8
Por outro lado, não vos deixeis enganar quando não se trata do conjunto da nossa religião, caso pretendam fazer-vos transigir em algum aspecto que se refira à fé ou à moral. As diversas partes que compõem uma doutrina — tanto a teoria como a prática — costumam estar intimamente ligadas, unidas e dependentes umas das outras, em maior proporção quanto mais vivo e autêntico for o conjunto.
Só o que é artificial poderia desagregar-se sem prejudicar o todo — o qual, talvez, sempre tenha carecido de vitalidade —, e também só o que é um produto humano costuma carecer de unidade. Nossa fé é divina, é una — como Deus é Uno —, e este fato traz como consequência que, ou se defendem todos os seus pontos com firme coerência, ou será preciso renunciar, mais cedo ou mais tarde, a professá-la: porque é certo que, uma vez praticada uma brecha na cidade, toda ela está em perigo de se render.
Defendereis, pois, o que a Igreja indica, porque Ela é a única Mestra nestas verdades divinas; e o defendereis com o exemplo, com a palavra, com os vossos escritos, com todos os meios nobres que estiverem ao vosso alcance.
Ao mesmo tempo, movidos pelo amor à liberdade de todos, sabereis respeitar o parecer alheio naquilo que é opinável ou questão de escola, porque nessas questões — como em todas as outras temporais — a Obra nunca terá uma opinião coletiva se a Igreja não a impuser a todos os fiéis, em virtude de sua potestade.
Por outro lado, junto com a santa intransigência, o espírito da Obra de Deus vos pede uma constante transigência, também santa. A fidelidade à verdade, a coerência doutrinal, a defesa da fé não significam um espírito triste, nem devem estar animadas por um desejo de aniquilar quem está equivocado.
Talvez seja esse o modo de ser de alguns, mas não pode ser o nosso. Nunca vamos abençoar como aquele pobre louco que — aplicando a seu modo as palavras da Escritura — desejava que descessem sobre seus inimigos ignis, et sulfur, et spiritus procellarum15; fogo e enxofre, e ventos tempestuosos.
Não queremos a destruição de ninguém; a santa intransigência não é intransigência a seco, selvagem e destemperada; nem será santa se não for acompanhada pela santa transigência. Direi mais: nenhuma das duas é santa se não traz — junto com as virtudes teologais — a prática das quatro virtudes cardeais.
Documento impresso de https://escriva.org/pt-br/cartas-1/187/ (15/10/2025)