CARTA 4

[Sobre a caridade na transmissão da fé; seu incipit latino é Vos autem. Tem a data de 16 de julho de 1933 e foi impressa pela primeira vez em janeiro de 1966.]

Vos autem dixi amicos, quia omnia quaecumque audivi a Patre meo, nota feci vobis1; chamei-vos de amigos, porque vos fiz saber quantas coisas tenho ouvido de meu Pai. Aqui tendes, filhas e filhos da minha alma, umas palavras de Jesus Cristo Nosso Senhor, que nos indicam o caminho que devemos seguir no nosso trabalho apostólico. Deus chamou-nos a levar sua doutrina a todos os recantos do mundo, para abrir os caminhos divinos da terra, para dar a conhecer Jesus Cristo a tantas inteligências que nada sabem dEle, e — ao chamar-nos para a sua Obra — deu-nos também um modo apostólico de trabalhar, que nos move à compreensão, à desculpa, à caridade delicada para com todas as almas.

Nosso apostolado é um apostolado de amizade e confidência. Queremos repetir sempre com o Espírito Santo: ego cogito cogitationes pacis et non afflictionis2; tenho pensamentos de paz e não de aflição, pensamentos que buscam a concórdia, que procuram criar um clima de caridade, indispensável para que a palavra de Deus crie raízes nos corações. A caridade é o vínculo da fraternidade, o fundamento da paz, o que dá firmeza e permanência à unidade; é maior que a fé e a esperança; vai adiante do martírio e de todas as obras; permanecerá eternamente conosco no Reino dos Céus3.

O Senhor quis para nós esse espírito, que é o dEle. Não vedes seu contínuo afã de estar com a multidão? Não vos apaixona contemplar como não rejeita ninguém? Ele tem uma palavra para todos, para todos abre seus lábios dulcíssimos; e os ensina, doutrina-os, traz-lhes notícias de alegria e esperança, com este fato maravilhoso e único de um Deus que convive com os homens.

Às vezes, fala-lhes estando na barca, enquanto eles estão sentados na margem; outras, no monte, para que toda a multidão ouça bem; outras vezes, em meio ao barulho de um banquete, na quietude do lar, passeando pelos campos, sentados sob as oliveiras. Dirige-se a cada um da maneira que cada um possa entender: e dá exemplos de redes e peixes, para o povo do mar; de sementes e vinhas, para os que lavram a terra; à dona de casa falará da dracma perdida; à samaritana, aproveitando-se da ocasião da água que a mulher vai buscar ao poço de Jacó. Jesus acolhe todos, aceita os convites que lhe fazem, e — quando não o convidam — às vezes é Ele mesmo quem se convida: Zachaee, festinans descend, quia hodie in domo tua oportet me manere4; Zaqueu, desce depressa, porque convém que hoje eu me hospede em tua casa. Cristo quer que todos os homens se salvem5, que não se perca ninguém; e se apressa em dar sua vida por todos, numa efusão de amor, que é holocausto perfeito. Jesus não quer convencer pela força e, estando com os homens, entre os homens, move-os suavemente a segui-lo, em busca da verdadeira paz e da autêntica alegria.

Nós, minhas filhas e filhos, devemos fazer o mesmo, porque nos move essa mesma caridade de Cristo: caritas Christi urget nos6. Com a luz sempre nova da caridade, com um generoso amor a Deus e ao próximo, renovaremos, em vista do exemplo que o Mestre nos deu, nosso desejo de compreender, de desculpar, de não nos sentirmos inimigos de ninguém.

Nossa atitude diante das almas resume-se, assim, naquela expressão do Apóstolo, que é quase um grito: Caritas mea cum omnibus vobis in Christo Iesu!7: meu carinho a todos vós, em Cristo Jesus. Com a caridade, sereis semeadores de paz e alegria no mundo, amando e defendendo a liberdade pessoal das almas, a liberdade que Cristo respeita e conquistou para nós8.

A Obra de Deus nasceu para espalhar pelo mundo a mensagem de amor e paz que o Senhor nos legou; para convidar todos os homens a respeitar os direitos da pessoa. É assim que eu quero que meus filhos sejam formados, e assim sois.

À vossa unidade de vida deve corresponder uma magnanimidade espontânea, renovada todos os dias, que se deve fazer patente e se manifestar em todas as coisas, de maneira que — como fiéis soldados de Cristo Jesus no mundo — saibais oferecer-vos em holocausto, dizendo verdadeiramente: com plena sinceridade, com alegria, entreguei-me, Senhor, com tudo o que tenho9.

Esta deve ser a vossa preparação para o apostolado contínuo que Jesus nos pede, como é contínuo o bater do coração. Meus filhos, o Senhor chamou-nos à sua Obra em momentos em que se fala muito de paz e não há paz: nem nas almas, nem nas instituições, nem na vida social, nem entre os povos. Fala-se continuamente de igualdade e democracia, e há castas: fechadas, impenetráveis.

Ele nos chamou num momento em que se clama por compreensão, e a compreensão não é vivida, às vezes, nem mesmo entre pessoas que agem de boa-fé e querem praticar a caridade, porque a caridade, mais do que em dar, está em compreender.

São momentos em que os fanáticos e os intransigentes — incapazes de admitir as razões alheias — acautelam-se, chamando suas vítimas de violentas e agressivas. Ele nos chamou, por fim, quando se ouve falar muito de unidade, e talvez seja difícil conceber que possa haver maior desunião, não apenas entre os homens em geral, mas entre os próprios católicos.

Nesta atmosfera e neste ambiente, devemos dar um exemplo ao mesmo tempo humilde e audaz, perseverante e autenticado com o trabalho de uma vida cristã íntegra, laboriosa, cheia de compreensão e de amor por todas as almas.

Exit qui seminat seminare semen suum10, saiu o semeador para lançar a semente, e é isso o que fazemos: semear, dar boa doutrina, participar de todas as tarefas e preocupações honradas da terra, para com elas dar o bom exemplo dos seguidores de Cristo.

Ele, minhas filhas e filhos, coepit facere et docere11, primeiro fez e depois ensinou, e assim quero que sejais: santos de verdade, no meio da rua, na universidade, na oficina, no lar, com uma chamada particularíssima do Senhor, que não é de meias medidas, mas de entrega total.

Esta entrega, que deve ser ao mesmo tempo humilde e silenciosa, facilitará o conhecimento da grandeza, da ciência, da perfeição de Deus, e também vos fará conhecer a pequenez, a ignorância, a miséria que nós, os homens, temos. Aprendereis assim a compreender as fraquezas alheias vendo as próprias; a desculpar amando, a querer relacionar-vos com todos, porque não pode haver criatura que seja estranha para nós.

Meus filhos, o zelo pelas almas deve levar-nos a não nos sentirmos inimigos de ninguém, a ter um coração grande, universal, católico; a voar como as águias, nas asas do amor de Deus, sem nos fecharmos no galinheiro das querelas ou das facções mesquinhas, que tantas vezes esterilizam a ação dos que querem trabalhar por Cristo.

Numa palavra, devemos ter um zelo que nos leve a perceber que in Christo enim Iesu neque circuncisio aliquid valet neque praeputium, sed nova creatura12, que — perante a possibilidade de fazer o bem — o que realmente conta são as almas.

Não ignoro as dificuldades que podereis encontrar. É verdade — sempre vos faço notar — que, neste mundo de onde sois e no qual permaneceis, há muitas coisas boas, efeitos da inefável bondade de Deus. Mas também que os homens semearam joio, como na parábola evangélica, e propagaram falsas doutrinas que envenenam as inteligências e fazem com que se rebelem, às vezes furiosamente, contra Cristo e contra a sua Santa Igreja.

Diante desta realidade, qual deve ser a atitude de um filho de Deus em sua Obra? Seria o caso de pedir ao Senhor, como os filhos do trovão, que desça fogo sobre a terra e consuma os pecadores?13 Ou, talvez, de lamentar-se continuamente, como uma ave de mau agouro ou um profeta de desgraças?

Sabeis bem, minhas filhas e filhos, que esta não é a nossa atitude, porque o espírito do Senhor é outro: Filius hominis non venit animas perdere, sed salvare14, e eu costumo traduzir essa frase dizendo-vos que temos de afogar o mal em abundância de bem. Nossa primeira obrigação é dar doutrina, amando as almas.

Também conheceis a regra para levar à prática esse espírito: a santa intransigência com os erros e a santa transigência com as pessoas que estão no erro. É preciso, porém, que ensineis muitas pessoas a praticar esta doutrina, porque não é difícil encontrar alguém que confunda intransigência com intemperança e a transigência com o abandono de direitos ou verdades que não podem ser barateados.

Nós, cristãos, não possuímos — como se fosse algo humano ou um patrimônio pessoal, do qual cada um dispõe à vontade — as verdades que Jesus Cristo nos legou e que a Igreja custodia. É Deus quem as possui, é a Igreja quem as guarda, e não está em nossas mãos ceder, cortar, transigir no que não é nosso.

