18

São horas de trabalhar!

Sabemos muito bem o que hoje nos diz São Paulo: «Fratres, scientes quia hora est iam de somno surgere»9. São horas de trabalhar! De trabalhar por dentro, na edificação da nossa alma; e por fora, na edificação do Reino de Deus. E a contrição vem novamente aos nossos lábios: Senhor, peço-te perdão pela minha vida má, pela minha vida tíbia; peço-te perdão pelo meu trabalho mal feito; peço-te perdão porque não soube amar-Te, e por isso não soube estar atento a Ti. Um olhar depreciativo de um filho a sua mãe causa-lhe uma dor imensa; se for um estranho, não a incomoda especialmente. Eu sou teu filho: mea culpa, mea culpa!...

«Sabei que são horas de acordar do sono». Com que sentido sobrenatural vemos as coisas? Esse sentido não se nota por fora, mas manifesta-se nas ações, às vezes até pelo olhar. Deves olhar muito para dentro de ti. Não é verdade que houve algum sono na tua vida? Alguma superficialidade? Pensa como facilitamos, cumprindo sem demasiado amor. Cumprir!

«Nox praecessit, dies autem appropinquavit; abiiciamus ergo opera tenebrarum, et induamur arma lucis»10: rejeitemos, pois, as obras das trevas, e revistamo-nos das armas da luz. O apóstolo tem muita força! «Sicut in die honeste ambulemus»11. Devemos caminhar pela vida como apóstolos, com luz de Deus, com sal de Deus. Com naturalidade, mas com tal vida interior, com tal espírito do Opus Dei, que demos luz, que evitemos a corrupção que existe ao nosso redor, que levemos como fruto a serenidade e a alegria. E, no meio das lágrimas – porque às vezes se chora, mas não faz mal –, a alegria e a paz, o gaudium cum pace.

Sal, fogo, luz; pelas almas, pela tua e pela minha. Um ato de amor, de contrição. Mea culpa... Eu podia, eu devia ter sido instrumento... Dou-te graças, meu Deus, porque, apesar de tudo, me deste uma grande fé, e a graça da vocação, e a graça da perseverança. Por isso, a Igreja põe nos nossos lábios, na Santa Missa: «Dominus dabit benignitatem, et terra nostra dabit fructum suum»12. Essa bênção de Deus é a origem dos frutos bons, daquele clima que é necessário para que, na nossa vida, possamos tornar-nos santos e cultivar santos, filhos seus.

«Dominus dabit benignitatem...». Nosso Senhor espera fruto. Se não o dermos, estaremos a tirar-Lho. Mas não quer um fruto raquítico, desmedrado, por não termos sido generosos. O Senhor dá a água, a chuva, o sol, essa terra... Mas espera a sementeira, o transplante, a poda; espera que guardemos os frutos com amor, evitando, se for preciso, que venham os pássaros do céu e os comam.

Vamos terminar, recorrendo à nossa Mãe, para que nos ajude a cumprir os propósitos que fizemos.

Notas
9

Missal Romano, I Domingo do Advento, leitura (Rom 13, 11):

«Irmãos, sabeis que são horas de acordar do sono».

10

Ibid. (Rom 13, 12): «A noite vai passando e aproxima-se o dia; rejeitemos, pois, as obras das trevas, e revistamo-nos das armas da luz».

11

Ibid. (Rom 13, 13): «Como quem anda de dia, andemos decentemente».

12

Missal Romano, I Domingo do Advento, antífona da comunhão (Sl 84, 13): «O Senhor nos dará a sua bênção e a nossa terra dará muito fruto».

Referências da Sagrada Escritura
Este ponto em outro idioma