Mistérios Luminosos
NOTA INTRODUTÓRIA
O Santo Padre João Paulo II, na sua Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, indicou que, pelo caráter cristológico desta devoção mariana, aos quinze mistérios tradicionais se acrescentassem cinco novos, aos quais chamou “mistérios luminosos”.
Os comentários a estes mistérios não figuravam no livro Santo Rosário, escrito em 1931, mas São Josemaria, ao longo de toda a sua vida, contemplou-os e pregou-os com amor, como todas as passagens do Evangelho. Para facilitar aos leitores a meditação completa do Santo Rosário, foram tomados dos escritos do Fundador do Opus Dei alguns textos, dentre os muitos possíveis, que foram reunidos neste apêndice.
Seremos fiéis ao espírito do autor do Santo Rosário se, cada vez que rezarmos os mistérios gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos, nos unirmos às intenções do sucessor de Pedro, Bispo de Roma. Omnes cum Petro ad Iesum per Mariam!
Roma, 14 de fevereiro de 2003.
Javier Echevarría
Prelado do Opus Dei (1994-2016)
Então Jesus veio da Galileia ao Jordão, para ser batizado por João [...]. E uma voz dos céus disse: Este é o meu Filho, o amado, em quem pus as minhas complacências (Mt III, 13.17).
Pelo Batismo, o nosso Pai-Deus tomou posse das nossas vidas, incorporou-nos à vida de Cristo e enviou-nos o Espírito Santo.
A força e o poder de Deus iluminam a face da terra.
Faremos com que o mundo arda, nas chamas do fogo que vieste trazer à terra... E a luz da tua verdade, Jesus nosso, iluminará as inteligências, num dia sem fi m.
Ouço-te clamar, meu Rei, com voz viva, que ainda vibra: Ignem veni mittere in terram, et quid volo nisi ut accendatur? – e respondo – todo eu – com os meus sentidos e as minhas potências: Ecce ego: quia vocasti me! O Senhor pôs na tua alma um selo indelével, por meio do Batismo: és filho de Deus.
Menino: não ardes em desejos de fazer que todos O amem?
Entre tantos convidados de uma dessas ruidosas bodas do meio rural, a que comparecem pessoas de vários povoados, Maria percebe que falta vinho (cf. Ioh II, 3). Só Ela o percebe, e imediatamente. Como se nos revelam familiares as cenas da vida de Cristo! Porque a grandeza de Deus convive com o normal e o corrente. É próprio de uma mulher e de uma diligente dona de casa notar um descuido, prestar atenção a esses pequenos detalhes que tornam agradável a existência humana: e foi assim que Maria se comportou.
– Fazei o que Ele vos disser (Ioh II, 5).
Implete hydrias (Ioh II, 7), enchei as talhas, e o milagre vem. Assim, com essa simplicidade. Tudo normal. Aqueles cumpriam o seu ofício. A água estava ao alcance das mãos. E é a primeira manifestação da Divindade do Senhor. O mais vulgar converte-se em extraordinário, em sobrenatural, quando temos a boa vontade de atender ao que Deus nos pede.
Quero, Senhor, abandonar todos os meus cuidados nas tuas mãos generosas. A nossa Mãe – a tua Mãe! –, a estas horas, como em Caná, já fez soar aos teus ouvidos: – Não têm!...
Se a nossa fé for débil, recorramos a Maria. Conta São João que, devido ao milagre das bodas de Caná, que Cristo realizou a pedido de sua Mãe, os seus discípulos creram nEle (Ioh II, 11). A nossa Mãe intercede sempre diante do seu Filho para que nos atenda e se nos revele de tal modo que possamos confessar: Tu és o Filho de Deus.
Dá-me, ó Jesus, essa fé, que de verdade desejo! Minha Mãe e Senhora minha, Maria Santíssima, faz que eu creia!
Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está para chegar: convertei-vos e crede no Evangelho (Mc I, 15).
