CARTA 8

[Sobre o espírito de serviço à Igreja que deve caracterizar a vida dos membros do Opus Dei; também designada pelo incipit latino Legitima hominum. Tem a data de 31 de maio de 1943 e foi enviada em 6 de fevereiro de 1967.]

A legítima liberdade dos homens, se são verdadeiramente honestos, com a ajuda divina, leva-os ao desejo de servir a Deus e às suas criaturas. Servite Domino in veritate1, servi ao Senhor em verdade, aconselhava Tobias a seus filhos. E este é o conselho que também eu vos dou, porque recebemos o chamado de Deus para fazer um peculiar serviço à sua Igreja e a todas as almas. A única ambição, o único desejo do Opus Dei e de cada um dos seus filhos, é servir à Igreja como Ela quer servida, dentro da específica vocação que o Senhor nos deu.

Nos sumus servi Dei caeli et terrae2, somos servos do Deus dos céus e da terra. E toda a nossa vida é isso, filhas e filhos meus: um serviço de metas exclusivamente sobrenaturais, porque o Opus Dei não é nem será nunca – nem pode sê-lo – instrumento temporal; mas é ao mesmo tempo um serviço humano, porque não fazeis senão tentar conseguir a perfeição cristã no mundo limpamente, com a vossa libérrima e responsável atuação em todos os campos da atividade cidadã. Um serviço abnegado, que não envilece, mas educa, engrandece o coração – torna-o romano, no sentido mais alto desta palavra – e leva a buscar a honra e o bem das gentes de cada país: para que cada dia haja menos pobres, menos ignorantes, menos almas sem fé, menos desesperados, menos guerras, menos insegurança, mais caridade e mais paz.

Queremos servir, sentimo-nos honrados em fazê-lo e estamos convencidos de que não poderíamos imitar Cristo, como é o nosso único desejo, se prescindíssemos desse afã. O Senhor, meus filhos, veio à terra para isso – filius hominis non venit ministrari, sed ministrare3; o filho do homem não veio para ser servido, mas para servir –, e todo aquele que queira segui-lo não há de pretender outra linha de conduta.

Dir-vos-ei, com São Paulo, que haveis de ter em vossos corações os mesmos sentimentos de Cristo Jesus. Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens4.

Esse é o caminho que segue o Papa, o doce Cristo na terra, o Vice-Deus – como gosto de chamá-lo –, que diz de si próprio que é servus servorum Dei, o servo dos servos de Deus. E se o Sumo Pontífice é servo, filhas e filhos meus, não é tolerável que haja católicos que não queiram sê-lo. Um só é o Senhor, único é o Dono da Igreja: Jesus Cristo, Nosso Deus, que – além de nos ter criado – comprou-a com o preço do seu Sangue, quam acquisivit sanguine suo5. Por isso é belíssimo – e justo – o modo como, em algumas terras da América, referem-se a Jesus: o Amo, chamam-no.

Exceto o Senhor, não há ninguém na terra que seja proprietário das almas: todos viemos servi-las, e para isso Ele nos chamou quando nos enriqueceu com o dom maravilhoso da fé e quando nos quis na sua Obra: sic nos existimet homo ut ministros Christi et dispensatores mysteriorum Dei6, assim nos devem considerar os homens: como ministros de Cristo e dispensadores dos mistérios de Deus.

Não penseis, contudo, que seja fácil fazer da vida um serviço. É necessário traduzir em realidades esse bom desejo, porque o reino de Deus não consiste em palavras, mas na virtude7, e a prática de uma ajuda constante aos demais não é possível sem sacrifício. Instantia mea quotidiana sollicitudo omnium ecclesiarum8, pesa sobre mim a preocupação por todas as igrejas – escrevia São Paulo –, e esse suspiro do Apóstolo recorda a todos os cristãos a responsabilidade que todos os fiéis devemos sentir de pôr aos pés da Esposa de Cristo – a Igreja santa – o que somos e o que possuímos, amando-a fidelissimamente, mesmo às custas das posses, da honra e da vida.

Por isso, ao começar estas considerações, vem-me à memoria o duro peso que grava o Papa e os bispos, e sinto-me impelido a vos recordar a veneração, o afeto, a ajuda que deveis dar-lhes com a vossa oração e com a vossa vida entregue. Os membros do Corpo Místico são certamente variadíssimos, mas todos podem resumir a sua missão no serviço a Deus, à totalidade do Corpo Místico, às almas.

Há diversidade de dons, mas um só Espírito. Os ministérios são diversos, mas um só é o Senhor. Há também diversas operações sobrenaturais, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito comum.

A um é dada pelo Espírito uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de ciência, por esse mesmo Espírito; a outro, a fé, pelo mesmo Espírito; a outro, a graça de curar as doenças, no mesmo Espírito; a outro, o dom de milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, a variedade de línguas; a outro, por fim, a interpretação das línguas. Mas um e o mesmo Espírito distribui todos estes dons, repartindo a cada um como lhe apraz9.

Todos, pois, somos úteis na Igreja: necessários, eu diria. Todos temos uma única missão que cumprir – servir e trabalhar apostolicamente –, e está claro que, à vista dessa comunidade de propósitos, não há carismas de maior ou menor importância: o lugar que a cada um corresponde será alto ou baixo somente em razão da fidelidade à graça de Deus e à retidão de intenção que se tiver ao desempenhá-lo.

Por isso, a uns ele constituiu apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas, pastores, doutores, para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do corpo de Cristo, até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo10.

Não podeis esquecer, de qualquer modo, que a missão de serviço recai especialmente sobre os que têm autoridade na Igreja; e, quanto mais alto se estiver, maior é o alcance da responsabilidade e a obrigação do sacrifício.

É dura a carga de levar sobre a terra o peso da Igreja e a de procurar seu contínuo crescimento; e vo-lo repito para que, assim, aumente a cada dia o amor que o espírito da Obra vos leva a sentir por aqueles que têm sobre os ombros essa missão e para que procureis que sempre contem com a ajuda da vossa unidade e com o apoio do vosso trabalho apostólico no meio do mundo, entre os outros cidadãos, vossos iguais.

O Senhor pede-nos a todos uma delicada fidelidade aos seus mandatos e quer que estejamos preparados para cumprir esse dever: unusquisque proprium donum habet ex Deo, alius quidem sic, alius vero sic11; cada um tem de Deus seu próprio dom, um de uma maneira, outro de outra.

Por isso, porque devemos servir, sempre vos repito que, para servir, é necessário servir. Para sermos de utilidade ao Corpo Místico, faz-se necessária uma consciência reta, bem formada, que produza frutos de boas obras e saiba respeitar a liberdade da consciência alheia.