Esta não é, porém, a razão fundamental da santa intransigência. O que pertence ao depósito da Revelação, o que — confiando em Deus, que não se engana nem nos engana — conhecemos como verdade católica, não pode ser objeto de acordos, simplesmente porque é a verdade, e a verdade não tem meias medidas.

Já pensastes qual seria o resultado se, por força de querer transigir, se fizessem — em nossa santa fé católica — todas as mudanças que os homens pedissem? Talvez se chegasse a algo em que todos concordassem, a uma espécie de religião caracterizada apenas por uma vaga inclinação do coração, por um sentimentalismo estéril, que certamente — com um pouco de boa vontade — pode ser encontrado em qualquer aspiração ao sobrenatural; porém, essa doutrina já não seria mais a doutrina de Cristo, não seria um tesouro de verdades divinas, mas algo humano, que não salva nem redime; um sal que se teria tornado insípido.

Levariam a essa catástrofe a loucura de ceder nos princípios, o desejo reduzir as diferenças doutrinais, as concessões no que pertence ao depósito intangível que Jesus deu à sua Igreja. A verdade é uma só, meus filhos, e, embora nas questões humanas seja difícil saber de que lado está a verdade, nas questões de fé não é assim.

Pela graça de Deus, que nos fez nascer para a sua Igreja pelo Batismo, sabemos que só existe uma religião verdadeira, e neste ponto não cedemos, aí somos intransigentes, santamente intransigentes. Haverá alguém de bom senso — costumo dizer-vos — que cederá em algo tão simples como a soma de dois mais dois? Poderá conceder que dois e dois são três e meio? A transigência — na doutrina da fé — é sinal certo de que não se possui a verdade ou de que não se sabe que a possui.

Por outro lado, não vos deixeis enganar quando não se trata do conjunto da nossa religião, caso pretendam fazer-vos transigir em algum aspecto que se refira à fé ou à moral. As diversas partes que compõem uma doutrina — tanto a teoria como a prática — costumam estar intimamente ligadas, unidas e dependentes umas das outras, em maior proporção quanto mais vivo e autêntico for o conjunto.

Só o que é artificial poderia desagregar-se sem prejudicar o todo — o qual, talvez, sempre tenha carecido de vitalidade —, e também só o que é um produto humano costuma carecer de unidade. Nossa fé é divina, é una — como Deus é Uno —, e este fato traz como consequência que, ou se defendem todos os seus pontos com firme coerência, ou será preciso renunciar, mais cedo ou mais tarde, a professá-la: porque é certo que, uma vez praticada uma brecha na cidade, toda ela está em perigo de se render.

Defendereis, pois, o que a Igreja indica, porque Ela é a única Mestra nestas verdades divinas; e o defendereis com o exemplo, com a palavra, com os vossos escritos, com todos os meios nobres que estiverem ao vosso alcance.

Ao mesmo tempo, movidos pelo amor à liberdade de todos, sabereis respeitar o parecer alheio naquilo que é opinável ou questão de escola, porque nessas questões — como em todas as outras temporais — a Obra nunca terá uma opinião coletiva se a Igreja não a impuser a todos os fiéis, em virtude de sua potestade.

Por outro lado, junto com a santa intransigência, o espírito da Obra de Deus vos pede uma constante transigência, também santa. A fidelidade à verdade, a coerência doutrinal, a defesa da fé não significam um espírito triste, nem devem estar animadas por um desejo de aniquilar quem está equivocado.

Talvez seja esse o modo de ser de alguns, mas não pode ser o nosso. Nunca vamos abençoar como aquele pobre louco que — aplicando a seu modo as palavras da Escritura — desejava que descessem sobre seus inimigos ignis, et sulfur, et spiritus procellarum15; fogo e enxofre, e ventos tempestuosos.

Não queremos a destruição de ninguém; a santa intransigência não é intransigência a seco, selvagem e destemperada; nem será santa se não for acompanhada pela santa transigência. Direi mais: nenhuma das duas é santa se não traz — junto com as virtudes teologais — a prática das quatro virtudes cardeais.

Antes de tudo, a prudência, para saber agir de acordo com a verdadeira caridade, evitando que um zelo mal-entendido ponha em perigo a santidade da vossa intransigência. Deveis ser como uma maça de aço, poderosa e firme, mas envolta numa capa acolchoada, para não ferir.

A boa caridade, o carinho que a prudência vos fará praticar, levar-vos-á a dizer as coisas com discernimento, no momento conveniente e do modo preciso; tornar-vos-á sensíveis às necessidades e às circunstâncias do próximo, sem cair em condescendências inoportunas, mas ao mesmo tempo confirmará a vossa fé, animará a vossa esperança e vos levará a dar graças a Deus por vos ter conservado na plenitude da sua verdade.

Justiça para tratar cada um como merece, sem generalizações nem simplificações superficiais, que tanto mal fazem e que tantos obstáculos levantam ao bom entendimento entre os homens. Nunca vos esqueçais, filhos, de que não se pode ser justo se não se conhecem bem os fatos, se não se ouvem os sinos tanto de um lado como do outro, se não se sabe — em cada caso — quem é o sineiro.

Fortes in fide16, para defender corajosamente a fé, para resistir e ensinar a resistir à fácil tentação das novidades, de querer divulgar ou dar como dogma o que são apenas teorias de especialistas. É bom buscar o progresso do conhecimento e da exposição da fé e da moral, aceitando sempre o magistério eclesiástico; mas não se pode ser tão irresponsável a ponto de dar rédea solta a qualquer ideia ou difundir o que é apenas uma hipótese de trabalho, talvez muito provisória e nada fundamentada.

Há alguns, minhas filhas e filhos, que, depois de terem posto em circulação opiniões peregrinas e confusas, recorrem ao ingênuo expediente da criança gulosa, e com esse argumento tentam se livrar da responsabilidade: quando o pequeno guloso comeu o pote inteiro de marmelada, defende-se dizendo que não sabia que tanto doce podia fazer mal. Deve-se dar ao povo cristão, antes de tudo, a doutrina segura, clara, sem discussão.

Não se trata, porém, de criar uma religião para os ignorantes, e sim de ser realistas e perceber que muitas vezes o conhecimento das pessoas está ao nível daquele a quem perguntaram: o que você sabe sobre Santo Isidoro de Sevilha? E ele respondeu: Santo Isidoro? Ah, sim! Foi o fundador da Giralda17.

A virtude da temperança levar-vos-á a nunca exagerar, a não vos deixardes levar pela raiva, a não cair no fanatismo. Um filho de Deus na sua Obra não pode seguir o exemplo de quem aconselha bater na cabeça do adversário, para que ele não coxeie.

Como podeis ver, filhas e filhos queridíssimos, a prática harmoniosa da santa transigência e da santa intransigência é fácil e é difícil: fácil, porque a caridade de Cristo nos impulsiona e a sua graça nos ajuda; difícil, porque contraria as más inclinações da nossa miséria pessoal e exige levar em conta muitos fatores, para que não se resolvam os problemas de maneira falsa e precipitada.

No coro de São Turíbio de Liébana existem, segundo me disseram, algumas mísulas que parecem sustentar as nervuras das abóbadas; alguns de vós podem tê-las visto. Uma das mísulas representa uma cabeça de cão e a do lado oposto, uma cabeça de gato. Costumam explicar que o gato significa o homem velho que todos trazemos dentro de nós; e o cão alude ao homem novo, aquele que Jesus Cristo fez nascer com a sua Redenção. No entanto, algumas vezes pensei que essas mísulas também poderiam ser o símbolo do convívio entre os homens: nações, credos religiosos, raças, pessoas que vivem como o cachorro e o gato, sempre lutando, mas que são obrigadas a conviver, suportando o peso da abóbada, a paz e a tranquilidade do mundo.

Não esqueçais que, se existem coisas que dividem, sempre existem também coisas que unem, que podem facilitar um relacionamento respeitoso, amigável, leal; e que os filhos de Deus — na sua verdadeira Igreja — devem saber aproveitar e destacar, para assim atrair para a luz iis qui ignorant et errant18, aqueles que não conhecem a verdade e estão no erro.

Nunca cheguei a gostar daquele exemplo que algumas pessoas usam para descrever o comportamento de um cristão: o das maçãs boas que se corrompem quando se coloca uma fruta podre na cesta onde estão. Nós, meus filhos, não devemos temer a convivência com aqueles que não possuam ou não vivam a doutrina de Jesus Cristo.

Com as devidas precauções, não devemos rechaçar ninguém, porque temos meios espirituais, ascéticos e intelectuais suficientes para não nos deixarmos estragar: um filho de Deus na Obra não deve deixar-se influenciar pelo ambiente, mas deve ser quem dá o ambiente aos que estão ao seu redor, o nosso ambiente, o ambiente de Jesus Nosso Senhor, que conviveu com os pecadores e se relacionava com eles19.

