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Devemos estar sempre voltados para a multidão, pois não há criatura humana que não amemos, que não procuremos ajudar e compreender. Interessamo-nos por todos, porque todos têm uma alma a salvar, porque podemos levar para todos, em nome de Deus, um convite a buscar no mundo a perfeição cristã, repetindo-lhes: estote ergo vos perfecti, sicut et Pater vester caelestis perfectus est 3; sede perfeitos, como é o vosso Pai celestial.
Os mártires seguiram Cristo, mas não apenas eles, escreveu Santo Agostinho; e continuou com um estilo gráfico, mas barroco: há no jardim do Senhor não apenas as rosas dos mártires, mas também os lírios das virgens, a hera dos casados e as violetas das viúvas. Queridíssimos, que ninguém se desespere da sua vocação: Cristo morreu por todos4.
Com que força o Senhor fez ressoar essa verdade ao inspirar sua Obra! Viemos dizer, com a humildade de quem se sabe pecador e pouca coisa —homo peccator sum5, dizemos com Pedro —, mas com a fé de quem se deixa guiar pela mão de Deus, que a santidade não é coisa para privilegiados: que o Senhor chama todos nós, que de todos espera Amor: de todos, onde quer que estejam; de todos, seja qual for seu estado, sua profissão ou seu ofício. Porque essa vida corrente, ordinária, sem aparência, pode ser um meio de santidade: não é necessário abandonar a própria condição no mundo para buscar a Deus se o Senhor não dá à alma uma vocação religiosa, pois todos os caminhos da terra podem ser ocasião de encontro com Cristo.
O nosso é um caminho com formas muito diversas de pensar o temporal — nos campos profissional, científico, político, econômico etc. —, com liberdade pessoal e com a consequente responsabilidade também pessoal, a qual ninguém pode atribuir à Igreja de Deus ou à Obra, e que cada um sabe suportar com valentia e sensatez. Por isso, a nossa diversidade não é um problema para a Obra: pelo contrário, é uma manifestação de bom espírito, de uma vida corporativa limpa, de respeito à legítima liberdade de cada um, porque ubi autem SpiritusDomini, ibi libertas6; onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.
Documento impresso de https://escriva.org/pt-br/cartas-1/2/ (15/11/2025)