Precisamos de uma rica vida interior, sinal certo de amizade com Deus e condição imprescindível para qualquer labor de almas; é urgente adquirir doutrina e viver de fé a fim de poder dá-la e evitar, assim, que as almas caiam nos erros da ignorância ou no pietismo, que desfigura com a sua devoção vã, sentimental ou supersticiosa o rosto da verdadeira piedade.

É preciso também que – ao dar essa doutrina – ensineis aos homens o que significa a vocação dos filhos da Igreja. Ajudai-os a que compreendam que seu maior empenho há de ser o de servir e – entre outras coisas, com o apostolado de não dar – procurai que amem a generosidade e o desprendimento; e também que compreendam que um filho de Deus deve trabalhar pelo seu Pai sem esperar vantagens terrenas.

É necessário manter vivo o espírito sobrenatural e o afã apostólico; é preciso fugir de ver falsamente, na vida espiritual, só um recorte à liberdade; na formação doutrinal, um monte de fórmulas ininteligíveis; no apostolado, uma espécie de profissão a mais, para as horas livres.

Evitai, com o vosso exemplo, que tantos cristãos abandonem covardemente o trabalho em muitos campos nobres e lícitos, deixando-os em mãos dos inimigos de Deus e da sua Igreja. Agi com decisão – que exige esquecimento de si próprio – para não cairdes na cômoda passividade dos que abusam da Providência e esperam uns auxílios extraordinários que o Senhor não tem por que dar se não colocamos os meios humanos que estão ao nosso alcance.

Não vos surpreenda encontrar pessoas, no entanto, que considerem ambição vosso afã de trabalhar por Deus em todos os postos da sociedade – naqueles que vos correspondem, pela vossa profissão ou ofício, ou pela vossa condição de cidadãos – ou que reajam como que ofendidas ante o vosso serviço.

Não vos molesteis – dir-vos-ei com uma metáfora inocente que desagradou alguns que, pelo visto, latem – perdendo tempo em apedrejar os cães que vos latem pelo caminho e, sem ostentações nem espetáculos, continuai propondo-vos metas, meios nobres, fins concretos que vos ajudem a ir adiante, com firmeza humana e sobrenatural, para pôr aos pés de Cristo todas as atividades terrenas.

Não vos preocupe o que irão dizer: trabalhai sem olhar de esguelha o vizinho – como muitos fazem –, porque o contrário é coisa má que a ninguém beneficia. Considerai apenas se Deus está contente e alegrai-vos se comprovais que os demais fizeram o mesmo.

Filhas e filhos meus, alegrai-vos também quando a dureza do trabalho vos fizer recordar talvez que estais servindo, porque servir por Amor é uma coisa deliciosa, que enche a alma de paz, embora não faltem sensabores. Tenho por orgulho – e deveis tê-lo vós também – ser o servidor de todo o mundo.

Quero servir a Deus e, por amor a Deus, servir com amor todas as criaturas da terra, sem distinção de línguas, de raças, de nações ou de crenças; sem fazer nenhuma dessas diferenças que os homens, com mais ou menos falsidade, assinalam na vida da sociedade.

Grande e formosa é a missão de servir. Por isso, este bom espírito – grande senhorio –, que se compagina perfeitamente com o amor que temos à liberdade, deve impregnar todo o trabalho das minhas filhas e dos meus filhos no Opus Dei. E quero que também seja a característica principal da minha pobre vida de sacerdote e de Padre vosso: ser e saber-me servo sempre, especialmente nas épocas – que não faltarão – em que muitos fujam da humildade do serviço ao próximo.

No entanto, no mundo de hoje, com essas manobras escusas e essas confusões – com essa falsidade, disse-vos antes –, há muitas pessoas que, quando ouvem falar de serviço, assustam-se, pois estão cheias de soberba e não consideram que, no mundo, servimo-nos uns aos outros; não há ninguém na terra que, de alguma forma, não tenha de servir aos demais, porque dependemos dos que moram em nosso país, dos que estão próximos e dos que estão longe, dos que habitam em outras nações: de todos.

Servimos aos demais quer queiramos, quer não, e nós devemos fazê-lo com gosto, com a alegria que o Senhor depositou em nosso espírito: servite Domino in laetitia12, servi ao Senhor com alegria.

Não vos faltarão dificuldades, porque sempre encontrou obstáculos quem pretendeu fazer algo de bom; e, tratando-se de um serviço à Igreja, ousaria dizer que esses obstáculos são de ordinária administração.

Surpreende às vezes que sejam postos precisamente por alguns que se consideram ou se proclamam católicos, mas – examinadas as coisas de perto – a contradição dos bons com frequência se vê que não é tão dos bons, pois costumam ser os mesmos que, talvez mais veladamente, atacam outros membros da Igreja ou aqueles que a governam.

A tática que costumam seguir é dupla: por um lado, procuram esconder ou desconhecer o serviço feito por aqueles aos quais põem as suas rasteiras, para que não pareça que a atacada é a Igreja; e, por outro, mascaram esse procedimento ignóbil usando disfarces pseudoapostólicos, com o pretexto de unir a eles, sob a mesma bandeira, os que, por ódio à Igreja, estão dispostos a fazer-lhes eco a fim de destruir as criaturas que – no seio da Igreja – Deus mesmo promove conforme os tempos, para a sua glória e seu serviço.

Ao pregar, durante todos estes anos, ao clero de toda a geografia da Espanha, costumava dizer aos sacerdotes que há três classes de padres: os que não fazem mal a ninguém, mas tampouco fazem demasiado bem, porque se converteram em burocratas da religião; os revoltosos, que se movimentam incessantemente, tumultuando muito, fazendo barulho; e os verdadeiramente zelosos, que, cheios de um santo entusiasmo, não se detêm perante nenhum sacrifício a fim de aproximar as almas de Deus.

Ordinariamente, ninguém ataca os que pertencem aos dois primeiros grupos; somente os do terceiro grupo – precisamente pelo seu afã de servir à Igreja – veem-se expostos a críticas e murmurações. Perante o seu trabalho abnegado, não faltam até alianças diabólicas que – ainda que tivessem um motivo justo, e não costumam tê-lo – vão além do sentido da justiça e resvalam em algo que parece uma inexplicável sede de vingança: veem-se publicamente, de braços dados, eclesiásticos e personagens do mundo bem conhecidos pelos seus contínuos ataques à Fé Católica.