As ideias más não costumam ser totalmente más; elas têm, normalmente, uma parcela de bem, porque senão ninguém as seguiria. Quase sempre têm uma centelha de verdade, que é o seu chamariz; mas essa parcela de verdade não é delas: é tirada de Cristo, da Igreja; e, portanto, são essas boas ideias — que estão misturadas com o erro — que hão de vir atrás dos cristãos, que possuem a verdade completa; não devemos ser nós a ir atrás delas.

Mas este critério só é válido do ponto de vista doutrinal; no relacionamento pessoal, na prática, sois vós que deveis ir atrás dos equivocados, não para vos deixardes levar por suas ideologias, mas para conquistá-los para Cristo, para atraí-los com suavidade e eficácia para a luz e para a paz.

Com frequência, me ouvis repetir que a Obra de Deus não é antinada. Certamente não podemos dizer que o erro é uma coisa boa, mas os que estão equivocados merecem o nosso carinho, a nossa ajuda, o nosso relacionamento leal e sincero: e nós não agradaríamos a Deus se o negássemos a eles simplesmente porque não pensam como nós.

Numa palavra, devemos viver numa conversa contínua com os nossos companheiros, com os nossos amigos, com todas as almas que se aproximem de nós. Essa é a santa transigência. Certamente poderíamos chamá-la de tolerância, mas tolerar me parece pouco, porque não se trata apenas de admitir, como um mal menor ou inevitável, que os outros pensem de modo diferente ou que estejam errados.

Trata-se também de ceder, de transigir em tudo o que for nosso, naquilo que for opinável, naquilo que — não afetando o essencial — poderia ser motivo de discrepância. Em suma, trata-se de aparar arestas onde elas possam ser aparadas, a fim de criar uma plataforma de entendimento que dê luz aos equivocados.

Muitos que clamam por transigência e desejariam ceder na moral de Cristo, ou que não teriam dificuldade em desvirtuar o dogma, não toleram, no entanto, que toquem no seu dinheiro, no seu conforto, no seu capricho, na sua honra, nas suas opiniões. Talvez não façam objeção a que os direitos da Igreja sejam violados, mas atacarão como cobras se alguém tentar intervir naquilo que consideram direitos pessoais, embora muitas vezes não sejam direitos, mas arbítrio, confusão, coisas pouco claras.

Outros fazem o contrário: transformam sua vida numa cruzada perpétua, numa defesa constante da fé, mas às vezes se obstinam, esquecendo que a caridade e a prudência deveriam reger esses bons desejos, e assim se tornam fanáticos. Apesar de sua reta intenção, o grande serviço que querem prestar à verdade é distorcido, e eles acabam fazendo mais mal do que bem, defendendo talvez sua opinião, seu amor-próprio, sua mente fechada.

Tal como o fidalgo de La Mancha, veem gigantes onde só há moinhos de vento; tornam-se pessoas mal-humoradas, azedas, com zelo amargo, modos bruscos, que nunca encontram nada de bom, que veem tudo escuro, que têm medo da legítima liberdade dos homens, que não sabem sorrir.

Em certa ocasião, um jornalista contou-me sobre suas tentativas de encontrar o túmulo de César Borgia, o famoso condottiero odiado por alguns e elogiado por outros. O jornalista foi a Viana — em Navarra — porque ouvira dizer que ele havia sido sepultado diante da porta da igreja. Ele manifestou o seu desejo, e alguém lhe disse: não se preocupe em procurar; eu o desenterrei e joguei suas cinzas numa eira.

Finalmente, há outras pessoas que não atacam a fé, mas também não a defendem. Entraram num ceticismo confortável e egoísta que, sob o pretexto de respeitar a opinião alheia, refugia-se na indecisão e na irresponsabilidade. Sua atitude fica bem refletida naqueles versos que alguém escreveu por brincadeira; e, se os escreveu a sério, devemos concluir que entendeu o Evangelho tão mal como a preceptiva literária: neste mundo inimigo/ não há ninguém em quem confiar./ Cada um cuide de sigo,/ eu de migo, tu de tigo,/ e tente se salvar20.

Nós, filhos queridíssimos, devemos relacionar-nos com todos, não devemos nos sentir incompatíveis com ninguém. Existem muitas razões sobrenaturais que exigem isso de nós, e eu já vos recordei várias; quero agora fazer-vos notar outra mais.

Ao vir para a Obra, não nos afastamos do mundo; estávamos no mundo antes da chamada de Cristo e continuamos no mundo depois, sem mudar nossos passatempos e nossos gostos, nosso trabalho profissional, nosso modo de ser. Não deveis ser mundanos, mas continuais sendo do mundo, gente da rua, iguais a tantas pessoas que convivem diariamente convosco no trabalho, no estudo, no escritório, no lar.

Essa convivência dá-vos a ocasião para aproximar as almas de Cristo Jesus, e é lógico que não a eviteis. Mais que isso, é necessário que a procureis, que a fomenteis, porque sois apóstolos, com um apostolado de amizade e de confidência, e não podeis ficar encerrados detrás de nenhum muro que vos isole dos vossos companheiros: nem materialmente, porque não somos religiosos, nem espiritualmente, porque o relacionamento nobre e sincero com todos é o meio humano do vosso trabalho de almas.

A vossa conduta para com os outros terá assim umas características que nascem da caridade: delicadeza no trato, boa educação, amor à liberdade alheia, cordialidade, amizade. O Apóstolo o diz muito claramente! Embora livre em relação a todos, fiz-me servo de todos, para ganhar o maior número possível. Fiz-me judeu com os judeus, para ganhar os judeus; com os que estão sob a Lei, fiz-me como se estivesse sob a Lei, não estando eu sob a Lei, para ganhar aqueles que estão sob a Lei; com os que estão sem a Lei, fiz-me como se estivesse sem a Lei, não estando sem a Lei de Deus, mas estando sob a Lei de Cristo, para ganhar os que estão sem a Lei. Fiz-me fraco com os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para salvar alguns a todo custo21.

E acrescenta a razão disso, quando escreve aos romanos: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Mas como irão invocá-lo se não acreditam nele? Ou como acreditarão nele, se nunca ouviram falar dele? E como ouvirão falar dele se ninguém pregar para eles?22 Para pregar Cristo, meus filhos, não deveis limitar-vos a falar ou a dar bom exemplo; é necessário que também escuteis, que estejais dispostos a entrar num diálogo franco e cordial com as almas que quereis aproximar de Deus.

Certamente, encontrareis muitos que, movidos pela graça, nada mais desejam do que ouvir da vossa boca a boa-nova; mas também eles terão coisas a dizer: dúvidas, consultas, opiniões que querem confrontar, dificuldades. Escutai-os, acompanhai-os, vivei com eles para conhecê-los e para vos fazerdes conhecer.

A Obra de Deus — não vos esqueçais — é o que há de mais oposto ao fanatismo, o mais amigo da liberdade. E estamos convencidos de que, para levar a verdade aos outros, o procedimento é rezar, compreender, conviver e, depois, fazer raciocinar e ajudar a estudar as coisas.

A vida dos filhos de Deus em sua Obra é apostolado: daí nasce neles o desejo constante de conviver com todos os homens, de vencer qualquer barreira na caridade de Cristo. Daí nasce também sua preocupação por fazer com que desapareça qualquer forma de intolerância, coação e violência no relacionamento entre os homens.

Deus quer ser servido em liberdade; portanto, não seria reto um apostolado que não respeitasse a liberdade das consciências. Por isso, cada um de vós, meus filhos, deve procurar viver na prática uma caridade sem limites: compreendendo todos, desculpando todos sempre que houver oportunidade, tendo, sim, um grande zelo pelas almas, mas um zelo amável, sem modos grosseiros ou gestos bruscos. Não podemos colocar o erro no mesmo nível da verdade, mas — sempre observando a ordem da caridade — devemos acolher com grande compreensão os que estão equivocados.

Costumo insistir sempre, para que vos fique bem clara esta ideia, que a doutrina da Igreja não é compatível com os erros que vão contra a fé. Mas por que não poderemos ser amigos leais daqueles que cometam esses erros? Se tivermos nossa conduta e doutrina bem firmes, será que não poderemos puxar com eles o mesmo carro, em tantos campos? O Senhor quer que estejamos em todos os caminhos da terra, semeando as sementes da compreensão, da caridade, do perdão: in hoc pulcherrimo caritatis bello, nesta linda guerra de amor, de desculpas e de paz.

Não penseis que esse espírito é apenas algo bom ou aconselhável. É muito mais, é um mandato imperativo de Cristo, o mandatum novum23 de que tanto vos falo e que nos obriga a amar todas as almas, a compreender as circunstâncias dos outros, a perdoar se nos fizerem algo que mereça perdão. Devemos ter uma caridade que cubra todas as deficiências da fraqueza humana, veritatem facientes in caritate24, tratando com amor aquele que erra, mas não admitindo concessões no que é matéria de fé.

