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Otimismo sobrenatural
«De profundis... Das profundezas te invoco, Javé! Ouve, Senhor, a minha voz; estejam atentos os teus ouvidos ao clamor das minhas súplicas. Se olhares, Senhor, para os nossos pecados, quem poderá subsistir?»23. Peçamos a Deus que se estanque esta sangria na sua Igreja, que as águas voltem ao seu leito. Dizei-Lhe que não tenha em conta as loucuras dos homens, e que mostre a sua indulgência e o seu poder.
Não nos podemos deixar vencer pela tristeza. Somos otimistas, também porque o espírito do Opus Dei é de otimismo. Mas não estamos na lua; estamos na realidade, e a realidade é amarga.
Todas estas traições à Pessoa, à doutrina e aos sacramentos de Cristo, bem como a sua Mãe puríssima, parecem uma vingança; a vingança de um espírito miserável contra o amor de Deus, contra o seu amor generoso, contra a entrega de Jesus Cristo, desse Deus que Se aniquilou, fazendo-Se homem; que Se deixou pregar com ferros ao madeiro, ainda que não necessitasse de pregos porque lhe bastava – para estar fixo e suspenso da cruz – o amor que nos tinha; e que ficou entre nós no sacramento do altar.
Luz com escuridão, assim Lhe temos pagado. Generosidade com egoísmos, assim Lhe temos pagado. Amor com frieza e desprezo, assim Lhe temos pagado. Minhas filhas e meus filhos, não tenhais vergonha conhecer a nossa constante miséria. Mas peçamos perdão: «Perdoa, Senhor, o teu povo, e não abandones a tua herança ao opróbrio, entregando-a ao domínio das nações»24.
Todos os dias me apercebo mais destas realidades, e cada dia procuro mais a intimidade de Deus, na reparação e no desagravo. Ponhamos diante dele o número de almas que se perdem, e que não se perderiam se não tivessem sido colocadas em ocasião; de almas que abandonaram a fé, porque hoje se pode fazer propaganda impune de todo o tipo de falsidades e heresias; de almas que foram escandalizadas por tanta apostasia e por tanta maldade; de almas que se viram privadas da ajuda dos sacramentos e da boa doutrina.
Nas visitas que recebo, são muitos os que se queixam, os que sentem a tragédia e a impossibilidade de tomar providências humanas para remediar o mal. Eu digo a todos: reza, reza, reza e faz penitência. Não posso aconselhá-los a desobedecer, mas posso pedir-lhes a resistência passiva de não colaborarem com os que destroem, de lhes porem dificuldades, de se defenderem pessoalmente. E, melhor ainda, a resistência ativa de cuidarem da vida interior, que é a fonte do desagravo e do clamor.
Tu, Senhor, disseste-nos que devíamos clamar: «Clama, ne cesses!»25. Temos cumprido os teus desejos em todo o mundo, pedindo-Te perdão, porque, no meio das nossas misérias, Tu nos deste fé e amor. «A Ti levanto os meus olhos, a Ti que habitas nos Céus. Como os olhos do servo estão atentos às mãos do seu senhor, e os olhos da escrava às mãos da sua senhora, assim se levantam os nossos olhos para Javé, nosso Deus, até que Se compadeça de nós»26.
Por intercessão de Santa Maria e do Santo Patriarca São José, pedi ao Senhor que nos aumente o espírito de reparação; que tenhamos dor dos nossos pecados, que saibamos recorrer ao sacramento da penitência. Meus filhos, escutai o vosso Padre: não há melhor ato de arrependimento e desagravo que uma boa confissão. Aí, recebemos a fortaleza de que precisamos para lutar, apesar dos nossos pobres pés de barro. «Non est opus valentibus medicus, sed male habentibus»27: o médico não é para os sãos, mas para os que estão doentes.
Documento impresso de https://escriva.org/pt-br/en-dialogo-con-el-se%C3%B1or/86/ (15/11/2025)