura
Filhos da minha alma, quero levar-vos por um caminho maravilhoso, por uma vida de amor e de aventura sobrenatural, pela qual o Senhor me conduziu; uma vida de felicidade, com sacrifício, com dor, com abnegação, com entrega, com esquecimento próprio.
«Si quis vult post me venire... Se alguém quiser vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz de cada dia e siga-Me» . Todos ouvimos estas palavras e é por isso estamos aqui. Também ouvimos outras: «Não fostes vós que Me escolhestes, fui Eu que vos escolhi» . O chamamento divino tem uma finalidade muito concreta: meter-te em todas as encruzilhadas da Terra, estando tu bem metido em Deus. Seres sal, seres levedura, seres luz do mundo. Sim, meu filho: tu em Deus, para iluminares, para dares sabor, para fazeres crescer, para seres fermento.
Mas a luz será trevas se tu não fores contemplativo, alma de oração contínua. O sal perderá o seu sabor, só servirá para ser pisado por toda a gente, se tu não estiveres metido em Deus. A levedura apodrecerá e perderá a sua virtude de fermentar toda a massa se tu não fores alma verdadeiramente contemplativa.
Reza orações vocais, as que fazem parte do nosso plano de vida de piedade. Depois, dirige-te a Deus com orações vocais tuas, pessoais, as que mais devoção te derem. Não fiques só naquilo que todos temos o dever e a alegria de cumprir; acrescenta o que a tua iniciativa e a tua generosidade te ditarem. Finalmente, não esqueças a oração mental contínua. Procura dialogar com Deus, no centro da tua alma, com toda a confiança e sinceridade.
Filho, penso que já te disse tudo o que tinha para te dizer. Resta agora que te decidas, de verdade, a ser uma alma entregue, enamorada, em trato constante com Deus.
Então, sim, estou seguro da tua fidelidade.
Termino, pois, com três citações da Escritura:
«Oportet semper orare et non deficere» : é preciso rezar sempre, sem cessar.
«Erat pernoctans in oratione Dei» : Cristo passava a noite em conversa com Deus.
«Erant autem perseverantes in doctrina apostolorum, et communicatione fractionis panis, et orationibus»16: os primeiros cristãos perseveravam todos nos ensinamentos dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e na oração.
Barcas e redes
Vamos continuar, meus filhos, com dois textos da Sagrada Escritura: um de São Lucas e outro de São João. O Senhor encontrou os seus primeiros discípulos entre barcas e redes, e muitas vezes comparava o trabalho de almas às fainas pesqueiras.
Lembras-te daquela pesca milagrosa, quando as redes se rompiam3? Também há ocasiões, na atividade apostólica, em que a rede se rompe devido às nossas imperfeições, e em que, mesmo que seja abundante, a pesca não é tão numerosa como poderia ser.
Podemos aplicar a essa pesca apostólica, aberta a todas as almas, o texto de São Mateus acerca de uma rede de arrastão que, lançada ao mar, recolhe todo o género de peixes4, de qualquer tamanho e qualidade, porque cabe nas suas malhas tudo quanto nada nas águas do mar. Essa rede não se rompe, meu filho, porque não fomos tu nem eu, mas a nossa boa mãe, a Obra, que se pôs a pescar.
Mas não quero falar-te agora dessa pesca, nem dessa rede imensa. Desejo antes fazer-te considerar outra pesca, a que São João conta no capítulo 21; aquela em que Simão Pedro puxou para terra e pôs aos pés de Jesus uma rede «cheia de cento e cinquenta e três peixes grandes»5. Foi nessa rede de peixes grandes, escolhidos, que Cristo te meteu com a graça soberana da vocação. Talvez um olhar de sua Mãe O tenha comovido até ao extremo de te conceder, pela mão imaculada da Santíssima Virgem, esse dom grandioso.
Meus filhos, olhai que estamos todos metidos numa mesma rede, e que a rede está dentro da barca, que é o Opus Dei, com o seu maravilhoso critério de humildade, de entrega, de trabalho, de amor. Isto é bonito, não é, meus filhos? Tê-lo-ás por acaso merecido?
Este é o momento de voltares a dizer: deixar-me-ei meter na barca, deixar-me-ei cortar, lancetar, romper, polir, comer! Entrego-me! Di-lo de verdade! Porque depois acontece que, às vezes, pela tua soberba, quando te dão uma indicação que é para a tua santidade, é como se te revoltasses; porque tens mais em conta o teu juízo próprio – que não pode ser certeiro, porque ninguém é bom juiz em causa própria – do que o juízo dos diretores; porque te incomoda a indicação carinhosa dos teus irmãos, quando te fazem uma correção fraterna...
