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Como um preconceito psicológico
Depois de eu morrer, podereis quebrar o silêncio que guardo há muito tempo, e gritar, gritar; eu tive de me calar durante anos e anos. Entre os meus papéis, encontrareis muitas exortações à prudência, ao silêncio, a vencer as dificuldades com a oração e a mortificação, com a humildade, com o trabalho e os atos, e não apenas com a língua. Havia uma coisa que me impedia de falar, que me levava a calar-me, e que se relaciona com todo este preâmbulo que estou a fazer. Eu tinha – não é uma coisa minha, é uma graça de Deus Nosso Senhor – a psicologia da pessoa que nunca se sente só, nem humana nem sobrenaturalmente. Tinha um grande compromisso divino e humano. E gostaria que participásseis deste grande compromisso, que persiste e persistirá sempre.
Nunca me senti só. Isso permitiu-me calar-me, perante coisas objetivamente intoleráveis. Poderia ter causado um belo escândalo! Era muito fácil, muito fácil... Mas não, preferi calar-me, preferi ser eu, pessoalmente, o escândalo, porque pensei nos outros.
Não temos outro remédio senão contar com esse – chamemos-lhe assim – preconceito psicológico de pensar habitualmente nos outros, ter este ponto de vista determinado, próprio, exclusivamente nosso. Gostaria que pen-
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sásseis nisto quando vos dispersardes por todas as regiões. Nunca vos assusteis com a imprudência das pessoas; mas nós, os que temos a missão de velar pelos outros, não podemos permitir-nos esse luxo; pelo contrário, temos de nos conceder o luxo da prudência, da serenidade, da caridade que não exclui ninguém.
Documento impresso de https://escriva.org/pt-br/en-dialogo-con-el-se%C3%B1or/30/ (17/11/2025)