A oração dos filhos de Deus
Introdução
«Convém orar sempre, sem desfalecer» . A oração, meus filhos, é o fundamento de todo o trabalho sobrenatural.
Olhai para Jesus Cristo, que é o nosso modelo. Que faz Ele nas grandes ocasiões? Que nos diz dele o Santo Evangelho? Antes de iniciar a sua vida pública, retira-Se para o deserto durante «quarenta dias e quarenta noites»3, para rezar. Depois, quando Se prepara para escolher definitivamente os primeiros Doze, conta São Lucas que «passou toda a noite a fazer oração a Deus» . E, diante do sepulcro já aberto de Lázaro, levantando os olhos ao céu, disse: «Pai, dou-Te graças porque me tens ouvido» . E que faz na intimidade da Última Ceia, na angústia de Getsemani, na solidão da cruz? Com os braços abertos, fala com o Pai.
Diálogo de amor
Tu viveste bem as primeiras noções que aprendeste sobre a oração, quando começaste a receber a direção espiritual que se dá no nosso Opus Dei. Depois, foste ouvindo aos teus irmãos muitos conselhos maravilhosos, que procuraste pôr em prática. E agora, depois de teres passado estes anos – muitos ou poucos – a trabalhar pelo Senhor, o Padre volta a insistir-te na oração. Porquê? Porque, para ser santo, filho, é preciso rezar; não tenho outra receita para alcançar a santidade.
Se ainda não o experimentaste, verás que, cumprindo as normas, sem te aperceberes, de manhã até à noite e da noite até de manhã, estarás a fazer oração: atos de amor, atos de desagravo, ações de graças; com o coração, com a boca, com as pequenas mortificações que inflamam a alma.
Não são coisas que se possam considerar ninharias; são oração constante, diálogo de amor. Uma prática que não criará em ti nenhuma deformação psicológica, porque, para um cristão, deve ser algo tão natural e espontâneo como o bater do coração.
Quando tudo isso sai com facilidade: obrigado, meu Deus! Quando chega um momento difícil: Senhor, não me abandones! E esse Deus, «manso e humilde de coração» , não te há de dizer que não.
Eu quero que toda a nossa vida seja oração: perante o que é agradável e o que é desagradável, perante o consolo... e perante o desconsolo de perder uma vida querida. Antes de qualquer outra coisa, imediatamente, a conversa com o teu Pai Deus, procurando o Senhor no centro da tua alma.
Para isso, filho, deves ter uma disposição clara, habitual e atual, de aversão ao pecado. Varonilmente, deves ter horror, um horror forte, ao pecado grave. E também a atitude, profundamente enraizada, de abominar o pecado venial deliberado.
Deus preside à nossa oração, e tu, meu filho, conversas com Ele como se conversa com um irmão, com um amigo, com um pai: cheio de confiança. Diz-lhe: Senhor, Tu que és toda a grandeza, toda a bondade, toda a misericórdia, sei que Tu me ouves! Por isso me enamoro de Ti, com a rudeza das minhas maneiras, das minhas pobres mãos envelhecidas pelo pó do caminho. Deste modo, a abnegação é gostosa, o que talvez humilhasse é alegre, e a vida de entrega é feliz. Sabemo-nos tão perto de Deus! Por isso, aconteça o que acontecer, estou firme, estou seguro contigo, que és a rocha e a fortaleza .
Padre – dizes-me como que ao ouvido –, mas isso que nos diz, por um lado é muito sabido, e por outro parece tão árduo... E repito-te que tens de ser alma de oração. Só assim poderás ser feliz, ainda que te ignorem, ainda que encontres grandes dificuldades no caminho.
Para sermos felizes
O Senhor quer que sejas feliz na Terra. Também quando talvez te maltratarem e te desonrarem. Muita gente a fazer alvoroço; está na moda cuspir para cima de ti, que és «omnium peripsema» : como lixo...
Isso, filho, custa; custa muito; é duro. Até que – por fim – um homem se aproxima do sacrário e, vendo-se considerado a maior porcaria do mundo, um pobre verme, diz com sinceridade: Senhor, se Tu não precisas da minha honra, para que a quero eu? Até então, o filho de Deus não sabe o que é ser feliz – até chegar a essa nudez, a essa entrega, que é de amor, mas alicerçada na dor e na penitência.
Gostaria que o que estou a dizer-te, meu filho, não passasse como uma trovoada de verão: quatro gotas grandes, seguidas do sol e, momentos depois, novamente a secura. Não. Esta água tem de penetrar na tua alma, de formar remanso, eficácia divina. Mas só o conseguirás se não me deixares – a mim, que sou teu Padre – fazer esta oração sozinho. Este tempo de conversa que fazemos juntos, pegadinhos ao sacrário, deixará em ti uma marca fecunda se, enquanto eu falo, tu também falares no teu interior. Enquanto eu procuro desenvolver um pensamento comum, que faça bem a cada um de vós, tu, paralelamente, vais formulando outros pensamentos mais íntimos, pessoais. Por um lado, enches-te de vergonha, porque não soubeste ser plenamente homem de Deus; por outro, enches-te de agradecimento, porque, apesar de tudo, foste escolhido com vocação divina e sabes que nunca te faltará a graça do Céu. Deus concedeu-te o dom do chamamento, escolhendo-te desde a eternidade, e fez ressoar nos teus ouvidos aquelas palavras que a mim me sabem a mel e favo: «Redemi te, et vocavi te nomine tuo, meus es tu!» . És dele, do Senhor. Se Ele te deu esta graça, conceder-te-á também toda a ajuda de que venhas a precisar para ser fiel como seu filho no Opus Dei.