O Senhor chamou-nos à sua Obra para que difundamos sua mensagem de amor infinito por toda a terra. Não há alma que possa ficar excluída da nossa caridade. Quando o cristão compreende e vive a catolicidade da Igreja, quando percebe a urgência de anunciar a nova da salvação a todas as criaturas, sabe que deve fazer-se tudo para todos, para salvar a todos25.

E o nosso desejo apostólico converte-se efetivamente em vida; começa com o que está ao seu alcance, por meio dos afazeres ordinários de cada dia, e aos poucos vai estendendo sua ânsia de colheita em círculos concêntricos: no seio da família, no lugar de trabalho; na sociedade civil, na cátedra de cultura, na assembleia política, entre todos os seus concidadãos, qualquer que seja sua condição social; chega até as relações entre os povos, abarca em seu amor raças, continentes e civilizações diversíssimas.

Mas o apóstolo deve começar a fazer sua obra divina naquilo que está ao seu lado, sem esgotar seu zelo em fantasias ou em oxalás. E esse é o conselho que vos dou. Chegará o dia em que podereis colocar em prática vossos desejos de amor e de apostolado entre pessoas de toda a terra. Agora, minhas filhas e filhos, a Obra está nascendo e estais materialmente reduzidos a âmbitos limitados, mas o espírito é universal, e nós também seremos universais de fato: nosso empreendimento sobrenatural não conhece fronteiras.

Mas, hoje e sempre, devemos estar dispostos a conviver com todos, dar a todos — com o nosso relacionamento — a possibilidade de se aproximarem de Cristo Jesus.

Temos de nos sentir unidos a todos, sem distinções, sem dividir as almas em departamentos estanques, sem rotulá-las, como se fossem mercadorias ou insetos dissecados. Não podemos nos separar dos outros, caso contrário nossa vida se tornaria miserável e egoísta.

Os cristãos não se distinguem dos outros homens nem pelo lugar de origem, nem pelo modo de falar, nem pelo modo de viver. São cidadãos como os outros26. Os cristãos — nós, minhas filhas e meus filhos — devemos imitar Cristo, ser alter Christus, e Jesus Nosso Senhor amou tanto os homens que se encarnou, assumiu nossa natureza e viveu trinta e três anos na terra, em contato diário com pobres e ricos, com justos e pecadores, com jovens e velhos, com judeus e gentios. Quereis, então, aprender com Cristo e tomar exemplo de sua vida? Abramos o Santo Evangelho e ouçamos o diálogo de Deus com os homens.

Um dia — diz-nos São Lucas no capítulo XI — Jesus estava rezando. Como seria a oração de Jesus Cristo! Os discípulos estavam por perto, talvez contemplando-o, e, quando terminou, um deles lhe disse: Domine, doce nos orare, sicut docuit et Ioannes discipulos suos27. Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos. E Jesus respondeu-lhes: quando orardes, deveis dizer: Pai, santificado seja o vosso nome...28

Minhas filhas e filhos, observem a maravilha: os discípulos conversam com Jesus Cristo, e, como resultado dessas conversas, o Senhor ensina-lhes a orar e lhes mostra a grande maravilha da misericórdia divina: que somos filhos de Deus e que podemos nos dirigir a Ele como um filho fala com seu pai.

Relacionamento com Deus, e também relacionamento com os homens: bastarão algumas cenas do Evangelho, entre tantas outras, para que compreendais ainda melhor a profundidade divina do nosso apostolado de amizade e confidência.

A primeira fala-nos do encontro de Jesus com Nicodemos. Mestre — diz aquele homem, personagem importante entre os judeus —, sabemos que vieste de Deus para nos ensinar; porque ninguém pode fazer os milagres que fazes, se não tiver Deus consigo29. Jesus responde-lhe, meus filhos, com uma frase que aparentemente nada tem a ver com o que disse Nicodemos, mas que atrai a sua atenção e o cativa; provoca o diálogo do seu interlocutor: pois em verdade, em verdade te digo que quem não nascer de novo não pode ver o reino de Deus30.

Foi assim que começou a conversa, que já conheceis; e conheceis também o resultado: na hora do fracasso da Cruz, ali estará Nicodemos para pedir corajosamente a Pilatos o Corpo do Senhor.

Mas e a mulher samaritana? Por acaso Jesus Cristo não faz o mesmo, começando a conversar com ela, tomando a iniciativa, apesar de que non enim coutuntur Iudaei Samaritanis31, apesar de não haver relacionamento entre judeus e samaritanos? Jesus fala daquilo que sabe que interessa àquela mulher, da água que todos os dias ela tem de buscar laboriosamente no poço de Jacó, de uma água viva, tão portentosa que qui autem biberit ex acqua, quam ego dabo ei, non sitiet in aeternum32, quem a beber nunca mais terá sede.

Os frutos do diálogo de Cristo aparecem também no Evangelho: a conversão daquela pecadora, a transformação da sua alma, que se torna alma apostólica — venite et videte hominem, qui dixit mihi omnia quaecumque feci: numquid ipse est Christus?33, vinde e vede o homem que me disse tudo o que eu fiz, não será ele o Cristo?; e a fé de muitos outros samaritanos que inicialmente acreditaram nele por causa das palavras da mulher34, e depois afirmavam: já não acreditamos por causa do que disseste, pois nós mesmos o ouvimos e sabemos que ele é verdadeiramente o Salvador do mundo35.

Noutra ocasião, é um jovem rico — de boa família, diríamos hoje — que fez uma pergunta ao Senhor: Bom Mestre, o que posso fazer para alcançar a vida eterna?36; e Jesus responde: por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão Deus. De resto, se queres entrar na vida eterna, guarda os mandamentos. Disse-lhe ele: que mandamentos? Jesus respondeu: não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não levantarás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe e ama o teu próximo como a ti mesmo. Disse o jovem: todos esses mandamentos tenho guardado desde a minha infância. O que mais me falta?37

Por olhos humanos, meus filhos, esta era a grande ocasião do compromisso. Que outras coisas se poderiam desejar para que este jovem rico — dives erat valde38— e influente se unisse ao grupo dos seguidores de Cristo? A resposta de Jesus, porém, não podia ser outra, pois não há espaço para concessões na doutrina, apesar de que, ao transigir, pareça que se alcancem resultados apostólicos; a resposta do Senhor é cheia de carinho — tanto que, quando o moço foi embora triste, um lamento saiu do coração de Deus —, mas é clara, rotunda, sem ambiguidades que ocultem a dureza da verdade: ainda te falta uma coisa: vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu; e depois vem e segue-me39.

Outro exemplo mais: aquele que o Senhor nos dá na Cruz, como que para nos ensinar que o afã de almas, que nos move a buscar, a conversar, a dialogar com os homens, deve manifestar-se até à morte. É a conversa emocionante, comovente, que Cristo mantém no alto do Gólgota com os dois ladrões que são crucificados com Ele.

Desta vez não foi Jesus quem iniciou a conversa, mas a sua presença no patíbulo e os seus sofrimentos são mais eloquentes do que qualquer palavra. Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos40, disse o mau ladrão, blasfemando. E o bom: Como? Nem ao menos temes a Deus, estando como estás no mesmo suplício? Estamos por justiça no patíbulo, pois pagamos a pena merecida pelos nossos crimes; mas este não fez mal algum. E então disse a Jesus: Domine, memento mei; Senhor, lembra-te de mim quando chegares ao teu reino41. Meus filhos, a breve resposta de Jesus, que intervém na conversa entre os dois criminosos, foi salvação para aquele que estava arrependido: em verdade te digo, que hoje estarás comigo no paraíso42.

Estes poucos exemplos são suficientes para que nunca nos esqueçamos de como e com que espírito devemos realizar nosso trabalho de almas. Nossa maior ambição deve ser viver como Cristo Nosso Senhor viveu; como também viveram os primeiros fiéis, sem divisões por motivos de sangue, nação, língua ou opinião.

Também temos de ensinar a todos os católicos, a todos os homens, esse mandato novo que antes vos recordei. Parece-me que ouço São Paulo gritar quando diz aos de Corinto: divisus est Christus? Numquid Paulus crucifixus est pro vobis? Aut in nomine Pauli baptizati estis?43. Por acaso Cristo está dividido? Porventura Paulo foi crucificado por vós, ou fostes batizados em seu nome, para que digais: eu sou de Paulo, eu de Apolo, eu de Cefas ou eu de Cristo?44

Serem todos filhos de Deus, terem sido todos redimidos por Jesus Cristo, é a razão mais profunda da unidade entre os homens, e nenhum outro título é necessário. Não se acrescentam qualificativos ao ouro ou à prata pura: quando a prata é prata e o ouro é ouro, eles são chamados assim, sem mais. Se algum qualificativo é colocado depois deles — um sobrenome, às vezes —, não é bom metal: é uma imitação barata.

