9
Dizia-vos que há, ao longo desta navegação da nossa vida, tempos de bonança — interna ou externa — até mesmo prolongados; mas só no Céu a paz é definitiva, a serenidade é completa. Jesus Cristo disse: não deveis pensar que vim trazer paz à terra: não vim trazer a paz, mas a guerra17.
Um homem vai se fazendo pouco a pouco e nunca chega a fazer-se por completo, a realizar em si mesmo toda a perfeição humana de que a natureza é capaz. Em certo aspecto, pode até se tornar o melhor em relação a todos os outros e, talvez, ser insuperável naquela atividade natural particular. No entanto, como cristão, seu crescimento não tem limites: sempre pode crescer em caridade, que é a essência da perfeição. Porque a caridade, segundo a sua própria razão específica, não tem limite em seu aumento, sendo como é uma participação na caridade infinita, que é o Espírito Santo. Também a causa do aumento da caridade — isto é, Deus — é infinita em seu poder. Da mesma forma, também não se pode estabelecer termo para esta melhora por parte do sujeito: porque sempre, à medida que cresce a caridade, cresce também a capacidade de aperfeiçoamento ulterior. Portanto, deve-se concluir que nesta vida não se pode fixar previamente um limite para o aumento da caridade18.
Ouvi o testemunho de Paulo: não é que eu já tenha alcançado tudo, ou que já seja perfeito; mas prossigo em minha carreira para ver se alcanço o que me foi destinado por Jesus Cristo19. São Paulo era um caminhante perfeito, e por isso mesmo sabia que não havia alcançado a perfeição à qual esse caminho conduzia20. Não vos surpreenda, portanto, que eu vos diga com Santo Agostinho: corramos, prossigamos, estamos no caminho; que a venturosa segurança das coisas passadas não nos torne menos diligentes em relação àquelas que ainda não alcançamos21.
Mt 10, 34.
S.Th. II-II, q. 24, a. 7 c.
Fl 3,12.
Cf. SANTO AGOSTINHO DE HIPONA, De peccatorum meritis et remissione et de Baptismo parvulorum ad Marcellinum libri tres, II, c. 13, 20 (CSEL 60, p. 93). [N. do E.]
SANTO AGOSTINHO DE HIPONA, Enarrationes in Psalmos, 38, 6 (CChr.SL 39, p. 1179).
Documento impresso de https://escriva.org/pt-br/cartas-1/32/ (17/11/2025)