Toda a multidão ia até Ele, e Ele os ensinava (Mc II, 13).
Jesus vê aquelas barcas na margem e sobe numa delas [...]. Com que naturalidade se mete Jesus na barca de cada um de nós!
Quanto te aproximares do Senhor, pensa que Ele está muito perto de ti, em ti: regnum Dei intra vos est (Lc XVII, 21). Encontrá-lo-ás no teu coração.
Cristo deve reinar, acima de tudo, na nossa alma. Para que Ele reine em mim, preciso da sua graça em abundância: só assim é que até o último latejo do coração, até o último alento, até o olhar menos intenso, até a palavra mais intranscendente, até a sensação mais elementar se traduzirão num hosanna ao meu Cristo-Rei.
Duc in altum – Mar adentro! – Repele o pessimismo que te torna covarde. Et laxate retia vestra in capturam – e lança as redes para pescar.
Devemos confiar nessas palavras do Senhor, entrar na barca, empunhar os remos, içar as velas e lançar-nos a esse mar do mundo que Cristo nos entrega em herança.
Et regni ejus non erit finis. — O seu Reino não terá fim!
Não te dá alegria trabalhar por um reinado assim?
E transfigurou-se diante deles, de modo que o seu rosto se tornou resplandecente como o sol, e as suas vestes brancas como a luz (Mt XVI, 2).
Jesus: ver-Te, falar contigo! Permanecer assim, contemplando-Te, abismados na imensidade da tua formosura, e não cessar nunca, nunca, nessa contemplação! Oh, Cristo, quem Te pudesse ver! Quem Te pudesse ver, para ficar ferido de amor por Ti.
E uma voz vinda da nuvem disse: Este é o meu Filho, o Amado, em quem tenho as minhas complacências; escutai-o (Mt XVII, 5).
Senhor nosso, aqui nos tens dispostos a escutar tudo o que queiras dizer-nos. Fala-nos, estamos atentos à tua voz. Que as tuas palavras, caindo na nossa alma, abrasem a nossa vontade para que se lance fervorosamente a obedecer-Te.
Vultum tuum, Domine, requiram (Ps XXVI, 8), buscarei, Senhor, o teu rosto. Encanta-me fechar os olhos e pensar que chegará o momento, quando Deus quiser, em que poderei vê-lo, não como em um espelho, e sob imagens obscuras..., mas face a face (I Cor XIII, 12). Sim, o meu coração está sedento de Deus, do Deus vivo: quando irei e contemplarei a face de Deus? (Ps XLI, 3)
Na véspera da festa da Páscoa, como Jesus sabia que havia chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim (Ioh XII, 1).
Caía a noite sobre o mundo, porque os velhos ritos, os antigos sinais da misericórdia infinita de Deus para com a humanidade se iam realizar plenamente, abrindo caminho a um verdadeiro amanhecer: a nova Páscoa. A Eucaristia foi instituída durante a noite, preparando de antemão a manhã da Ressurreição.
Jesus ficou na Eucaristia por amor..., por ti.
Ficou, sabendo como é que os homens O receberiam..., e como é que tu O recebes.
Ficou, para que O comas, para que O visites e Lhe contes as tuas coisas e, tratando-O com intimidade na oração junto do Sacrário e na recepção do Sacramento, te enamores mais de dia para dia, e faças que outras almas – muitas! – sigam o mesmo caminho.
Menino bom: os apaixonados desta terra, como beijam as flores, a carta, uma lembrança da pessoa que amam!...
E tu? Poderás esquecer-te alguma vez de que O tens sempre ao teu lado..., a Ele!? – Esquecerás... que O podes comer?
– Senhor, que eu não torne a voar colado à terra!, que esteja sempre iluminado pelos raios do divino Sol – Cristo – na Eucaristia!, que o meu voo não se interrompa enquanto não alcançar o descanso do teu Coração!
Documento impresso de https://escriva.org/pt-br/santo-rosario/misterios-luminosos/ (01/02/2025)