É doloroso, ademais, que um tal modo de tratar os que desejam ser fiéis encontre crédito entre pessoas que deveriam gozar de um claro discernimento. Causa pena comprová-lo, por dois motivos: porque, prestando atenção e dando fé a essas charlatanices, passam-se por alto a injustiça e a falta de equidade que se comete; e porque as pobres almas que são alvo dessas manobras não costumam ter meios para se defender nem demonstrar a verdade: a maior parte das calúnias é anônima, e não há direito ao qual recorrer.

Muitas vezes esses coitados veem jogar-lhes às costas um cúmulo de lixo, ex informata conscientia, e infelizmente a consciência – que acolhe coisas santas – é por vezes elástica e se enche também de coisas tremendamente más.

Não se pode julgar sem ouvir o acusado, só na base de ir colhendo o diz-se, pois, se esquecemos essa elementar regra de prudência, ninguém ficaria em pé dentro da Igreja de Deus. Desse modo, esses acusadores não serão amigos de Deus, que disse: vos amici mei estis, si feceritis quae ego praecipio vobis13; vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando, se agirdes com retidão.

Utilizam-se por vezes procedimentos medievais, com segredos desumanos que não permitem a ninguém se defender; que obrigam o réu a dar golpes na escuridão, a angustiar-se porque não sabe de onde vem a acusação nem do quê o acusam; e, se pergunta, tampouco lhe respondem.

Atribuem-se a ele com frequência coisas que ignora – se as conhecesse, poderia rebatê-las facilmente –, e o único consolo que lhe resta é oferecer seus sofrimentos a Deus e pensar que algo semelhante aconteceu a Jesus: nemo tamen palam loquebatur de illo propter metum iudeorum14, ninguém falava publicamente dEle, por medo dos judeus.

Não é que o sistema seja simplesmente velho: é que é injusto, ainda que se elabore um informe ou muitos informes, ou até mesmo um processo, quando o interessado ou seus defensores não podem conhecer as causas da imputação: porque muitas vezes o acusador age por paixão pessoal, bem alheia à justiça.

Por isso, nesses tristes casos, costumam dar-me mais pena os acusadores e os que julgam do que os que aparecem como réus: os primeiros arriscam a alma; aos segundos, podem-se dizer as palavras da primeira Epístola de São Pedro: si quid patimini propter iustitiam, beati15; se padeceis pela justiça, sois bem-aventurados.

Penso sinceramente que, se alguém for acusado, é a ele que se deve questionar em primeiro lugar, porque é quem conhece a teoria e a prática do que faz e poderá esclarecer os pontos que se lhe pedirem. Por vezes, no entanto, dá a impressão de que se confunde o equívoco com o equivocado, e não falta quem pense que o que verdadeiramente interessa a alguém é condenar quem se equivocou, sem tentar corrigir o erro: entre outras coisas, porque o erro não existe.

Até os fariseus – et qui missi fuerant erant ex pharisaeis16– se comportaram de maneira mais nobre, perguntando diretamente ao Batista: tu, quis es?17, tu quem és? E João, videns autem multos pharisaeorum18, vendo um grupo de fariseus, chamou-os raça de víboras19.

Contudo, fechemos este parêntese, porque não quero alongar muito esta Carta, e devo fazer-vos ainda muitas considerações sobre algumas características do nosso serviço ao Senhor e às almas.

O primeiro que desejo fazer-vos notar – ainda que mo tenhais escutado muitas vezes – é que a nossa tarefa, filhas e filhos queridíssimos, é um labor secular, laical, de cidadãos comuns – iguais aos outros cidadãos, e não como os outros cidadãos – que procuram a sua santidade e fazem apostolado em e desde os afazeres profissionais nos quais estão empenhados no meio do mundo.

Não haverá ninguém que se atreva a fazer uma declaração dizendo que os leigos não podem cristianizar as atividades em que cada dia intervêm. Mas – ao mesmo tempo – não faltarão aqueles sem condições de compreender os que tentam pôr em prática esse modo singelo, natural e divino de santificar-se e trabalhar apostolicamente.

20Por essa razão, a novidade do Opus Dei não pode ser julgada justamente com a mentalidade dos que estão acostumados a estudar somente os problemas da vida clerical ou da vida religiosa; e não estão habituados a investigar ou a meditar sobre a realidade laical na vida do cristão comum: que deve viver desprendido do mundo, mas ao mesmo tempo no mundo, amando-o, enxertado nos afazeres temporais, exercitando o trabalho do qual vive e – no nosso caso – do que teria vivido se não fosse do Opus Dei.

Com uma mentalidade assim, é fácil que vossa perseverança no trabalho profissional – sem deter-se em fadigas nem em cansaços – seja interpretada como ambição de comando ou de cargos, quando se trata apenas de buscar a santificação nesse trabalho, realizando-o com a maior perfeição possível – também humanamente –, por amor de Deus e para aproximar as almas de Cristo e da sua Igreja, numa abnegada, difícil e humilde missão de amizade e de serviço.

Não podemos ser considerados amadores, como alguns religiosos e sacerdotes que exercem ofícios seculares ou cultivam ciências profanas marginalmente, desvirtuando mais ou menos, em alguns casos, a sua vocação sacerdotal ou religiosa, e até o próprio trabalho científico ou profissional que lhes é alheio.

O nosso labor é secular – dizia-vos –, cheio de um anticlericalismo bom, que procede do amor ao sacerdócio e que nos leva a estar fielmente grudados ao Papa e aos Ordinários, embora, por essa fidelidade nossa, não nos faltem incompreensões.

Não vos canseis de pregar, filhas e filhos meus, o amor e a obediência rendida ao Santo Padre. Ainda que sua figura não houvesse sido instituída por Jesus Cristo, a cabeça me diz que é necessária uma autoridade central forte – a Santa Sé – para levar a razão aos que não consigam entrar em acordo, dentro da Igreja, e façam disparates.

Mas acontece, também, que acima e antes desses motivos lógicos está a vontade de Deus, que quer na terra um Vigário e o assiste infalivelmente com seu Espírito.

Devemos ser, pois, anticlericais, com um anticlericalismo que nos faz amar mais a Igreja e que é bom, porque existem outros anticlericalismos que são ruins.

Um deles é violento, suadente diabolo, e por ódio a Deus leva a arrasar entre torturas crudelíssimas tudo quanto faça referência à religião, ao sacerdócio; existe outro tipo de anticlericalismo, também mau, que – talvez sem chegar à violência – ignora ou despreza as coisas de Deus; um terceiro, que nasce de ver clérigos e leigos servir-se da Igreja para conseguir bens puramente temporais.

