99
Longe dos muros da fortaleza
Sabeis o que eu costumo fazer? O que faz um bom general: travo a luta na vanguarda, longe da fortaleza, em pequenas frentes, aqui e acolá. Tenho uma grande devoção a receber a bênção dos outros sacerdotes, e faço dessas bênçãos como que uma muralha que me protege.
Também eu tenho de lutar, e procuro fazê-lo onde me convém: longe, nas coisas que em si não têm muita importância, que nem sequer chegam a ser faltas se não se cumprirem. Cada um deve sustentar a sua peleja pessoal na frente que lhe compete, mas com santa esperteza.
Enquanto estivermos na certeza da fé completa de Cristo e lutarmos, o Senhor dar-nos-á abundantemente a sua graça e continuará a abençoar-nos; com sofrimentos – que tem de haver sempre, mas não os exagereis, porque em geral são pequenos –, com abundantes vocações em todo o mundo, e com o florescer de obras e atividades apostólicas que exigem muito trabalho e muito espírito de sacrifício. Isto sem contar com o aspeto mais bonito da nossa tarefa, que é aquilo que fazem – cada um por sua conta, espontaneamente – as minhas filhas e os meus filhos, cada um no lugar onde está. Porque os filhos de Deus no seu Opus Dei são luz e fogo, e, muitas vezes, labareda. São algo que queima, são levedura que faz fermentar tudo o que têm ao seu redor.
Não nos enchamos de orgulho nem de arrogância, ainda que o contraste com outras pessoas seja evidente. Vamos agradecer tudo ao Senhor, sabendo que nada disso é nosso. É Deus que no-lo dá porque quer, e também nos envia a sua graça, claro resplendor, para lutarmos. E lutemos de tal maneira que, no meio das nossas misérias, imperfeições e erros pessoais, não saiamos do caminho, nunca quebremos o vaso que o Espírito Santo, com a sua misericórdia, quis encher de sabedoria e de bem.
Para terminar, desejo que isto fique bem gravado em vós: uma grande devoção ao Espírito Santo, «espírito de sabedoria e de inteligência, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de ciência e de piedade..., espírito de temor de Deus»11. E, com essa devoção, a convicção de que – se formos dóceis – seremos seus instrumentos. Não com a docilidade de uma coisa inerte, mas com a docilidade da cabeça e do raciocínio, que sabe submeter a sua irmã, a sensibilidade, para a pôr ao serviço de Deus. Assim, estes nossos dois irmãos terão a mesma herança: ser filhos de Deus já na Terra, e gozar do amor no Céu. O nosso coração nunca será um vaso quebrado, e o licor divino da sabedoria embriagar-nos-á em toda a nossa vida: «porque à luz sucede a noite, mas a maldade não triunfa da sabedoria»14.
Documento impresso de https://escriva.org/pt-br/en-dialogo-con-el-se%C3%B1or/99/ (15/10/2025)