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Com esta disposição entregue, não duvideis de que o Senhor concederá a nós, cristãos, o que São Paulo pedia: queira o Deus da paciência e da consolação conceder-vos a graça de estardes sempre unidos em sentimentos e afetos segundo o Espírito de Jesus Cristo, para que, tendo um só coração e uma só boca, unanimemente glorifiqueis a Deus, o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo90.
Esta dedicação, esta compreensão, esta caridade, esquecendo dos nossos direitos, faz-nos ceder —conceder — em tudo o que seja nosso, em todas as nossas coisas pessoais, até onde chegou Jesus Cristo. O Senhor nos disse para aprendermos com Ele: discite a me quia mitis sum et humilis corde91; para viver essa mansidão, essa humildade, essa santa transigência com tudo o que é pessoal, basta-nos contemplar Jesus, que semetipsum exinanivit formam servi accipiens, in similitudem hominum factus et habitu inventus ut homo92; que se aniquilou, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhante aos demais homens e reduzido à condição de homem.
A aniquilação de Nosso Senhor não teve limites. Sua santa transigência chegou até a morte mais ignominiosa: humiliavit semetipsum factus obediens usque ad mortem, mortem autem crucis93; aniquilou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. E o fez por amor aos homens, a quem chama de amigos, mesmo que não queiram sê-lo. Vos autem dixi amicos94, diz aos discípulos que vão deixá-lo sozinho na hora da prova. Amice, ad quid veniste? 95, a que vieste, amigo?, diz ao próprio Judas, que vem entregá-lo.
E por amor a todos — aos seus amigos que querem ser fiéis, apesar de estarem cheios de misérias; e aos que não querem ser seus amigos —, Jesus Cristo deixa-se maltratar, insultar, crucificar. Maiorem hac dilectionem nemo habet, ut animam suam ponat quis pro amicis suis96; ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos.
Documento impresso de https://escriva.org/pt-br/cartas-1/157/ (17/11/2025)