Entrega-te, dá-te! Mas diz a Jesus Cristo: tenho esta experiência da soberba! Senhor, torna-me humilde! E Ele responder-te-á: pois bem, para seres humilde, cultiva o trato comigo, e conhecer-Me-ás e conhecer-te-ás. Cumpre essas normas que Eu te entreguei, através do teu Fundador. Cumpre-me essas normas. Sê fiel à tua vida interior, sê alma de oração, sê alma de sacrifício. E, apesar dos pesares, que nesta vida não faltam, far-te-ei feliz.
Meu filho, continua a fazer a tua oração pessoalíssima, que não necessita do som de palavras. E fala com o Senhor assim, cara a cara, tu e Ele a sós. O contrário é muito cómodo. No anonimato, as pessoas atrevem-se a fazer mil coisas que não ousariam fazer a sós. Aquela pessoa encolhida, cobarde, quando está no meio da multidão, não se inibe de apanhar uma mão-cheia de terra e atirá-la. Eu desejo que tu, meu filho, na solidão do teu coração – que é uma solidão bem acompanhada –, olhes de frente o teu Pai Deus e Lhe digas: entrego-me!
Sê audaz, sê valente, sê ousado! Continua a fazer a tua oração pessoal e compromete-te: Senhor, nunca mais! Não terei mais delongas, não voltarei a levantar dificuldades, não voltarei a opor resistências à tua graça; desejo ser uma boa levedura, que faça fermentar toda a massa.
A eficácia de obedecer
Queres que continuemos a recordar estas passagens da Escritura Santa, que contemplemos os apóstolos entre as redes e as barcas, que compartilhemos os seus afãs, que escutemos a doutrina divina dos lábios do próprio Cristo?
«Disse a Simão: “Avança mar adentro, e lançai as vossas redes para a pesca”. Replicou-Lhe Simão: “Mestre, afadigámo-nos toda a noite e nada rapanhámos”»6. Com estas palavras, os apóstolos reconhecem a sua impotência: numa noite inteira de trabalho, não conseguiram pescar um único peixe. Assim és tu, e assim sou eu, pobres homens, soberbos. Quando queremos trabalhar sozinhos, fazendo a nossa vontade, guiados exclusivamente pelo nosso próprio juízo, o fruto chama-se infecundidade.
Mas continuemos a ouvir Pedro: «Não obstante, em teu nome lançarei a rede»7. E então, cheio, cheio se mostra o mar, e têm de vir as outras barcas para ajudar a recolher aquela quantidade de peixes! Vês? Se reconheceres a tua nulidade e a tua ineficácia; se, em vez de confiares no teu próprio juízo, te deixares guiar, não só te encherás de maravilhosos frutos, como, além disso, os outros terão abundância da tua abundância. Quanto bem e quanto mal podes fazer! Bem, se fores humilde e souberes entregar-te com alegria e com espírito de sacrifício; bem, para ti e para os teus irmãos, para a Igreja, para esta boa mãe que é a Obra. E quanto mal, se te guiares pela tua soberba. Terás de dizer: «Nihil cepimus!»8: não apanhámos nada!, na noite, em plena escuridão.
Meu filho, talvez sejas jovem. Por isso, eu tenho mais coisas pelas quais pedir perdão ao Senhor, se bem que tu também deves ter os teus recantos, os teus fracassos, as tuas experiências... Diz a Jesus que queres ser «como o barro nas mãos do oleiro»9, recebendo docilmente, sem resistências, a formação que a Obra te dá maternalmente.
Vejo-te com esta boa vontade, vejo-te cheio de desejo de seres santo, mas quero lembrar-te que, para sermos santos, temos de ser almas de doutrina, pessoas que souberam dedicar o tempo necessário, nos lugares precisos, para meter na sua cabeça e no seu coração, na sua vida toda, esta bagagem da qual se hão de servir para continuar a ser, com Cristo e com os primeiros Doze, pescadores de almas.
Recordando a miséria de que estamos feitos, tendo em conta tantos fracassos ocasionados pela nossa soberba, perante a majestade desse Deus, de Cristo pescador, temos de dizer o mesmo que São Pedro: «Senhor, sou um pobre pecador»10. E então, agora a ti e a mim, como anteriormente a Simão Pedro, Jesus Cristo repetir-nos-á o que nos disse há tanto tempo: «De agora em diante, serás pescador de homens»11, por mandato divino, com missão divina, com eficácia divina.
