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Tenho-vos recordado muitas vezes aquela cena comovente, relatada pelo Evangelho, em que Jesus se acha na barca de Pedro, de onde falou à multidão. Essa multidão que o seguia abrasou a ânsia de almas que consome o seu coração, e o Divino Mestre quer que os seus discípulos participem já desse zelo. Depois de lhes dizer que se lancem mar adentro - duc in altum! -, sugere a Pedro que lance as redes para pescar.
Não me vou deter agora nos pormenores, tão instrutivos, desses momentos. Desejo que consideremos a reação do Príncipe dos Apóstolos, à vista do milagre: Afasta-te de mim, Senhor, que sou um homem pecador. Uma verdade - não tenho a menor dúvida - que se ajusta perfeitamente à situação pessoal de todos. No entanto, asseguro-vos que, ao tropeçar durante a minha vida com tantos prodígios da graça, operados através de mãos humanas, me senti inclinado, de dia para dia mais inclinado, a gritar: Senhor, não te afastes de mim, pois sem ti não posso fazer nada de bom.
Precisamente por isso, compreendo muito bem aquelas palavras do Bispo de Hipona, que soam como um maravilhoso cântico à liberdade: Deus, que te criou sem ti, não te salvará sem ti, porque todos nós, tu e eu, temos sempre a possibilidade - a triste desventura - de levantar-nos contra Deus, de rejeitá-lo - talvez com a nossa conduta - ou de exclamar: Não queremos que ele reine sobre nós.
Documento impresso de https://escriva.org/pt-br/amigos-de-dios/23/ (09/12/2024)