Dentro da ordem da caridade — insisto —, trataremos com muito carinho aqueles que, por ignorância, por soberba ou incompreensão alheia, aproximam-se do erro ou nele caíram. Se as pessoas erram, minhas filhas e filhos, nem sempre é por má vontade: há ocasiões em que erram porque não têm meios de descobrir a verdade por si mesmas; ou porque acham mais cômodo — e devemos desculpá-los — repetir tolamente o que acabaram de ouvir ou ler, fazendo eco de falsidades.

É preciso saber os motivos que possam ter. Não agrada a Deus julgar sem ouvir o réu, às vezes nas sombras do segredo e, muitas vezes — dada a triste fragilidade humana —, com testemunhas e acusadores que usam seu anonimato para caluniar ou difamar.

Eu faltaria com a verdade, filhos, se dissesse que este conselho que vos dou vem só da experiência alheia: eu o vivi na minha carne, mas — pela graça de Deus — também posso dizer que, desde então, amo mais a Igreja, justamente porque há eclesiásticos que condenam sem ouvir.

Lembrais daquelas cenas que o Evangelho nos conta, narrando a pregação de João Batista? Criou-se um grande burburinho! Será ele o Cristo, será Elias, será um Profeta? Tanto barulho foi feito que os judeus enviaram sacerdotes e levitas de Jerusalém para lhe perguntar: quem es tu?45

Além disso, com olhos pouco sobrenaturais, poderia parecer que João não aproveita uma oportunidade de fazer prosélitos. Ele poderia até ter respondido com o testemunho que Jesus viria a dar sobre ele: ipse est Elias, qui venturus est. Qui habet aures audiendi audiat46; ele é aquele Elias que havia de vir. Quem tem ouvidos para entender, entenda.

Mas aqueles que foram perguntar a João não estavam em condições de entender bem aquelas outras palavras, e ele confessou a verdade e não a negou... Eu sou a voz do que clama no deserto47. E, verdadeiramente, suas palavras caíram no deserto, porque aqueles que pareciam desejar a verdade não a ouviram.

A mesma coisa aconteceu quando Jesus começou sua vida pública: murmúrios, surpresa, temor, ciúmes... Sua fama havia se espalhado — diz o Evangelho — por toda a Judeia e por todas as regiões vizinhas48. Rumores também chegaram aos ouvidos daqueles que seguiam o Batista, e seus discípulos informaram João de todas essas coisas. E João, chamando dois deles, enviou-os a Jesus para lhe fazer esta pergunta: és tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?49

Que bonita é a conduta de João Batista! Que limpa, nobre e desinteressada! Ele preparou verdadeiramente os caminhos do Senhor: os seus discípulos só conheciam Cristo por ouvir dizer, e ele os impele a dialogar com o Mestre; faz com que o vejam e se relacionem com Ele; dá-lhes a oportunidade de admirar os prodígios que opera: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, o evangelho é anunciado aos pobres50.

Meus filhos, tal como João, devemos ter sempre a fortaleza para nos informarmos antes de opinar; e devemos ensinar todos a fazer o mesmo, sem que se deixem levar pelas aparências de mexericos ou falatórios. Dizer de uma pessoa que ela é honrada e de conduta impecável, mesmo que seja verdade, infelizmente não é notícia, não chama a atenção; enquanto atribuir-lhe todo tipo de maquiavelismo ou artimanhas, mesmo que isso não seja verdade, é atraente e se divulga, ao menos como hipótese ou boato.

Tende compreensão, mesmo com aqueles que não parecem capazes de entender o próximo e o julgam precipitadamente. O vosso carinho e o vosso exemplo, cheios de retidão, servirão como o melhor estímulo, ao verem que, com a graça de Deus, lutais e venceis as más inclinações, a tendência ao erro que todos nós temos.

Dá no mesmo se forem provenientes de almas afastadas do Senhor ou o resultado da incompreensão dos bons. Seus preconceitos nascem justamente do distanciamento, da ausência de um diálogo franco, que os ajude a compreender o que não entendem. Não seremos nós que recusaremos esse diálogo, e, se eles o recusarem, não guardemos rancor deles, porque a sua incompreensão nos santifica. O doente sensato não guarda rancor do bisturi que o médico usou para curá-lo.

Vosso carinho, vosso trato sincero e nobre, devem ser também para com aqueles que não conhecem a nossa religião e para com os que se afastaram da fé católica. Iremos admiti-los sempre ao nosso lado e — sem ceder na doutrina, porque não é nossa —, iremos transigir com as pessoas, iremos convidá-las a trabalhar lado a lado conosco, no coração dos nossos trabalhos; iremos colocá-las no centro daquilo que mais amamos na terra, iremos dar-lhes a grande oportunidade de se tornarem mão e braço de Deus, de fazerem a sua Obra no mundo.

Vereis como esta vossa conduta os aproximará da fé que eles nunca tiveram ou que perderam, tantas vezes sem muita culpa de sua parte. Quando isso acontecer, vosso carinho deve ser redobrado; devereis continuar caminhando juntos pela vida, dialogando como amigos sinceros, adivinhando suas possíveis dificuldades, para os confirmar ainda mais no bom caminho; fortalecendo cientificamente a vossa fé, porque é estéril — é contraproducente — qualquer tentativa de diálogo sobre estas questões sem doutrina e sem dom de línguas.

Tendes aqui mais um motivo para que sintais a urgência de uma formação sólida, contínua, profunda e bem alicerçada em princípios seguros. Com esse preparo, não precisareis temer a convivência com quem está no erro. Como me entristece ouvir algumas vezes, referindo-se a pessoas que abraçaram a nossa fé depois de passar anos, talvez uma vida inteira, sem conhecer a Luz: ele é um convertido; é preciso ter cuidado!

É preciso ter cuidado para os amar ainda mais, sem desconfiança, com alegria, porque haverá mais festa no céu por um pecador que se converta do que por noventa e nove justos que não necessitam de penitência51. Mas também é preciso ter cuidado para não trair seu desejo de estar com Cristo, não dar a eles como bom o que não o é; para que, por sua insegurança — são como crianças recém-nascidas na fé — ou por seu ímpeto fogoso, não se desviem do bom caminho que começaram a trilhar.

Ainda não se esgota nossa caridade: devemos conviver também com aqueles que estão diante de Cristo, porque — caso contrário — não poderemos lhes fazer o bem de dá-lo a conhecer. Não vos deixeis, porém, seduzir por falsas táticas de apostolado, pois encontrareis pessoas obcecadas, até pelo mesmo bom desejo de ganhar almas, que — com a desculpa de ir à procura da ovelha perdida — acabarão por cair na areia movediça de erro que querem combater, enganados por meios-termos, concessões ou transigências imprudentes.

Queremos fazer o bem a todos: aos que amam Jesus Cristo e aos que talvez o odeiem. Mas estes, além disso, nos dão muita pena: por isso, devemos procurar tratá-los com afeto, ajudá-los a encontrar a fé, afogar o mal — repito — em abundância de bem. Não devemos ver ninguém como inimigo: se eles combatem a Igreja de má-fé, nossa conduta humana reta, firme e amável será o único meio para que, com a graça de Deus, descubram a verdade ou, pelo menos, a respeitem.

Se os seus ataques nascem da ignorância, nossa doutrina — confirmada pelo exemplo — poderá fazer cair o véu de seus olhos. Defenderemos sempre os santos direitos da Igreja, mas tentaremos fazê-lo sem ferir, sem humilhar, procurando não levantar desconfianças nem ressentimentos.

Contra quem nós estamos? Contra ninguém. Não posso amar o diabo, mas amo todos os que não são o diabo, não importa quão maus sejam ou possam parecer. Não me sinto nem nunca me senti contrário a ninguém; rejeito ideias que vão contra a fé ou a moral de Jesus Cristo, mas, ao mesmo tempo, tenho o dever de acolher, com a caridade de Cristo, todos aqueles que as professem.

Muitas vezes, esses erros são o resultado de uma formação equivocada. Em não poucos casos, esses pobrezinhos não tiveram ninguém que lhes ensinasse a verdade. Penso, por isso, que no dia do juízo haverá muitas almas que responderão a Deus como respondeu o paralítico na piscina — hominem non habeo52, não houve ninguém que me ajudasse — ou como responderam aqueles trabalhadores desempregados à pergunta do dono da vinha: nemo nos conduxit53, não nos chamaram para trabalhar.

Embora seus erros sejam culpáveis e sua perseverança no mal seja consciente, há no fundo dessas almas infelizes uma profunda ignorância que só Deus pode medir. Ouvi o grito de Jesus na Cruz, desculpando aqueles que o mataram: Pater, dimitte illis: non enim sciunt quid faciunt54; Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem. Sigamos o exemplo de Jesus Cristo, não rejeitemos ninguém: para salvar uma alma, temos de ir até as próprias portas do inferno. Não mais além, porque ali não se pode amar a Deus.

