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Como um luzeiro
Nunca vacileis! Digo a cada um de vós – e não conheço os vossos problemas pessoais, mas as almas têm um paralelismo tremendo, ainda que sejam diferentes – que tendes vocação divina, que Cristo Jesus vos chamou desde a eternidade. Não só vos apontou com o dedo, como vos beijou na fronte. Por isso, para mim, a vossa cabeça brilha como um luzeiro.
Isto do luzeiro também tem a sua história... São es- 118 sas grandes estrelas que cintilam durante a noite, lá em cima, nas alturas, no céu azulado e escuro, como grandes diamantes de um fulgor fabuloso. E a vossa vocação é igualmente clara; a de cada um de vós e a minha. Eu, que sou muito miserável e ofendi muito a Nosso Senhor, que não soube corresponder e fui um cobarde, tenho de agradecer a Deus por nunca ter duvidado da minha vocação, nem da divindade da minha vocação. Vós também não deveis duvidar. Senão, não estaríeis aqui. Agradecei-o ao Senhor.
Quando passarem os anos, e eu já tiver ido prestar contas a Deus – «da mihi rationem villicationis tuæ»7: presta-me contas da tua administração… Era muito jovem quando escrevi – e repeti-lo-ei agora, com sabor de mel – que Jesus não será meu juiz, nem vosso; será Jesus, um Deus que perdoa.
Esta casa é um dos muitos pontos de ignição que acendereis no mundo. Vedes como nascem, contribuís trabalhando umas tantas horas, como os outros operários. Foi assim que fizemos sempre. Neste momento, invoco o Chiqui – que hoje celebrava o seu onomástico – para que se associe aos outros que já estão na casa do Céu; o Senhor gostará de que o tenha presente.
Naquele tempo, tínhamos muito poucos móveis. Tínhamos roupa, que uns grandes armazéns me tinham vendido a crédito, para pagar quando pudesse, mas não tínhamos armários para a guardar. Por isso, estendemos uns jornais no chão, com muito cuidado, e pusemos a roupa em cima; era uma quantidade imensa – na altura, parecia-me uma quantidade imensa, hoje parecer-me-ia pouquíssima – e pusemos mais papéis por cima, para a proteger do pó. As circunstâncias mudaram um pouco, não foi? Agora podeis mais, contais com mais recursos.
Trouxe uma caldeirinha com água benta e um hissope da Reitoria de Santa Isabel. A minha irmã Carmen tinha-me feito um roquete esplêndido, com um grande encaixe em renda, feita por ela com bilros. Também trouxe de Santa Isabel uma estola e o ritual, e fui benzendo a casa vazia, com grande solenidade e alegria, com uma segurança!... O nosso maior sonho era instalar o oratório, coisa que agora vos parece tão fácil, não é verdade, meus filhos? E é fácil porque conseguimos, há muitos anos, ter juridicamente o direito de instalar oratórios semipúblicos com Nosso Senhor reservado. Mas naquele tempo não tínhamos direito a nada.
Era necessário colocar sobre o sacrário uma espécie de baldaquino – fizemo-lo de madeira – forrado com tecido, porque a Igreja ordena que o sacrário seja coberto quando está instalado nujm local por cima do qual mora gente. O pobre Chiqui chegou em boa altura. Eu, que não o conhecia, disse-lhe: ótimo, Chiqui, muito bem! Toma, pega neste martelo e nuns pregos, e vai ali pregar isto... Foi por aí que ele começou. O Chiqui era um menino bem, tal como D. Álvaro.
Meus filhos, como vedes recorremos a meios divinos; meios que, para as pessoas da Terra, não são proporcionais. Percebo agora que assim foi; mas, naquela altura, não me apercebia de que era o Espírito Santo quem nos levava e nos trazia. Nunca estamos sós; temos um Mestre e um Amigo.
Bom, vamos dar a bênção. Álvaro, ajuda-me.
Documento impresso de https://escriva.org/pt-br/en-dialogo-con-el-se%C3%B1or/118/ (18/11/2025)