E finalmente o nosso, que estou certo de que agrada ao Senhor, porque nos leva a desejar, para a Igreja e para seus ministros, uma liberdade santa de amarras temporais: porque nos faz aborrecer conaturalmente qualquer tipo de abusos, de mesquinharias que utilizem a Cruz de Cristo em benefício pessoal, ou que convertam a vocação divina, que o Senhor dá para servir, numa máquina caça-níqueis que só busca a comodidade e o próprio proveito.

O clericalismo vem acompanhado habitualmente de um desprezo pela lei – que parece existir só para o próximo –, pois a lei impõe um serviço que não se está disposto a cumprir. Não tem o espírito de Jesus Cristo, é clerical – no mau sentido da palavra –, quem abuse da sua autoridade para que os demais o sirvam, quem manipule as almas de um modo tirânico, como se fossem seu rebanho de cabras e, tomando-as pelos chifres, dissesse: estas são minhas, atropelando assim a santa liberdade das consciências.

Quem agisse assim careceria daquela humildade que dá sentido a todo trabalho apostólico e, em lugar de cooperar com a sua vida na extensão do reino de Cristo, causaria um prejuízo à unidade da Igreja e ao trabalho pastoral.

Uma mentalidade desse estilo esqueceria o espírito de serviço que há de estar presente em todos os que trabalham por Cristo e levaria a considerar os cargos não como cargas, mas como prebendas que poderiam utilizar-se em benefício próprio; ou como privilégios, que isentariam de qualquer obrigação; ou como um patrimônio pessoal, que poderia ser manipulado ao bel-prazer do dono.

Esse modo de proceder nem sequer estaria justificado quando se tencionasse abusar da autoridade em favor de um determinado movimento apostólico ou de um concreto labor de almas. Porque não têm cabimento caprichos nem favoritismos naquilo que pertence a todos os filhos da Igreja, uma vez que foi recebido intuitu ministri Dei, enquanto operário de Deus, que é tanto como tê-lo recebido intuitu gregis seu Populi Dei, isto é, em benefício de todos os fiéis.

Seja qual for a própria missão dentro do Corpo Místico, deve-se agir como um administrador fiel – não como um proprietário – que sabe que haverá de prestar contas dos seus atos. Quem é o administrador sábio e fiel que o senhor estabelecerá sobre os seus operários para lhes dar a seu tempo a sua medida de trigo? Feliz daquele servo que o senhor achar procedendo assim, quando vier! Em verdade vos digo: confiar-lhe-á todos os seus bens.

Mas, se o tal administrador imaginar consigo: Meu senhor tardará a vir, e começar a espancar os servos e as servas, a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele servo virá no dia em que não o esperar e na hora em que ele não pensar, e o despedirá e o mandará ao destino dos infiéis21.

O bom administrador sabe distribuir com justiça os dons do seu senhor, sabe fazer render os talentos recebidos em proveito de todos os seus servos, porque non est personarum aceptor Deus22, Deus não faz acepção de pessoas.

Certamente trata-se de tarefa difícil, porque custa não se deixar levar pelas aparências, e esse administrador fiel necessita ser sensível às moções do Espírito Santo para distribuir os bens do Senhor como o próprio Senhor faria: nem pode tampouco guiar-se pela comodidade, conferindo aos que são bons servidores – precisamente pelo fato de sê-lo – os trabalhos mais desagradáveis, ou distribuindo cargos e ofícios sem ponderar o necessário preparo das pessoas.

Sabeis que a violência me desagrada, mas humanamente não deixo de justificar a mim mesmo que, mesmo que seja bom, reaja bruscamente aquele que – pelo seu limpo desejo de servir – não tenha recebido outro pagamento humano que uma continuada brusquidão. Embora não procurasse pagamentos terrenos, trata-se de uma criatura humana, e é fácil que a corda do arco, quando está sempre em tensão, alguma vez quebre.

É contrário ao anticlericalismo de que vos falo pretender aproveitar-se da condição de católico para impor um critério pessoal no que é opinável; ou para exigir gratuitamente, de outros católicos, a prestação de determinados trabalhos profissionais sem corresponder economicamente com o que é justo e razoável, porque esse é seu trabalho e o meio que possui para viver e manter-se. Com o agravante, ademais, de que, se esses serviços fossem solicitados a outras pessoas, talvez indiferentes ou inimigas da Igreja, seriam pagos como é devido, e mesmo talvez com traições à Igreja.

Quando vejo, na vida política de qualquer país, leigos que se arrogam a representação da Hierarquia episcopal, comprometendo-a em coisas temporais porque eles – os leigos, que se chamam ostentosamente católicos – não são capazes, ou não parecem capazes, de assumir a pessoal responsabilidade que lhes corresponde como cidadãos, grudando na Igreja como trepadeira ao muro, fazendo-o desaparecer primeiro com a sua folhagem e destruindo-o depois com as raízes que buscam a seiva nas fendas dos nobres silhares, de ordinário calo-me e rezo. Sempre, no entanto, vem-me à memória aquela passagem de São Lucas, e pareço ouvir a voz de Jesus, Senhor Nosso, dizendo-lhes: escrito está, a minha casa é casa de oração; mas vos fizestes dela um covil de ladrões23.

Um modo de proceder clerical, embora estivesse amparado por boníssimas intenções, levaria também a pretender de outros a realização de iniciativas e projetos apostólicos sem ter em conta a carga que supõe levá-los a termo. É evidente que quem se entrega a trabalhar por Cristo há de fazê-lo desinteressadamente, mas não se pode esquecer que apóstolo também precisa comer e vestir-se, alimentar os seus e descansar.

Sois testemunhas de que nunca nos negamos a fazer um serviço às almas, embora nos custasse dinheiro. Sabemos o que dizia São Paulo: Dominus ordinavit iis qui Evangelium anuntiant, de Evangelium vivere24, aos que anunciam a boa-nova deve-se providenciar o necessário; mas também podemos repetir o que afirmava o Apóstolo: non usi sumus hac potestate, sed omnia sustinemus, ne quod offendiculum demus Evangelio Christi25, não fizemos uso desse direito, e tudo sofremos com gosto, para que não surjam dificuldades para o Evangelho de Jesus Cristo.

Se – em lugar do desejo de serviço – aparece o falso amor à Igreja, reina também o arbítrio, o privilégio, e se polui e enturva a atmosfera sadia que existe sempre que se atua na presença de Deus. Será lógico – absurdamente lógico – que, como consequência, não se veja com bons olhos nem se compreenda os que só querem servir.