Neste mar do mundo, há tantas almas, tantas, no meio da turbulência das águas! Mas escuta estas palavras de Jeremias: «Eis, diz o Senhor, que enviarei muitos pescadores» – vós e eu – «e pescarei esses peixes»12, com zelo pela salvação de todas as almas, com preocupação divina.
Vós, tu, meu filho, vais dificultar a faina de Jesus ou vais facilitá-la? Estás a brincar com a tua felicidade ou queres ser fiel e secundar a vontade do Senhor, e sulcar com eficácia todos os mares, pescador de homens com missão divina? Para a frente, meu filho, toca a pescar!
Vou terminar com as mesmas palavras com que comecei: tu és a levedura que faz fermentar toda a mas- sa. Deixa-te preparar, não te esqueças de que, com a graça da tua vocação e a tua entrega, que é correspondência a essa graça, sob o manto da nossa Mãe Santa Maria, que sempre soube proteger-te por entre as ondas, sob o manto e a proteção da nossa Mãe do Céu, tu, pequeno fermento, pequena levedura, saberás fazer com que toda a massa dos homens fermente, e sofrerás aquelas ânsias que me faziam escrever: Omnes – todos: que nem uma só alma se per- ca! –, omnes cum Petro ad Iesum per Mariam!13
Correspondência ao amor de Cristo
As multidões de que fala o Evangelho seguiam-no porque tinham visto milagres: as curas que Jesus fazia. Vós e eu, porque O seguimos? Cada um de nós deve fazer a si próprio esta pergunta e procurar uma resposta sincera. E, uma vez que te tenhas interrogado e tenhas respondido, na presença do Senhor, enche-te de ações de graças, porque estar com Cristo é estar seguro. Poder olhar-se em Cristo é poder ser cada dia melhor. Cultivar o trato com Cris- to é necessariamente amar Cristo. E amar Cristo é garantir a felicidade: a felicidade eterna, o amor mais pleno, com a visão beatífica da Santíssima Trindade.
Disse-vos, meus filhos, que não vos pregaria a meditação, mas vos daria uns pontos para a vossa oração pessoal. Medita por tua conta, meu filho: porque estás com Cristo no Opus Dei? Quando sentiste a atração de Jesus Cristo? Porquê? Como soubeste corresponder, desde o princípio até agora? Como foi que o Senhor, com o seu carinho, te trouxe à Obra, para estares muito perto dele, para teres intimidade com Ele?
E tu, como correspondeste? Que contributo dás para que essa intimidade com Cristo não se perca e para que os teus irmãos não a percam? Em que pensas, desde que tens todos estes compromissos? Em ti ou na glória de Deus? Em ti ou nos outros? Em ti, nas tuas coisas, nas tuas ninharias, nas tuas misérias, nos teus detalhes de soberba, nas tuas coisas de sensualidade? Em que pensas habitualmente? Medita nisto, e depois deixa que o coração atue na vontade e no entendimento.
Vê se o que o Senhor fez contigo, meu filho, não foi muito mais do que curar enfermos. Vejamos se não deu vista aos nossos olhos, que estavam cegos para contemplar as suas maravilhas; vejamos se não deu vigor aos nossos membros, que não eram capazes de se mexer com sentido sobrenatural; vejamos se porventura não nos ressuscitou como a Lázaro, porque estávamos mortos para a vida de Deus. Não é verdade que temos razões para gritar: «Lætare, Ierusalem»2? Não é verdade que há razões para eu vos dizer: «Gaudete cum lætitia, qui in tristitia fuistis»3: alegrai-vos, vós que estivestes tristes?
Temos de agradecer ao Senhor, neste primeiro ponto, o prémio imerecido da vocação. E prometemos-Lhe que vamos estimá-la cada dia mais, protegendo-a por ser a jóia mais preciosa que o nosso Pai Deus nos podia ter oferecido. Ao mesmo tempo, entendemos uma vez mais que, enquanto desempenharmos este mandato de governo que a Obra nos confiou, a nossa aspiração há de ser especialmente procurar a santidade para santificar os outros: vós, os vossos irmãos; eu, os meus filhos. Porque «Deus não nos chamou à imundície, mas à santidade»4.