Este é o nosso espírito, e nós o demonstraremos abrindo sempre as portas de nossas casas para pessoas de todas as ideologias e de todas as condições sociais, sem qualquer distinção, com o coração e os braços dispostos a acolher todos. Não temos a missão de julgar, mas o dever de tratar fraternalmente todos os homens.

Não há uma alma sequer que nós excluamos da nossa amizade, e ninguém deve se aproximar da Obra de Deus e ir embora vazio: todos devem se sentir amados, compreendidos, tratados com afeto. Amo o último pobrezinho que agora está no canto mais escondido do mundo, fazendo o mal e, com a graça de Deus, daria minha vida para salvar sua alma.

Com a mente clara, com a formação que recebeis, sabereis em cada caso o que é essencial, aquilo em que não se pode ceder. Estareis também em condições de discernir aquelas outras coisas que alguns consideram imutáveis, mas que não são mais do que o produto de uma época ou de certos costumes: e este discernimento facilitar-vos-á a disposição de ceder alegremente. E cedereis também — quando as almas estiverem em jogo — naquilo que é ainda mais opinável, que é quase tudo.

Insisto, porém, em que não vos deveis deixar enganar por falsas compaixões. Muitos que parecem movidos pelo desejo de comunicar a verdade cedem em coisas que são intocáveis e chamam de compreensão com os equivocados o que não passa de uma crítica negativa, por vezes brutal e implacável, à doutrina da nossa Mãe Igreja. Também não deixeis de os compreender, mas, ao mesmo tempo, defendei a verdade, com calma, moderação e firmeza, mesmo que quando o fizerdes alguns vos acusem de fazer apologias.

Serão maravilhosos os frutos humanos e sobrenaturais que nascerão dessa vossa conduta. A Obra de Deus é um grande instrumento para fazer feliz a humanidade, se formos fiéis: e seremos fiéis porque fiel é Deus, que nos fortalecerá e nos defenderá do mau espírito55.

Vejo a Obra projetada nos séculos, sempre jovem, graciosa, bela e fecunda, defendendo a paz de Cristo, para que todos a possuam. Contribuiremos para que, na sociedade, se reconheçam os direitos da pessoa humana, da família, da Igreja. Nosso trabalho reduzirá o ódio fratricida e a desconfiança entre os povos, e minhas filhas e meus filhos — fortes in fide56, firmes na fé — saberão ungir todas as feridas com a Caridade de Cristo, que é um bálsamo suavíssimo.

Não vos dá alegria que o Senhor tenha querido para o nosso empreendimento sobrenatural esse espírito que palpita no Evangelho, mas que parece tão esquecido no mundo?

Agradecei a Jesus, agradecei a Santa Maria; e renovai vosso desejo de corredenção e apostolado. Que grande trabalho nos espera! Porque aquele que começou em nós a Obra a levará até o fim57.

Que o Senhor guarde esses meus filhos.

Madri, 16 de julho de 1933

ÍNDICE DE TEXTOS DA SAGRADA ESCRITURA

Antigo Testamento

Gênesis (Gn)

2, 7 2.26

25, 29-34 2.23; 3.43

1 Reis (1 Rs)

3, 6 1.23; 3.32

3, 6.9 2.42; 2.47

1 Crônicas (1 Cr)

29, 17 4.3

Tobias (Tb)

12, 13 2.20

Jó (Jó)

1, 1 1.4

7, 1 2.10

7, 7 1.19

Salmos (Sl)

2, 11-12 3.88

6, 3-4 2.20

11 [10], 6 (Nv) 4.8

18 [17], 2-3 2.7

18 [17], 28 2.4

19 [18], 11 2.19

30 [29], 2-5 2.27

35 [34], 13 2.21

37 [36], 23-24 2.26

40 [39], 7-9 3.83

43 [42], 2 2.25; 2.49

51 [50], 19 2.29

56 [55], 2-3 2.1

62 [61], 13 3.85

69 [68], 10 3.73

71 [70], 7 2.30

73 [72], 21 3.73

86 [85],3-4 3.15

86 [85],3.5 2.16

89 [88],2 1.3

96 [95],1 3.3

100 [99], 2 3.5; 3.65

103 [102], 15 3.85

104 [103], 31 3.93

105 [104], 4 3.15

106 [105], 1 2.62

118 [117], 13 2.21

119 [118], 106 2.23

130 [129], 1-8 2.26

138 [137], 6 3.90

139 [138], 1-12 2.35

143 [142], 9-10 2.13

Provérbios (Pr)

8, 31 2.59

10, 9 2.54

24, 16 2.11

Eclesiastes (Ecl)

3, 11 3.57

4, 10 2.56

Cântico dos Cânticos (Ct)

2, 15 1.16

Sabedoria (Sb)

3, 11 2.8

10, 17 2.8

Eclesiástico (Eclo)

8, 5 1.4

19, 1 1.16

24, 29 2.10

31, 10-11 2.47

39, 6-11 2.54

Isaías (Is)

21, 11 2.13

43, 1 2.20

49, 2 3.77

Jeremias (Jr)

16, 16-17 3.13

23, 8 3.13

23,16-17.32 2.37

29, 11 4.1

Ezequiel (Ez)

33,11-12 2.11

Daniel (Dn)

2, 32-33 2.2

2, 34-35 2.2

Novo Testamento

São Mateus (Mt)

2, 1-3 1.6

4, 19 3.11

4, 19-20 3.10

5, 13-14 1.22; 3.35

5, 16 1.21; 3.35

5, 48 1.2; 1.19

5, 48 3.6

6, 1 3.65

6, 16 3.65

6, 24 3.83

7, 24-27 2.7

8, 21-22 3.10

9, 32-33 2.38

9, 35-38 3.8

9, 37 3.85

10, 34 2.9

11, 14-15 4.21

11, 29 3.71

13, 24 2.13

13, 25 2.13

13, 26 2.13

13, 33 1.5

13, 34 3.36

13, 36 2.13

13, 44-45 3.9

13, 47 3.12

13, 55 1.20

15, 32 2.53

18, 15 2.56

19, 17-20 4.18

20, 7 4.24

20, 9 2.55

22, 21 3.41

20, 28 2.33; 3.40; 3.86

23, 1-4 3.34

23, 5 3.34

24, 13 2.43

25, 21 1.19

26, 41 2.13

26, 50 3.71

27, 16-26 2.55

São Marcos (Mc)

2, 9 1.22

6, 34 1.1

6, 48 2.1

6, 50-51` 2.1

9, 24 2.38

10, 35-39 2.49

11, 22-24 2.52

São Lucas (Lc)

1, 38 1.20

5, 4-8 2.28

5, 8 1.2

5, 10 2.28

6, 38 1.23

7, 6-7 2.54

7, 12-15 2.27

7, 14 1.22

7, 17 4.21

7, 18-19 4.21

7, 22 4.21

8, 5 4.5

8, 45 2.61

9, 54 4.6

9, 56 (Vg) 4.6

9, 61-62 3.10

11, 1 4.17

11, 2 4.17

10, 17 1.23

11, 24-26 2.46

12, 43 3.36

12, 48 3.10

12, 49 1.23

15, 2 4.10

15, 7 4.23

18, 23 4.18

19, 5 4.2

19, 45-46 3.72

20, 20 2.53

22, 24 2.48

23, 34 4.24

23, 39 4.18

23, 40-42 4.18

23,40-43 2.55

23, 43 4.18

São João (Jo)

1, 9 3.29

1, 19 4.21

1, 20.23 4.21

2, 17 3.72; 3.83

3, 2 4.18

3, 3 4.18

3, 16-17 3.19

3, 17 3.29

3, 27 2.31

3, 30 1.21; 2.33; 3.81

4, 5-6 2.51

4, 7 2.51

4, 9 4.18

4, 13 1.18

4, 29 4.18

4, 31-34 2.51

4, 39 4.18

4, 42 4.18

5, 7 4.24

6, 26 2.44

6, 28-30 2.44

6, 34 2.44

6, 67-70 2.44

7, 38 2.52

8, 12 2.17

8, 46 2.29

9, 1-3 2.16

9, 6-7 2.16

11, 3 3.33

11, 35 3.33

11, 39 3.87

12, 32 3.2

13, 23 3.75

13, 34 4.14

13, 36-38 2.32

14, 13 3.93

14, 21 2.19

15, 5 2.58

15, 13 3.71

15, 15 3.33; 3.71; 4.1

17, 15 3.47

17, 18 3.36

17, 21-22 3.21

18, 40 2.55

19, 11 3.60

21, 2 1.21

21, 17 2.24; 3.37

Atos dos Apóstolos (At)

1, 1 3.28; 4.5

2, 18 3.16

2, 42 2.61

10, 38 3.33

20, 28 3.50

Romanos (Rm)