Copio, sem mais, o que já teve de escrever São João: Escrevi uma palavra à Igreja. Mas Diótrefes, homem ambicioso do poder, não nos quer receber. Por isso, quando eu for aí, hei de recordar as obras que ele pratica, espalhando contra nós coisas más. Não contente com isto, ele não só se recusa a receber os irmãos, como até proíbe de recebê-los aos que o quereriam fazer e os exclui da Igreja26.

27Filhas e filhos queridíssimos, também nisso se nota que a Obra é de Deus, porque – como àqueles primeiros cristãos – tocou a nós sofrer a mesma sorte pela incompreensão e a ciumeira de falsos irmãos, que chegaram a tratar-nos como hereges. Mentem, por inveja, e esquecem infelizmente que, quando se decidirem a falar a verdade, serão – só então – fecundos em Cristo: veritas liberavit vos28, a verdade os libertará.

É certo que tivemos de sofrer – e não há sinais de que por enquanto nos deixarão trabalhar tranquilos –, mas não deixeis de esclarecer aos que nos digam, como se compadecendo-se de nós, quantos inimigos têm os senhores!: sim, e quantos amigos! Porque essa é a realidade, e a cada dia serão mais os que nos entendam e nos queiram bem.

Agora, por amor à sua Obra, o Senhor está nos tornando protagonistas da parábola da videira e os ramos; está permitindo a contradição, ut fructum plus afferat29, para que demos ainda mais fruto. Aos olhos dos homens, é talvez incompreensível – poderia dizer-se: eu não o entendo..., e o senhor corregedor tampouco o entende –, mas nos desígnios de Deus são providenciais essas pessoas que, esmagando o próprio cérebro, quiseram encontrar pelo em ovo, quando – para entender a Obra – basta ser católico de reta intenção e conhecer um mínimo de ação pastoral, de teologia e de direito.

O espírito singelo do Opus Dei ama a verdade e a sinceridade; olha para o serviço da Igreja e conduz ao respeito e à defesa da liberdade. Francamente, não posso compreender outro serviço à causa de Deus que não tenha pelo menos esse amor à liberdade pessoal dos homens.

Nós amaremos, por conseguinte, a unidade e a variedade maravilhosa que existe na Igreja; veneraremos e contribuiremos para fazer venerar os instrumentos dessa unidade; compreendemos as manifestações de catolicidade e de riqueza interior que ficam manifestas na diversidade de espiritualidades, de associações, de famílias e de atividades que, em todo tempo e em todo lugar, dão prova de procederem todas de um mesmo Espírito indivisível30.

Por essa razão, deveis reagir com energia perante qualquer serviço aparente à Igreja que desvirtue o sentido sobrenatural de toda tarefa espiritual e apostólica, ou que pretenda atentar contra a liberdade individual ou das instituições de Nossa Mãe a Igreja.

Ut omnes unum sint, que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que me deste, para que sejam um como nós somos um: eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e o mundo reconheça que me enviaste e os amaste, como amaste a mim31.

Assim é a oração que Jesus dirige ao Pai, por nós; e essa é também a oração que, unidos a Jesus Cristo, rezam diariamente desde o começo da Obra todos os filhos do Senhor no seu Opus Dei: pro unitate apostolatus, pela unidade que só dá o Papa para toda a Igreja e o Bispo, em comunhão com a Santa Sé, para a sua diocese.

Unidade na caridade, no amor de Deus, para que todos os homens conheçam que Deus os ama e quer que sejam salvos: de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna32.

Este afã de unidade, filhas e filhos da minha alma, é também outro motivo a mais para que amemos o Papa com todas as nossas forças e estejamos sempre dispostos a servi-lo, seja quem for a sua Pessoa Augusta. Quando chegardes à velhice e eu já tiver rendido contas a Deus, não deixeis de dizer aos vossos irmãos que o Padre amava o Papa com todo o seu coração.

Além do mais, estamos em ótimas condições para servir e para fomentar a unidade da Igreja. É difícil que, da nossa parte, haja interferências no trabalho apostólico de outros, porque o nosso é objetivamente diferente e é também diferente o modo de realizá-lo, sempre através do trabalho humano profissional.

É completamente diferente, em primeiro lugar, daquele que fazem os religiosos, pela simples razão de que não somos religiosos nem nascemos para substituí-los; é diferente também daquele que realizam os membros de outras associações de fiéis, porque nossas tarefas apostólicas têm como base o trabalho profissional – não são simplesmente algo acrescentado à atividade corriqueira de cidadão e de profissional – e exigem plena dedicação a Deus nesses labores, ao mesmo tempo profissionais e apostólicos.

Viveis do vosso ofício, haveis de ganhar o suficiente para vos manter e para ajudar economicamente a Obra nos seus labores espirituais. E o apostolado não é algo adicional à vossa profissão, ou uma espécie de profissão diferente. A nossa colaboração ao trabalho de almas é, pois, um serviço extraordinariamente econômico para a Igreja: gratuito.

E nisto também vos diferenciais de outros leigos que, por dedicarem toda ou parte da sua atividade a um determinado apostolado, obtêm desse trabalho todo ou parte do seu sustento, sendo nisso uma carga para a diocese ou para a Santa Sé.

O Opus Dei e seus filhos não precisam de dinheiro, porque cada um trabalha na sua tarefa profissional e se sustenta de sobra; mas, para as nossas obras corporativas, quanto mais nos ajudem, melhor serviremos às almas.

Vós vos moveis no plano das relações temporais, sociais e profissionais; e é mediante o vosso trabalho, individualmente ou nas organizações que reúnem os homens – por motivos de caráter cultural, científico, político, econômico etc. –, que dais doutrina e vida interior, levando os vossos amigos e colegas ao encontro com Jesus Cristo.

Desse modo, metidos, por direito e por dever, em todas as atividades humanas, podereis – cada um pessoalmente – defender eficacissimamente não só os interesses da Igreja e a sua doutrina – que há de iluminar a cultura, as ciências, as artes –, mas também a própria vida e a liberdade de todos os católicos e de todas as associações, famílias e organizações nobres, ao mesmo tempo que defendeis a liberdade de todos os homens.

Somente poderia haver interferências – porque lutaremos para evitar esses abusos – quando, por parte de alguém, se pretendesse impor, com uma equivocada mentalidade clerical, um critério único em algum dos campos que Deus deixou à liberdade de opinião dos homens, para não perder – por exemplo – o controle de determinadas atividades sociais, políticas, econômicas etc. que trazem em vão o sobrenome de católicas. Sempre estamos a favor da liberdade.

A unidade de critério para os católicos – também, portanto, para os membros da Obra –, deve dá-la a Hierarquia ordinária da Igreja quando o julgar conveniente para o bem das almas. Nada têm a dizer então – nem tampouco antes – os que governem a Obra, porque não é missão deles orientar nesses assuntos, nos quais cada um de vós é livre e responsável.