Uma escolha divina
Foi assim que Deus quis que nascesse a nossa Obra, filhos da minha alma. Foi assim que germinou o espírito do Opus Dei: considerando a vossa pequenez e a minha, e a grandeza dele; pensando que nós não somos nada, e Ele é tudo; que nós não sabemos nada, e Ele é a sabedoria; que nós somos fracos, e Ele é a fortaleza: «quia Tu es, Deus, fortitudo mea!»19.
Uma vez por outra, será conveniente que mediteis com calma naquelas palavras divinas que enchem a alma de temor e deixam nela sabores de favo e de mel: «Redemi te, et vocavi te nomine tuo, meus es tu!»20: redimi-te e chamei-te pelo teu nome, tu és meu! Não roubemos a Deus o que é seu. Um Deus que nos amou a ponto de dar a vida por nós, e que «elegit nos in Ipso ante mundi constitutionem, ut essemus sancti et immaculati in conspectu eius»21: nos escolheu desde toda a eternidade, antes da criação do mundo, para que estivéssemos sempre na sua presença, e nos oferece continuamente ocasiões de santidade e de entrega.
Para o caso de ficarmos com alguma dúvida, temos outras palavras suas: «Non vos Me elegistis»: não fostes vós que Me escolhestes, «sed Ego elegi vos, et posui vos, ut eatis»: mas fui Eu que vos escolhi, para que vades longe, pelo mundo fora, «et fructum afferatis»: e deis fruto, e já estais a dar!, «et fructus vester maneat»22: e será abundante o fruto do vosso trabalho de almas contemplativas. Portanto, fé, meus filhos, fé sobrenatural!
Ontem, comovi-me ao ouvir falar de um catecúmeno japonês que ensinava o catecismo a outros, que ainda não conheciam Cristo. E envergonhei-me. Precisamos de mais fé, mais fé! E, com a fé, a contemplação, mais atividade apostólica. Vede o que se lê hoje no breviário: «Adversarius elevandus sit contra omne quod dicitur Deus et colitur; ita ut audeat stare in templo Dei, et ostendere quod ipse sit Deus»23: o adversário levantar-se-á contra tudo o que se diz Deus e é adorado, a ponto de se atrever a estar no Templo de Deus e a mostrar-se a si mesmo como se fosse Deus. De dentro, querem destruir a fé do povo! De dentro, tentam opor-se a Deus!
Terminarei dizendo com São Paulo aos Colossenses: «Non cessamus pro vobis orantes…: não cessamos de orar por vós e de pedir a Deus que alcanceis o pleno conhecimento da sua vontade, com toda a sabedoria e inteligência espiritual»24. Contemplativos, com os dons do Espírito Santo, «ut ambuletis digne Deo per omnia placentes...: a fim de que tenhais um comportamento digno de Deus, agradando-Lhe em tudo, produzindo frutos com toda a espécie de boas obras e progredindo na ciência de Deus, ajudados em toda a sorte de fortaleza pelo poder da sua graça, para ter sempre uma perfeita paciência e longanimidade, acompanhada de alegria; dando graças a Deus Pai, que nos tornou dignos de participarmos da sorte dos santos, iluminando-nos com a sua luz, que nos arrebatou do poder das trevas e nos transferiu para o Reino de seu Filho muito amado»25.
Que a Mãe de Deus e nossa Mãe nos proteja, a fim de que cada um de vós e cada um dos vossos irmãos e das vossas irmãs, a Obra inteira, possa servir a Igreja na plenitude da fé, com os dons do Espírito Santo e com a vida contemplativa. Que, cada um no seu estado e no cumprimento dos deveres que lhe são próprios, cada um no seu ofício e profissão, e no cumprimento dos deveres do seu ofício e profissão, sirva alegremente a Esposa de Cristo no lugar onde o Senhor o colocou, sabendo aperceber-se das manhas dos que tentam enganar as almas com teorias falsas, muitas vezes difíceis de desmascarar. São pessoas que se apresentam como teólogos, mas que não o são; que apenas têm a técnica de falar de Deus, mas não O confessam com a boca, nem com o coração, nem com a vida.
Introdução
«Ubi est qui natus est rex Iudæorum?»1. Cristo mal acaba de nascer, e a sua realeza já é reconhecida: onde está o Rei dos judeus, que acaba de nascer? Vêm adorá-lo uns homens vindos do Oriente, gente poderosa – talvez fossem príncipes ou sábios – que se deixou arrastar por um sinal externo, que não parece ser um motivo suficientemente razoável. Receberam um chamamento, uma mensagem algo imprecisa: o fulgor extraordinário de uma estrela. Mas não resistem. Do ponto de vista humano, é pouco lógico que se ponham a caminho, empreendendo uma viagem por rumos desconhecidos, e mais ainda que, ao chegar a Jerusalém, perguntem onde reinava outra pessoa: «Ubi est rex Iudæorum?»: onde está o Rei dos judeus?