1, 20 3.29

6, 3-4 2.49

7, 24 2.45

7, 47 3.82

8, 28 2.55; 2.23

8, 29 3.19

10, 13-14 4.13

11, 33 2.19

12, 14.17 3.74

12, 18 3.74

13, 1-6 3.60

14, 1 3.70

14, 17 1.5

15, 1-2 3.70

15, 1.3 3.81

15, 5-6 3.71

1 Coríntios (1 Cor)

1, 12 4.19

1, 13 4.19

1, 23 3.40

1, 27-29 3.89

3, 4-7 1.21

3, 18 3.58

5, 6 1.23

7, 29 3.85

9, 19-22 4.13

9, 22 3.68; 4.15

9, 24-25 2.59

10, 12-13 2.2

10, 31 3.5

11, 7 3.35

14, 6 3.28

14, 9-11 3.28

15, 12-14.19 2.55

15, 53 1.16

16, 24 3.13; 4.3

2 Coríntios (2 Cor)

1, 12 2.38

2, 15 3.64

3, 17 1.2

3, 17-18 3.39

4, 7 2.45

4, 15-18 2.15

5, 14 3.40; 4.3

9, 6 3.7

12, 7-10 2.31

12, 9 2.45

Gálatas (Gl)

2, 20 3.90

4, 1-7 3.16

4, 31 3.42; 4.3

5, 6 2.44

6, 15 4.5

Efésios (Ef)

1, 4 2.20; 2.47

1, 10 3.2

4, 2 3.69

4, 15 3.67; 4.14

5, 32 2.45

Filipenses (Fl)

1, 6 2.49; 3.93; 4.26

1, 10 2.34

2, 7 3.71; 3.71

3, 12 2.9

4, 4 2.14

4, 13 2.49; 2.58; 3.86

Colossenses (Cl)

3, 3 1.20

3, 17 3.5

1 Tessalonicenses (1 Ts)

2, 4 3.15

2 Tessalonicenses (2 Ts)

3, 3 4.26

1 Timóteo (1 Tm)

1, 15 3.68

1, 17 1.21; 3.81

2, 1-4 3.68

2, 4 3.13; 4.2

2, 6 3.82

Hebreus (Hb)

2, 10-13 3.18

5, 2 4.10

9, 27 2.43

10, 5-7 3.83

12, 1-2 2.14

Tiago (Tg)

2, 1-6 3.39

2, 14.26 3.34

5, 18 3.37

1 Pedro (1 Pe)

1, 24-25 2.43

2, 2 2.5

5, 2 1.1

5, 9 4.9; 4.26

2 Pedro (2 Pe)

1, 4 2.3

1 João (1 Jo)

2, 16 3.58

2, 29 3.18

3, 1-2 3.18

3, 9-10 3.19

3, 18 1.23

4, 5 3.36

Apocalipse (Ap)

3, 20 3.9

ÍNDICE TEMÁTICO

ABANDONO EM DEUS

2.25

ACOMPANHAMENTO ESPIRITUAL

(sinceridade) 2.40-41

AMIZADE

(fecundidade apostólica e sobrenatural) 3.33

AMOR A DEUS

(na santificação do ordinário) 1.18-19, 2.19; (e santidade) 2.55; (contrição) 2.24-25

APOSTOLADO

(de amizade e confidência) 1.11, 3.33, 4.1-2; (importância do bom exemplo) 1.4, 1.6, 3.28-29, 3.34-35, 3.37, 4.5; (dos leigos) 3.32; (e paz) 3.38, 4.4-5; (espírito universal, sem discriminações) 3.68, 4.15, 4.25; (e liberdade) 3.77; (evitar toda ambição humana) 3.83; (com intelectuais, para chegar a todos) 3.87; (perigo da soberba) 3.87-88; (ensinar a doutrina de Cristo) 1.3, 3.28, 3.36, 4.1; (afogar o mal em abundância de bem) 4.6; (transigência-intransigência) 4.8; (abertos a todos, saber escutar) 4.13; (influência cristã no ambiente) 1.11

ARTE SACRA

3.22

CARIDADE

(coração grande e paciência) 2.56; (sem discriminações, acolher a todos) 3.39, 3.66-67, 4.2; (e unidade) 3.69; (amizade aberta a todos) 3.75, 4.1-2; (com os equivocados) 4.11, 4.20, 4.24; (e amor à liberdade) 4.13-14; (ao julgar) 4.21; (deve crescer sempre) 1.9, 2.9

COMPREENSÃO

(e paz) 3.70, 4.3, 4.4-5; (santa transigência no que é pessoal, por caridade; santa intransigência com o erro) 3.71-72, 4.6, 4.8, 4.9, 4.22-23, 4.25; (e paciência no apostolado) 3.76; (e bom exemplo) 4.5; (superar os particularismos) 4.5; (e tolerância) 4.12; (fugir de todo fanatismo) 4.12; (relacionamento com os conversos) 4.23

COMUNHÃO DOS SANTOS

2.56

CONSCIÊNCIA

2.36-37

CONTEMPLAÇÃO

(normas de piedade e santidade) 2.59; (na vida ordinária) 1.17, 2.59, 3.13-15

CONTRIÇÃO

2.11; (perante o desalento) 2.24-25

COISAS PEQUENAS

1.13, 1.16

CRISE

(e fidelidade à vocação) 2.22-23

DESALENTO

2.28-29

DEUS

(união com Ele em tudo) 2.58, 2.61; (confiança) 2.7, 2.14; (ser fiéis a Ele por amor) 2.12ENTREGA

(à missão recebida) 1.22; (fidelidade a Deus e aos outros) 1.23

ESPERANÇA

2.55

EXEMPLOS GRÁFICOS

(fermento) 1.5; (o garçom e a pesca) 1.12; (a roupa jogada) 1.14; (Tartarin de Tarascon) 1.18-19; (menino generoso) 1.19; (estátua com pés de barro) 2.2; (pó que brilha) 2.4; (a cizânia) 2.13; (generosidade de Alexandre Magno) 2.25; (grampos) 2.26; (conto do cigano) 2.39; (vergonha diante das visitas) 2.39; (pedrinhas nos bolsos) 2.40; (o doente diante do médico) 2.41; (os elos) 2.56; (o homem nas asas de um avião) 2.58

2.44, 2.49-50; (diante da escuridão interior) 2.16-17; (em Jesus Cristo) 2.52-53; (omnia in bonum) 2.55; (defender a fé) 3.72-73, 4.8; (fidelidade à Revelação) 4.7-8

FIDELIDADE

(o remédio da sinceridade) 2.42; (a Deus) 2.12, 2.43; (e santa pureza) 2.45; (perseverança e lealdade) 2.48; (e esperança) 2.55; (à Revelação) 4.7-8; (como atuar perante uma crise) 2.22-23

FILIAÇÃO DIVINA

2.59-60, 3.16, 3.18-19; (e aridez interior) 2.18

FORMAÇÃO CRISTÃ

(ensinar os deveres cívicos) 3.45-46; (ignorância religiosa) 3.27

FUNDADOR

3.84

GRAÇA DIVINA

(a vocação) 2.47; (endeusamento bom) 2.3, 2.6

HUMILDADE

2.2, 2.30, 2.33, 2.36-37; (instrumentos de Deus) 2.26; (e endeusamento bom) 2.6, 2.29; (e sinceridade) 2.38;

(e juízo próprio) 2.50; (na vida pública) 3.58-60; (pessoal e coletiva) 3.64-66; (no apostolado) 3.87-88; (esquecimento próprio) 2.15; (passar despercebidos) 1.20; (perigos da soberba) 2.4; (e retidão de intenção) 1.21; 3.81

IGREJA

(servi-la sem servir-se dela) 3.52, 3.55, 3.82; (união com o Ordinário) 3.21

INSTRUMENTOS DE DEUS

2.31; 3.89-90

JESUS CRISTO

(pô-lo no cume das atividades humanas) 3. 2; (ser corredentores) 3.40; (identificação com Ele) 3.86; (seguir seu exemplo em acolher a todos) 4.2, 4.16-19; (é a rocha onde apoiar-se) 2.7; (levar as pessoas a Ele) 1.22

LIBERDADE (respeitá-la e defendê-la) 2.56, 3.1, 3.48-49, 3.77, 4.8, 4.13-14; (dos membros do Opus Dei) 3.42, 3.43-45; (unidade e diversidade dos católicos nas coisas temporais) 2.46; (e alegria) 2.59, 2.61-62

LUTA ASCÉTICA

1.9, 2.49; (recomeçar) 2.46; (e alegria) 2.59, 2.61-62

MAL

(reagir perante sua difusão) 2.13; (afogá-lo com o bem) 4.6

MISERICÓRDIA DE DEUS

1.1

MORTIFICAÇÃO E PENITÊNCIA

1.15

NATURALIDADE E SIMPLICIDADE

1.4; (cristãos correntes) 1.8, 3.63-64; (não ao segredo) 1.7

OBRAS DE APOSTOLADO

3.78-79; (fim espiritual e apostólico) 3.80; (humildade e retidão de intenção) 3.81; (o qualificativo “católico”) 3.23-26

