Lista de pontos
Vivendo em amizade com Deus – a primeira que devemos cultivar e acrescentar –, sabereis fazer muitos e verdadeiros amigos109: o labor que o Senhor fez e faz continuamente conosco, para nos manter nessa amizade com Ele, é o mesmo labor que quer fazer com muitas outras almas, servindo-se de nós como instrumentos.
Já vos disse, meus filhos, que acredito na amizade humana: amico fideli, nulla est comparatio110, nada é comparável ao amigo fiel. A amizade é um tesouro que devemos estimar pelo seu grande valor humano e aproveitar como meio para levar almas a Deus.
Posso dizer-vos que me sinto amigo de todo o mundo, como também vós deveis sentir-vos, porque buscamos o bem de todas as almas sem exceção. Mesmo que um homem esteja muito afastado do Senhor, mesmo que manifeste muito a sua inimizade, devemos pensar com Santo Agostinho que não devemos desesperar da sua conversão, porque mesmo entre os que são abertamente adversários se ocultam amigos predestinados, embora nem eles o saibam111.
O amigo verdadeiro não pode ter duas caras para o seu amigo: a amizade, se há de ser leal e sincera – vir duplex animo inconstans est in omnibus viis suis112; o homem falso, de ânimo duplo, é inconstante em tudo –, exige renúncias, retidão, troca de favores, de serviços nobres e lícitos. O amigo é forte e sincero na medida em que, de acordo com a prudência sobrenatural, pensa generosamente nos outros, com sacrifício pessoal.
Espera-se do amigo a correspondência ao clima de confiança que se estabelece com a verdadeira amizade; espera-se o reconhecimento do que somos e, quando necessária, também uma defesa clara e sem paliativos: porque, como há pouco tempo li num texto castelhano, quando o amigo defende ou louva com tibieza, é testemunha maior de toda exceção, confessando simplesmente que não encontra aspectos para louvar nem razão para defender: porque, se houvesse, quem qual um amigo as defenderia e celebraria?
Podem me dizer: os amigos, por vezes, atraiçoam. No entanto, agindo sempre com retidão de intenção, com sentido sobrenatural, não vos podem preocupar nem desanimar as possíveis surpresas, nem essas exceções devem impedir o vosso desejo eficaz de ter uma nobre inclinação limpa e afetuosa para com todos.
24Compreendereis melhor a obra de São Rafael se a considerais com independência do trabalho de proselitismo, embora, na realidade, a obra de São Rafael e o proselitismo caminhem sempre unidos. Mas não podemos dizer que com um rapaz ou uma moça se faz labor de São Rafael e, com outros, proselitismo; porque com todos fazemos labor de proselitismo, sejam ou não de São Rafael: alguns receberão a graça da vocação e outros, não.
Se fixamos a nossa atenção naqueles que tratamos como simples amigos ou amigas da obra de São Rafael, iremos descobrindo a maneira de desenvolver com naturalidade o nosso apostolado com eles: o que devemos ensinar-lhes, o que esperamos deles e o que eles esperam de nós, o que Deus lhes pede.
O proselitismo para a obra de São Rafael começa, pois, pela amizade, pelo trato humano ou profissional com um dos meus filhos ou com uma das minhas filhas. Amizade e trato que os de Casa sobrenaturalizam desde o primeiro momento, porque é um labor de apostolado; mas, exteriormente, os rapazes que participam não o veem já no primeiro dia, embora depois venham a compreender e assimilar sem necessidade de nenhuma declaração expressa.
Essa amizade, essa relação com um de vós, amplia-se depois, por um lado, com o afeto, com a simpatia e pela frequência com que a pessoa em questão vai a uma casa do Opus Dei, à qual começou a ir e aprendeu que devia considerar como própria; tudo isto, claro está, une-se depois a uma amizade com os que conhece e trata naquele lar nosso.
E, por outro lado, porque na gente de São Rafael nasce uma aceitação, uma adesão ao espírito do Opus Dei; e um carinho, um querer de verdade a Obra – que também começam a considerar como própria –, com a qual vão-se identificando aos poucos.
Documento impresso de https://escriva.org/pt-br/book-subject/cartas-2/28379/ (19/11/2025)