Também há muitas coisas ilógicas na vossa vida e na minha, filhos da minha alma. Também nós vimos uma luz, também nós ouvimos um chamamento, também nós partilhamos com esses homens uma inquietação que nos levou a tomar decisões que talvez não parecessem razoáveis a quem nos queria bem, a quem estava ao nosso lado. Do ponto de vista humano, tinham razão; mas tu e eu, meu filho, poderíamos dizer: «Vidimus stellam eius...: vimos a sua estrela e viemos adorá-lo»2.
Deixar-se formar
Filhos da minha alma, viestes ao Opus Dei – deixai que vo-lo recorde uma vez mais – decididos a deixar-vos formar, a preparar-vos para ser a levedura que fará fermentar a grande massa da humanidade. Essa formação, ao mesmo tempo que permite que a vossa personalidade humana melhore, dentro das suas características particulares, proporciona-vos um denominador comum, este espírito de família, que é o mesmo para todos. Para is- so – insisto –, deveis estar dispostos a colocar-vos nas mãos dos diretores, e deixar que vos deem forma sobrenatural, como o barro nas mãos do oleiro.
Meus filhos, vede que estamos todos metidos na mesma rede, e a rede dentro da barca, que é o Opus Dei, com um espírito maravilhoso de humildade, de entrega, de trabalho, de amor. Não é bonito que assim seja? Por acaso mereceste-o? Então Deus não te encontrou por aí, na rua, quando ia a passar? Não somos nenhuma especialidade, não somos seletos; Ele podia ter chamado outros melhores do que nós. Mas escolheu-nos, e recordá-lo não é soberba, mas agradecimento.
Que a nossa resposta seja: deixar-me-ei conhecer melhor, guiar mais, polir, fazer! Que nunca, por soberba, me revolte ao receber uma indicação que é para melhorar a minha vida interior; que não tenha mais apreço pelo meu critério pessoal – que não pode ser certeiro, porque ninguém é bom juiz em causa própria – do que pelo juízo dos diretores; que não me incomode a indicação carinhosa dos meus irmãos, quando me ajudam com a correção fraterna.
Vou terminar, minhas filhas e meus filhos, trazendo à vossa consideração aquele texto da Escritura Santa que põe na nossa boca doçuras de mel e de favo. «Elegit nos in ipso ante mundi constitutionem, ut essemus sancti et immaculati in conspectu eius»7: o Senhor escolheu-nos, a cada um de nós, para sermos santos na sua presença; e fê-lo antes da criação do mundo, desde toda a eternidade: é assim a maravilhosa providência do nosso Pai Deus. Se corresponderdes, se lutardes, tereis uma vida feliz, também na Terra, com momentos de escuridão, certamente, com momentos de sofrimento, que, no entanto, não deveis exagerar, porque passam assim que abrimos o coração. Dizei-me: não é verdade que, quando contais o que vos causa preocupação ou vergonha, ficais tranquilos, serenos, alegres?
Além disso, desta maneira, nunca estamos sós. «Væ solis»8: ai daquele que está só!, diz a Escritura Santa. Nós nunca estamos sós, em nenhuma circunstância. Em qualquer lugar da Terra, os nossos irmãos acolhem-nos com carinho, escutam-nos e compreendem-nos; o Senhor e sua Mãe Santíssima acompanham-nos sempre; e, na nossa alma em graça, habita, como num templo, o Espírito Santo: Deus connosco.
Sl 42, 3.
Mt 4, 19: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens».
Gal 2, 20.
Mt 12, 36.
Lc 5, 4-5.
Lc 5, 5.
Lc 5, 5.
Jer 18, 6.
Lc 5, 8.
Lc 5, 10.
Jer 16, 16.
Todos, com Pedro, a Jesus, por Maria.
Missal Romano, IV Domingo da Quaresma, antífona de entrada (Is 66, 10): «Alegra-te, Jerusalém».
Ibid.
1Tess 4, 7.
Sl 42, 2.
Is 43, 1.
Ef 1, 4.
Jo 15, 16.
Breviário, XXIV Domingo após o Pentecostes.
Col 1, 9.
Col 1, 10-13.
Documento impresso de https://escriva.org/pt-br/book-subject/en-dialogo-con-el-se%C3%B1or/28742/ (17/11/2025)