O bem das almas exige necessariamente, em tais circunstâncias, uma atitude clara, positiva, por parte da Hierarquia – e nós obedeceremos –, sem que, infelizmente, faltem fora da Obra os que se lamentam se a Igreja fala, porque o faz de um modo de que eles não gostam; ou sem que tampouco faltem os que reclamam se a Igreja se cala: sempre haverá quem se queixe do silêncio da Igreja, pelo simples motivo de que quereria descarregar a sua pessoal responsabilidade na Hierarquia episcopal da sua nação.

Se se pretendesse lançar sobre os demais as próprias atuações; se alguém não se resignasse a desaparecer do pobre cenário do seu mundinho apostólico, político ou social; se se empenhasse em atribuir-se méritos ou êxitos alheios; ou se não estivesse disposto a renunciar ao gosto de figurar, dar-se-ia razão aos semeadores da discórdia, e então, sim, as palavras da Igreja poderiam ser ocasião de escândalo; porém não por Ela, que é Mestra da verdade, mas pela desobediência de algum dos seus filhos.

Por isso, não vos canseis de pregar o amor à liberdade, e demonstrai-o trabalhando com responsabilidade pessoal em todas as tarefas dos homens. Insisto em que a Obra, como tal, não tem nada a ver com essas atividades; corresponde à Obra somente manter o vigor da vossa vida interior e ajudar-vos a conhecer a doutrina de Jesus Cristo, para que possais fazer em todo lugar o serviço que Deus nos pede.

Um serviço generoso, feito – como venho vos repetindo – com mentalidade laical: com a mentalidade que possui um profissional cristão, que não se serve do nome de um santo para vender quilos de novecentos gramas, nem usa em vão o nome da Igreja para medrar econômica ou socialmente.

Numa palavra, deveis servir às almas sabendo-vos maiores de idade; e estando dispostos a dar razão dos vossos atos, sem envolver a Esposa de Jesus Cristo nem a Obra na vossa atividade de cidadãos.

Esse modo laical de servir à Igreja está vigente também nos labores que, com fins exclusivamente apostólicos, promove a Obra como corporação: são labores que tencionam dar a conhecer melhor a doutrina do Senhor, que abarcam toda a gama de atividades lícitas que possa fazer um grupo de cidadãos e que é, portanto, uma tarefa também profissional.

Sabeis que, como consequência, nunca damos o apelativo de católicos ou o nome de um santo padroeiro a estas obras de apostolado corporativo, nem a nenhum dos nossos Centros: desta maneira, manifesta-se melhor o caráter laical do nosso trabalho, ao mesmo tempo que não se esconde em absoluto o seu conteúdo apostólico.

Seguiremos este modo de proceder, embora acarrete sacrifícios econômicos não pequenos: em Estados católicos, por exemplo, os institutos, colégios etc. dirigidos pela Igreja ou levados por religiosos costumam gozar de não poucas vantagens, entre elas a isenção parcial ou total de impostos, ou determinadas ajudas financeiras. Sempre que possamos fazê-lo, renunciaremos de bom grado a esses privilégios – de que, por outro lado, nem todos gostam – para não perder nossa maneira laical de trabalhar e de servir à Igreja.

Esse critério, no entanto, terá também a sua contrapartida, porque, se essas obras fossem oficialmente católicas, alguns fiéis – assim estão as coisas objetivamente –, e sobretudo muitos católicos, deixariam de colaborar com elas, e até os filhos meus que as dirigissem se veriam importunados por muitos que lhes pediriam um dinheiro que não têm, pois tampouco faltam os que, com uma mentalidade deformada, acodem aos apostolados católicos para medrar, como as moscas ao mel.

Mas deixemos estas considerações e voltemos à linha das coisas que antes vos dizia. Estou falando-vos de serviço, e comecei a assinalar algumas características que há de ter o nosso. Quereria agora deter-me em outra, muito relacionada com o modo laical de trabalhar que temos na Obra: o desinteresse. Devemos servir – disse-vos com frequência – sem esperar nem um olhar de gratidão na terra.

Em consciência, atrevo-me a assegurar que este modo de proceder não costuma ser frequente. Devemos rezar para que sejam só história passada as razões que moveram São Bernardo a escrever aquelas palavras que dirigia ao Papa Eugênio III, nos Cinco livros sobre a consideração: Grande abuso! Poucos olham para a boca do legislador, todos para as mãos. Mas não sem motivo. São elas as que distribuem os cargos e os empregos... Quando (esses ambiciosos) fazem a oferta de servir, é quando principalmente querem dominar. Prometem ser fiéis, para causar dano mais oportunamente aos que neles confiam...

Estes, tornados odiosos para a terra e para o céu, numa e noutro puseram as mãos, cheios de impiedade contra Deus e de temeridade contra as coisas santas; sediciosos entre eles mesmos, êmulos dos seus vizinhos; desumanos com os estranhos; homens que, não amando ninguém, por ninguém são amados, e que, quando fingem serem temidos por todos, é preciso que a todos temam.

Estes mesmos são os que não sofrem estarem submetidos e não acertam em presidir, sendo infiéis aos superiores e insuportáveis para os inferiores. Não têm vergonha para pedir, ao mesmo tempo que têm duro o coração para negar. São importunos para receber, inquietos até que recebem, ingratos depois de terem recebido.

Adestraram a língua para falar coisas grandes, ao mesmo tempo que é muito pouco o que fazem. Larguíssimos em prometer, escassíssimos em cumprir; suavíssimos bajuladores e mordacíssimos detratores; sutilíssimos simuladores e maligníssimos traidores33.

Meus filhos, a citação foi longa, mas dispensa qualquer comentário. Não esqueçais que o amor e o serviço à Igreja, quando autênticos, não se detêm nas pessoas que presidem, porque apontam sempre mais para o alto: Domino Christo servite34, é a Cristo que devemos servir, e vos asseguro que essa retidão de intenção não é fácil.

Saber dizer a verdade aos que mandam. Saber calar

Para os que não andam pelo caminho da verdade, os que querem dizê-la são incômodos, da mesma maneira como o santo e o mártir são incômodos para o tíbio e acicate para o fervoroso. A Igreja precisa, no entanto, do amor dos seus filhos, sempre dispostos a manifestar – com desprendimento efetivo da sua pessoa e com o olhar posto em objetivos sobrenaturais – tudo o que com certeza, na presença de Deus, vejam que hão de manifestar.

