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O amigo verdadeiro não pode ter duas caras para o seu amigo: a amizade, se há de ser leal e sincera – vir duplex animo inconstans est in omnibus viis suis112; o homem falso, de ânimo duplo, é inconstante em tudo –, exige renúncias, retidão, troca de favores, de serviços nobres e lícitos. O amigo é forte e sincero na medida em que, de acordo com a prudência sobrenatural, pensa generosamente nos outros, com sacrifício pessoal.
Espera-se do amigo a correspondência ao clima de confiança que se estabelece com a verdadeira amizade; espera-se o reconhecimento do que somos e, quando necessária, também uma defesa clara e sem paliativos: porque, como há pouco tempo li num texto castelhano, quando o amigo defende ou louva com tibieza, é testemunha maior de toda exceção, confessando simplesmente que não encontra aspectos para louvar nem razão para defender: porque, se houvesse, quem qual um amigo as defenderia e celebraria?
Podem me dizer: os amigos, por vezes, atraiçoam. No entanto, agindo sempre com retidão de intenção, com sentido sobrenatural, não vos podem preocupar nem desanimar as possíveis surpresas, nem essas exceções devem impedir o vosso desejo eficaz de ter uma nobre inclinação limpa e afetuosa para com todos.
Documento impresso de https://escriva.org/pt-br/cartas-2/102/ (15/11/2025)