Com a tua lealdade, meu filho, procurarás melhorar cada dia, e serás um modelo vivo do homem do Opus Dei. Assim o desejo, assim o creio, assim o espero. Depois de teres ouvido o Padre falar deste nosso espírito de almas contemplativas, vais esforçar-te por sê-lo realmente. Pede-o agora a Jesus: Senhor, mete estas verdades na minha vida, não só na minha cabeça, mas na realidade do meu modo de ser! Se assim fizeres, filho, garanto-te que pouparás muitas penas e desgostos.
Quantas tolices, quantas contrariedades desaparecem imediatamente, quando nos aproximamos de Deus na oração! Vamos falar com Jesus, que nos pergunta: que se passa contigo? Comigo..., e imediatamente, luz. Percebemos muitas vezes que somos nós que criamos as dificuldades. Julgas que tens um valor excecional, qualidades extraordinárias, e, quando os outros não o reconhecem, sentes-te humilhado, ofendido... Recorre imediatamente à oração: Senhor!... E retifica. Nunca é tarde para retificar, mas retifica agora mesmo. Saberás então o que é ser feliz, mesmo que notes ainda nas asas o barro a secar, como uma ave que caiu por terra. Com a mortificação e a penitência, com o empenho em te mortificares para tornares mais agradável a vida dos teus irmãos, esse barro cairá e – perdoa a comparação que me veio à cabeça – as tuas asas serão como as de um anjo, limpas, brilhantes, e... toca a subir!
Vais fazendo os teus propósitos concretos, não é verdade, meu filho? Não é certo que, na conversa fraterna e na confissão, vividas com o sentido sobrenatural que vos ensinam, te irás vendo tal como és diante de Deus, com humildade? Nunca deixes de falar, na direção espiritual, da tua vida de oração, da presença de Deus, do teu espírito contemplativo.
Sal, luz e levedura
Filhos da minha alma, quero levar-vos por um caminho maravilhoso, por uma vida de amor e de aventura sobrenatural, pela qual o Senhor me conduziu; uma vida de felicidade, com sacrifício, com dor, com abnegação, com entrega, com esquecimento próprio.
«Si quis vult post me venire... Se alguém quiser vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz de cada dia e siga-Me» . Todos ouvimos estas palavras e é por isso estamos aqui. Também ouvimos outras: «Não fostes vós que Me escolhestes, fui Eu que vos escolhi» . O chamamento divino tem uma finalidade muito concreta: meter-te em todas as encruzilhadas da Terra, estando tu bem metido em Deus. Seres sal, seres levedura, seres luz do mundo. Sim, meu filho: tu em Deus, para iluminares, para dares sabor, para fazeres crescer, para seres fermento.
Mas a luz será trevas se tu não fores contemplativo, alma de oração contínua. O sal perderá o seu sabor, só servirá para ser pisado por toda a gente, se tu não estiveres metido em Deus. A levedura apodrecerá e perderá a sua virtude de fermentar toda a massa se tu não fores alma verdadeiramente contemplativa.
Reza orações vocais, as que fazem parte do nosso plano de vida de piedade. Depois, dirige-te a Deus com orações vocais tuas, pessoais, as que mais devoção te derem. Não fiques só naquilo que todos temos o dever e a alegria de cumprir; acrescenta o que a tua iniciativa e a tua generosidade te ditarem. Finalmente, não esqueças a oração mental contínua. Procura dialogar com Deus, no centro da tua alma, com toda a confiança e sinceridade.
Filho, penso que já te disse tudo o que tinha para te dizer. Resta agora que te decidas, de verdade, a ser uma alma entregue, enamorada, em trato constante com Deus.
Então, sim, estou seguro da tua fidelidade.
Termino, pois, com três citações da Escritura:
«Oportet semper orare et non deficere» : é preciso rezar sempre, sem cessar.
«Erat pernoctans in oratione Dei» : Cristo passava a noite em conversa com Deus.
«Erant autem perseverantes in doctrina apostolorum, et communicatione fractionis panis, et orationibus»16: os primeiros cristãos perseveravam todos nos ensinamentos dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e na oração.
O único caminho para sermos santos
Contemplai agora sua Mãe bendita: que exemplo nos deixou? Quando o arcanjo lhe vai comunicar a divina embaixada, encontra-a recolhida em oração. E os primeiros cristãos? Os Atos dos Apóstolos transmitiram-nos uma cena que me encanta, porque é um exemplo vivo para nós; por isso a mandei gravar em tantos oratórios e noutros lugares: «Perseveravam todos nos ensinamentos dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e na oração»6.
Que fizeram, meu filho, todos os santos? Penso que não houve um único sem oração; nenhum chegou aos altares sem ter sido alma de oração.
Há muitas maneiras de orar. Eu quero para vós a oração dos filhos de Deus; não a oração dos hipócritas, que ouvirão de Jesus que «nem todo o que diz: “Senhor, Senhor” entrará no Reino dos Céus»7. Nós fazemos a vontade de seu Pai, depois de Lhe termos dedicado a nossa vida. A nossa oração, o nosso clamar: «Senhor, Senhor», está unido ao desejo eficaz de cumprir a vontade de Deus. Esse clamor manifesta-se de mil formas diversas; isso é oração, e é isso que eu quero para vós.
Filho da minha alma! Se tu, nestes dias de retiro, pensares devagar no que te dizem os teus irmãos sacerdotes que dirigem as meditações; se fizeres um exame sério, definitivo, da tua vida passada; se concluíres com o propósito, firme!, de procurar viver em oração, de procurar a conversa amorosa com o Amor eterno, asseguro-te de que chegarás a ser o que o Senhor deseja de ti: uma alma que dá consolo e que é eficaz no apostolado.
Documento impresso de https://escriva.org/pt-br/en-dialogo-con-el-se%C3%B1or/a-oracao-dos-filhos-de-deus/ (15/11/2025)