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Uma escolha divina

Foi assim que Deus quis que nascesse a nossa Obra, filhos da minha alma. Foi assim que germinou o espírito do Opus Dei: considerando a vossa pequenez e a minha, e a grandeza dele; pensando que nós não somos nada, e Ele é tudo; que nós não sabemos nada, e Ele é a sabedoria; que nós somos fracos, e Ele é a fortaleza: «quia Tu es, Deus, fortitudo mea!»19.

Uma vez por outra, será conveniente que mediteis com calma naquelas palavras divinas que enchem a alma de temor e deixam nela sabores de favo e de mel: «Redemi te, et vocavi te nomine tuo, meus es tu!»20: redimi-te e chamei-te pelo teu nome, tu és meu! Não roubemos a Deus o que é seu. Um Deus que nos amou a ponto de dar a vida por nós, e que «elegit nos in Ipso ante mundi constitutionem, ut essemus sancti et immaculati in conspectu eius»21: nos escolheu desde toda a eternidade, antes da criação do mundo, para que estivéssemos sempre na sua presença, e nos oferece continuamente ocasiões de santidade e de entrega.

Para o caso de ficarmos com alguma dúvida, temos outras palavras suas: «Non vos Me elegistis»: não fostes vós que Me escolhestes, «sed Ego elegi vos, et posui vos, ut eatis»: mas fui Eu que vos escolhi, para que vades longe, pelo mundo fora, «et fructum afferatis»: e deis fruto, e já estais a dar!, «et fructus vester maneat»22: e será abundante o fruto do vosso trabalho de almas contemplativas. Portanto, fé, meus filhos, fé sobrenatural!

Ontem, comovi-me ao ouvir falar de um catecúmeno japonês que ensinava o catecismo a outros, que ainda não conheciam Cristo. E envergonhei-me. Precisamos de mais fé, mais fé! E, com a fé, a contemplação, mais atividade apostólica. Vede o que se lê hoje no breviário: «Adversarius elevandus sit contra omne quod dicitur Deus et colitur; ita ut audeat stare in templo Dei, et ostendere quod ipse sit Deus»23: o adversário levantar-se-á contra tudo o que se diz Deus e é adorado, a ponto de se atrever a estar no Templo de Deus e a mostrar-se a si mesmo como se fosse Deus. De dentro, querem destruir a fé do povo! De dentro, tentam opor-se a Deus!

Terminarei dizendo com São Paulo aos Colossenses: «Non cessamus pro vobis orantes…: não cessamos de orar por vós e de pedir a Deus que alcanceis o pleno conhecimento da sua vontade, com toda a sabedoria e inteligência espiritual»24. Contemplativos, com os dons do Espírito Santo, «ut ambuletis digne Deo per omnia placentes...: a fim de que tenhais um comportamento digno de Deus, agradando-Lhe em tudo, produzindo frutos com toda a espécie de boas obras e progredindo na ciência de Deus, ajudados em toda a sorte de fortaleza pelo poder da sua graça, para ter sempre uma perfeita paciência e longanimidade, acompanhada de alegria; dando graças a Deus Pai, que nos tornou dignos de participarmos da sorte dos santos, iluminando-nos com a sua luz, que nos arrebatou do poder das trevas e nos transferiu para o Reino de seu Filho muito amado»25.

Que a Mãe de Deus e nossa Mãe nos proteja, a fim de que cada um de vós e cada um dos vossos irmãos e das vossas irmãs, a Obra inteira, possa servir a Igreja na plenitude da fé, com os dons do Espírito Santo e com a vida contemplativa. Que, cada um no seu estado e no cumprimento dos deveres que lhe são próprios, cada um no seu ofício e profissão, e no cumprimento dos deveres do seu ofício e profissão, sirva alegremente a Esposa de Cristo no lugar onde o Senhor o colocou, sabendo aperceber-se das manhas dos que tentam enganar as almas com teorias falsas, muitas vezes difíceis de desmascarar. São pessoas que se apresentam como teólogos, mas que não o são; que apenas têm a técnica de falar de Deus, mas não O confessam com a boca, nem com o coração, nem com a vida.

Notas
19

Sl 42, 2.

20

Is 43, 1.

21

Ef 1, 4.

22

Jo 15, 16.

23

Breviário, XXIV Domingo após o Pentecostes.

24

Col 1, 9.

25

Col 1, 10-13.

Referências da Sagrada Escritura
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