É preciso fazê-lo com a convicção de que somente assim se ajuda realmente quem dirige, quem serve levando as rédeas; é preciso fazê-lo também sabendo que o Bom Pastor não pode ter medo de conhecer a sarna de alguma ovelha, embora lhe acarretem mais trabalhos e complicações, que sempre serão santos.

E quando não se possa falar – porque não é oportuno, ou porque se recebeu um conselho nesse sentido por quem tem autoridade para o dar –, havereis de saber calar, oferecendo a Deus a dor e o sofrimento que se prova: com fé na providência, chegareis assim, mais uma vez, à convicção de que servir é trabalhar com o olhar sempre posto no céu.

Com tudo isto, recordo que deveis vos esforçar para viver exemplarmente, servindo com desinteresse à Igreja e a todas as almas. E é oportuno esclarecer agora – embora seja de passagem – que é perfeitamente compatível com a realidade do Opus Dei o esforço que façais para não recusar postos de responsabilidade na vida civil, porque esse empenho – nobre, sempre com meios plenamente lícitos – não tem outro objetivo senão o serviço desinteressado: seria tentação diabólica pensar que é ambição pessoal.

Trabalhareis nesses postos com o mesmo espírito com que trabalharíeis nos afazeres mais escondidos e humildes: por afã de serviço – não encontro outra palavra –, bem persuadidos de que os cargos, para os filhos de Deus na sua Obra, hão de ser sempre obrigações, alegremente aceitas e alegremente cumpridas por amor ao Senhor e à humanidade inteira.

Outra característica do nosso serviço à Igreja é a ausência de autoelogios e propagandas, a humildade pessoal e coletiva com que procuramos trabalhar. Desde o início da Obra disse-vos que não precisamos de nenhum segredo e que a nossa discreta reserva sobre as coisas que pertencem à intimidade da consciência de cada um, ainda que então fosse mais necessária, haveria de ser algo a se viver sempre com naturalidade.

Mas – insisto – sem segredos nem segredices, do que não precisamos nem gostamos. Sou aragonês e, até no humano do meu caráter, amo a sinceridade: sinto uma repulsa instintiva por tudo quanto sejam trapaças.

Há pessoas, contudo, que dão a impressão de viverem na sacada, que se alimentam do que irão dizer os outros e das estatísticas e que parecem ter a simulação como regra de ouro da própria existência. Com essa mentalidade, tampouco podemos ser entendidos.

Uma curiosidade doentia que leve a investigar a vida privada dos demais, a estar inteirado de coisas que não devem sair do recinto da consciência e que tantas vezes não serve senão para matar a vocação e causar um dano à Igreja é incapaz de captar o profundo sentido cristão do nosso modo de trabalhar.

São pessoas que fazem estatísticas de tudo – menos do dinheiro que manejam – e não parecem cair na conta de que existem coisas espirituais, a maioria das que têm importância, que não podem reduzir-se a números.

Certamente não desprezo as estatísticas, que considero necessárias, mas penso – vejo-o claramente – que não devem receber a publicidade de que por vezes gozam. E não me baseio só na lembrança da recente experiência vivida na Espanha durante a perseguição religiosa do domínio comunista, mas também do que conheço de outras nações.

A instabilidade política é quase constante em muitos países, que estão expostos de modo permanente a um movimento de perseguição anticatólica. Nessas circunstâncias não é em absoluto conveniente que os inimigos da Igreja encontrem, em publicações que recolhem tais estatísticas ou simplesmente nos documentos deste tipo preparados nas cúrias episcopais, dados, por vezes detalhadíssimos, que lhes servirão para destruir as forças católicas organizadas. Não se pode esquecer a pressa com que os perseguidores se dirigem aos arquivos eclesiásticos.

Nem antes nem depois de 1936 tive intervenção direta ou indireta em política: se tive de me esconder, acossado como um criminoso, foi só por confessar a fé, ainda que o Senhor não me tenha considerado digno da palma do martírio. Não obstante, três vezes estive a ponto de morrer mártir: numa dessas ocasiões enforcaram diante da casa em que vivíamos uma pessoa que confundiram comigo.

O bem da Igreja exige – é realmente um dever – que sejam evitados acontecimentos desse estilo, que não se aniquilem os servidores de Deus, como então fizeram há sete ou oito anos, quando assassinaram tantos milhares de sacerdotes e de simples fiéis e destruíram os templos e casas religiosas.

Destruíram também as casas onde desenvolvíamos os nossos apostolados, mas, como os nomes dos meus filhos não constavam nos documentos da Cúria episcopal, só puderam perseguir-me a mim. E quase todos os que então estavam comigo seguiram em condições de trabalhar pelo bem das almas, passando inadvertidos naquela caótica situação.

É oportuno que – em condições semelhantes – a maior parte dos que formam a Obra se salve, para que possam continuar a desenvolver a sua atividade de apóstolos, mesmo no meio de uma duríssima perseguição, ajudando os sacerdotes escondidos, procurando que os fiéis tenham a possibilidade de receber o sacramento da penitência e – como alguns de vós fizeram – batizando, administrando a Sagrada Comunhão, animando os católicos.

Valeria a pena aplicar o procedimento que seguem os Estados no caso de algumas das suas instituições mais eficazes: sem dar a impressão de segredo – que em nosso caso inclusive não existe –, evitam detalhes de publicidade desnecessária. É consolador pensar no trabalho cristão que meus filhos podem fazer se não são conhecidos oficialmente como membros da Obra; e isso pode ser conseguido, para a maior parte deles, sem mistérios nem segredices, de que não necessitamos.

Penso, numa palavra, que se devem proporcionar à autoridade competente os dados estatísticos que ela estime oportunos, mas que – pelo menos no relativo ao Opus Dei – parece-me perigoso, mesmo defendendo – como defenderemos sempre – os direitos dos bispos, que se publiquem as estatísticas nacionais ou diocesanas com dados supérfluos, ou que se conservem esses dados nos arquivos das cúrias.

Geralmente, os Revmos. Ordinários conhecem os nomes dos Superiores religiosos e seus domicílios e, se se trata de religiões clericais, os nomes e os domicílios dos sacerdotes que tenham licenças ministeriais na diocese. No caso de associações de fiéis – como é o nosso –, conhecem os domicílios da associação e os nomes dos dirigentes.

A ninguém passou pela cabeça que o Ordinário conheça – ou pretenda conhecer – o que cada frade faz na sua diocese. De cada um deles sabe que é religioso, se é que o conhece, e pronto: o único que está a par do que faz – e nem sempre – é seu Superior imediato, a não ser que surja um escândalo.

