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Tende presente que, sejam quais forem as circunstâncias do país, sempre poderemos praticar essa afetuosa caridade: pauperes enim semper habetis vobiscum41; sempre haverá pobres, sempre haverá alguém mais necessitado – embora se consiga que a maioria do povo tenha um mínimo de bem-estar material – que receba com alegria um pequeno obséquio extraordinário, algo que ordinariamente não pode permitir-se e que é, de modo especial, como um veículo pelo qual chega um pouco de delicadeza e de fraterna companhia.
Atrevo-me a dizer que, quando as circunstâncias sociais parecem ter despejado de um ambiente a miséria, a pobreza ou a dor, precisamente então se torna mais urgente essa agudeza da caridade cristã, que sabe adivinhar onde há necessidade de consolo no meio do aparente bem-estar geral.
A generalização dos remédios sociais contra as pragas do sofrimento ou da indigência – que hoje tornam possível conseguir resultados humanitários com que em outros tempos nem se sonhavam – não poderá suprir nunca, porque esses remédios estão em outro plano, a ternura eficaz – humana e sobrenatural – desse contato imediato, pessoal, com o próximo: com aquele pobre de um bairro vizinho, com aquele outro doente que vive a sua dor em um hospital imenso, ou com aquela outra pessoa – rica, talvez – que precisa de um tempo de conversa afetuosa, de uma amizade cristã para a sua solidão, de um amparo espiritual que diminua suas dúvidas e seus ceticismos.
Talvez em ambientes onde predomine um sentido materialista da vida, isso não se compreenda; por isso vos dizia antes que – entendei-o – requer um mínimo de vida interior, de visão cristã, de amor a Deus e ao próximo.
Documento impresso de https://escriva.org/pt-br/cartas-2/153/ (19/11/2025)