OBSTÁCULOS

(na vida interior) 2.10

OPUS DEI

(na Igreja) 3.1, 3.93; (não tem política) 3.42, 3.50; (liberdade e responsabilidade pessoal dos membros) 3.43-45, 3.47-48; (não ao segredo) 3.62; (sua missão de difundir a chamada à santidade no mundo) 3.91-92; (aprovação eclesiástica) 3.93; (semeadura de paz e de alegria) 4.26

ORAÇÃO

2.54

OTIMISMO

2.14

PAZ

(interior) 2.15; (consequência do apostolado) 3.38

POBREZA:

(nas obras apostólicas) 3.80

REPARAÇÃO E EXPIAÇÃO

3.83

RETIDÃO DE INTENÇÃO

(e humildade) 1.21; 3.81

ROMANO PONTÍFICE

3.20

SANTA PUREZA

2.45

SANTIDADE

(busca) 2.57; (e amor a Deus) 2.55; (e normas de piedade) 2.59; (e santificação do trabalho) 3.3-4; (e vida ordinária) 1.10, 1.12, 1.18-19, 3.91; (chamada universal a ela) 1.2, 1.19, 3.12, 3.40, 3.91-92

SANTOS

3.73

SECULARIDADE

1.5, 3.30-31

SERENIDADE

2.15

SINCERIDADE

(com Deus) 2.34; (consigo mesmo) 2.35; (na luta ascética) 2.38, 2.40; (para se deixar ajudar espiritualmente) 2.40-41; (para perseverar na vocação) 2.42

TENTAÇÕES

2.20-21; 2.47

TRABALHO

(virtudes que entram em jogo) 3.4; (e santidade) 3.5-6; (serviço) 3.7, 3.26

UNIDADE

4.10, 4.19

UNIDADE DE VIDA

3.13-15, 3.34-35, 4.3

UNIVERSALIDADE

3.13, 4.15, 4.25

VERDADE

(defendê-la com amabilidade) 3.73-74, 4.12, 4.25; (todo erro pode ter uma parte de verdade) 4.11; (o ceticismo) 4.12

VIDA INTERIOR

(começar e recomeçar) 2.27; (e oração) 2.54; (o que fazer se existe escuridão interior) 2.16-17; (perante a aridez) 2.18; (tempos de bonança) 2.5

VIDA PÚBLICA

(missão dos cristãos) 3.40-41, 3.42, 3.46, 3.49; (nem laicismo nem clericalismo) 3.41; (afã de serviço e buscar o bem comum) 3.43; (liberdade e responsabilidade pessoal) 3.47-48; (e orientações da Hierarquia eclesiástica) 3.50; (o problema do partido único confessional) 3.53-55; (pluralismo) 3.56; (riscos da política sem espírito cristão) 3.57; (humildade no exercício da autoridade) 3.58-60; (retidão de intenção, desprendimento) 3.61

VIRGEM SANTÍSSIMA

2.62-63

VIRTUDES

1.14; 4.9

VOCAÇÃO

1.23, 3,8-10; (exemplos no Evangelho) 3.10-11; (unidade) 3.11; (ao Opus Dei) 3.13, 3.85-86; (como agir perante uma crise) 2.22-23, 2.47

GLOSSÁRIO de alguns termos e expressões usados por são Josemaria

Apontamentos íntimos: cadernos manuscritos nos quais Josemaria Escrivá anotou fatos e impressões pessoais, geralmente de caráter espiritual, nos primeiros anos da fundação do Opus Dei.

Barro nas asas: metáfora que expressa o peso e o entorpecimento espiritual que se percebe na alma por causa do pecado.

Correção fraterna: ensinada por Cristo (cf. Mt 18,15), no Opus Dei trata-se de uma advertência afetuosa a outra pessoa, realizada a sós e com a máxima delicadeza, depois de verificar com o diretor competente, para corrigir um hábito ou uma falta externa, ou para ajudar a progredir em determinada virtude.

Costumes: refere-se ao conjunto de práticas de piedade dos membros do Opus Dei, complementares às Normas do plano de vida.

Demônio mudo: figura tomada do Evangelho (cf. Mt 9, 32-33; Mc 9, 24) para descrever um tipo de influência diabólica que leva a não dizer — na confissão ou na direção espiritual — algo que causa vergonha.

“Está predestinado, se persevera até o fim”: refere-se à união com Deus que trazem a oração, os sacramentos e a vida contemplativa, que dispõem a alma de modo insuperável para receber a salvação eterna.

“Doce Cristo na terra”: expressão que aparece, com diversas variantes, sempre em relação ao Papa, nos escritos de Santa Catarina de Sena, de onde são Josemaria a toma.

Humildade de fachada: humildade falsa e afetada.

Grampos: arames que se usavam antigamente para consertar os objetos de cerâmica quebrados. Na pregação e nos escritos de São Josemaria, significam metaforicamente os remédios que Deus aplica para reparar os efeitos do pecado na alma.

Minutos heroicos: na linguagem ascética de São Josemaria, significam pequenos sacrifícios que ajudam na ordem e na eficácia do trabalho: a realização do que se deve fazer no momento em que se deve fazer, sem atrasos, sem preguiça.

Normas: as “Normas de piedade”, as “Normas do plano de vida” ou, simplesmente, “as Normas” designam o conjunto de práticas de piedade que marcam a vida dos fiéis do Opus Dei (a Santa Missa, a oração mental, a recitação do Rosário, a leitura espiritual etc.), ajudando-os a manter um diálogo contínuo com Deus no meio de suas tarefas.

Plano de vida espiritual: conjunto de práticas de piedade (as Normas) e de costumes cristãos que se vivem para crescer no amor a Deus. A expressão pertence à tradição espiritual.

Primeiro literato de Castela: refere-se a Miguel de Cervantes (1547-1616).

Queimar as naus: frase inspirada na vida de Hernán Cortés (1485-1547), a qual passou para a linguagem popular como exemplo proverbial de determinação para cumprir uma missão, renunciando de antemão a qualquer possibilidade de retirada.

“O segredo da gestação”: ou seja, a situação embrionária em que se encontrava o Opus Dei nos seus primeiros momentos após a fundação.

Notas
1

Jo 15, 15.

2

Cf. Jr 29, 11.

3

SÃO Cipriano de Cartago, De bono patientiae, 15 (CSEL 8, pp. 407-408).

Referências da Sagrada Escritura
Notas
4

Lc 19, 5.

5

1 Tm 2, 4.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
6

Cf. 2 Cor 5, 14.

7

1 Cor 16, 24.

8

Gl 4, 31.

9

1 Cr 29, 17.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
10

Lc 8, 5.

11

Cf. At 1, 1.

12

Gl 6,15; “in Christo [...] nova criatura”: “porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão nem a falta de circuncisão importam, mas a nova criatura”.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
13

Cf. Lc 9, 54.

14

Lc 9, 56 (Vg).

Referências da Sagrada Escritura
Notas
15

Sl 11 [10], 6 (Nv).

Referências da Sagrada Escritura
Notas
16

1 Pe 5, 9.

17

Resposta incoerente, que evidencia a ignorância de alguém que não quer admitir sua falta de conhecimento. Santo Isidoro de Sevilha faleceu no século VII, enquanto a Giralda é um minarete construído em Sevilha durante a ocupação muçulmana, no século XII, e que veio a se transformar na torre do campanário da catedral dessa cidade em meados do século XIII. (N. do T)

Referências da Sagrada Escritura
Notas
18

Hb 5, 2.

19

Cf. Lc 15, 2.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
20

FULGENCIO AFÁN DE RIBERA, La virtud al uso y mística á la moda, destierro de la hipocresía en frase de eshortacion á ella, embolismo moral (1729), Madri, Ibarra, 1820, pp. 56-57 [N. do E.].

Notas
21

1 Cor 9, 19-22.

22

Rm 10, 13-14.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
23

Jo 13,34.

24

Cf. Ef 4, 15.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
25

1 Cor 9, 22.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
26

Ad Diognetum, 5, 1.5 (SC 33, p. 63).

Notas
27

Lc 11, 1.

28

Lc 11 ,2.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
29

Jo 3, 2.

30

Jo 3, 3.

31

Jo 4, 9.

32

Jo 4, 13.

33

Jo 4, 29.

34

Jo 4, 39.

35

Jo 4, 42.

36

Lc 18,18.

37

Mt 19, 17-20.

38

Lc 18, 23.

39

Lc 18, 22.

40

Lc 23, 39.

41

Lc 23, 40-42.

42

Lc 23, 43.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
43

1 Cor 1, 13.

44

1 Cor 1, 12.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
45

Jo 1, 19.

46

Mt 11, 14-15.

47

Jo 1, 20.23.

48

Lc 7, 17.

49

Lc 7, 18-19.

50

Lc 7, 22.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
51

Lc 15, 7.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
52

Jo 5, 7.

53

Mt 20, 7.

54

Lc 23, 34.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
55

2 Ts 3, 3.

56

1 Pe 5, 9.

57

Cf. Fl 1, 6.

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