Pensai na informação que possui o bispo sobre cada confrade de uma associação piedosa, ou sobre cada membro da Ação Católica. Pensai também nas notícias que possui sobre o dinheiro de cada fiel. Para ter todos esses dados inúteis, necessitaria de um arquivo imenso, e de uma coleção de arquivistas, e de um papelório esgotante.

O curioso é, filhas e filhos meus, que alguns querem saber de nós até quantos cabelos temos na cabeça.

Os membros da Obra são cristãos comuns

Pelo bem da Igreja, devemos rezar para que acabem essas injustas discriminações: pelo menos, para que todo o mundo nos considere como aos demais cidadãos, nossos iguais, porque – como eles – pagamos nossos impostos, cumprimos o serviço militar e não desejamos nenhum privilégio que não tenham os nossos colegas.

É preciso que procuremos apagar a calúnia do segredo que se empenham em lançar sobre o Opus Dei: não falta quem ouse qualificar a Obra de maçonaria. Trata-se de uma necedade grande, porque nós nada temos de aprender dos inimigos de Jesus Cristo para servir a Jesus Cristo, à sua Igreja e ao seu Vigário.

Talvez o que lhes preocupe seja a desorganizada organização que oferece o nosso apostolado, e eles sabem que uma publicidade abusiva impediria o trabalho de muitos dos meus filhos que, ao serem conhecidos oficialmente como membros do Opus Dei ou como católicos responsáveis, ficariam incapacitados de desenvolver a sua atividade em muitíssimos ambientes – universitários, sindicais, operários, econômicos, políticos etc. –, onde hão de servir à Igreja.

E digo oficialmente porque, de fato – é outra prova de que na Obra não há segredo de nenhum tipo –, a imensa maioria de vós é conhecida como membro do Opus Dei pelas vossas famílias, pelos vossos amigos, pelos vossos colegas, que sentem o bonus odor Christi da vossa vida. Mas seria absurdo divulgar a vossa vocação oficial e publicamente e que todos vos assinalassem com o dedo.

Entre outras coisas, porque o nosso caminho – de cristãos comuns – é absolutamente estranho a essa publicidade, e assim o faço constar sempre aos que me perguntam se alguns de vós sois de Casa e se podeis dizer que o sois: são muito livres de fazê-lo, se o virem oportuno; mas, se não for necessário, não é preciso divulgá-lo, porque se trata de uma coisa pessoal e privada, que pertence à sua consciência.

Não vos surpreenda, portanto, que os que estão acostumados a ostentar a sua condição de católicos ou de eclesiásticos para pedir exceções ou fazer negócios não compreendam os motivos da nossa discrição. A sua regra geral de conduta é tão oposta à nossa que não nos compreenderão.

Não ocultamos a nossa condição de católicos: confessamo-la com fatos, através do nosso trabalho, e se for preciso estamos dispostos a confessá-la também quando suponha um risco, como fez José de Arimateia, nobilis decurio, qui et ipse erat exspectans regum Dei, et audacter introvivit in Pilatum et petiit corpus Iesu35, varão nobre, que esperava também o reino de Deus e que audazmente foi até Pilatos e pediu o corpo de Jesus.

Não temais, no entanto, que a Igreja pisoteie essa característica do nosso espírito. Consta-vos como, geralmente, os Ordinários das dioceses onde trabalhamos nos entendem e nos querem bem; e – seja qual for a forma jurídica que, com o tempo, tome a Obra – a Igreja, que é nossa Mãe, respeitará o modo de ser dos seus filhos, porque sabe que, com isso, só pretendemos servir a ela e agradar a Deus.

Essa é a razão pela qual não admitimos nenhuma dúvida nem suspeita sobre a Igreja; nem a toleramos em outros sem protestar. Não procuramos os lados vulneráveis da Igreja – pela ação dos homens nela – para a crítica, como costumam fazer alguns que não têm fé nem amor. Não concebo que se possa amar à mãe e se fale dessa mãe com desapego.

E nunca estaremos bastante satisfeitos com o nosso trabalho, mesmo que sejam muitos os serviços que, pela graça de Deus, façamos à Igreja e ao Papa, porque o amor exigirá de nós cada dia mais e nossos trabalhos sempre nos parecerão modestos, uma vez que o tempo de que dispomos é breve: tempus breve est36.

Junto com o amor desinteressado, devemos ter uma grande confiança: estou certo de que se acrescentará às vossas almas com a ajuda de Deus, apesar das incompreensões que o Senhor quiser permitir e que – insisto – nunca serão incompreensões da Igreja.

Com esse espírito de confiança filial, receberemos sempre com gozo e alegria qualquer notícia que proceda da Esposa de Cristo, também quando for dolorosa ou possa parecê-lo aos olhos das pessoas alheias à Obra, pois sabemos que da Igreja não pode vir nada de ruim: diligentibus Deum omnia cooperantur in bonum37; para os que amam a Deus, todas as coisas são para o bem.

E atrevo-me a vos assegurar que essa alegria nossa, apesar dos pesares, não deixará de causar estupor e surpresa, e sobretudo edificação, naqueles que, sem motivo, porque não pode havê-lo, esperam de nós uma reação diferente.

Estas considerações levam-me como que pela mão a vos falar, finalmente, de outra coisa que empapa todo o nosso serviço apostólico: porque amamos a Igreja, temos também grande amor pelos Bispos, aos quais o Espírito Santo constituiu para apascentar a Igreja de Deus38.

Trabalhamos nas suas dioceses na mesma direção que eles marcam, e nas dioceses fica o fruto da nossa tarefa: procuramos secundar os desejos que manifestem, como cidadãos, com o nosso modo peculiar de trabalhar, pois para outra coisa não teríamos graça de Deus Nosso Senhor.

Dentro deste espírito, a nossa obediência é rendida: deem-nos consignas apostólicas, e trabalharemos eficaz e silenciosamente. E se o Revmo. Ordinário não tem necessidade de indicar nada de especial, trabalharemos também no serviço da diocese, tentando alcançar os fins próprios do Opus Dei.

Por isso, os bispos – praticamente todos – estão contentes e agradecidíssimos pelo bem que fazeis nas suas dioceses. Tende em conta, no entanto, que o lógico não é que somente eles estejam contentes conosco, mas que também nós estejamos contentes com eles – sei que compreendeis esta expressão, que não supõe falta de respeito –, já que com o nosso trabalho laical contribuímos ao serviço da diocese e a melhorar a vida espiritual dos fiéis sem custar um centavo à diocese, sem exigir a ajuda de ninguém: numa palavra, fazemos por caridade, por amor à Igreja nossa Mãe e às almas, o que o Ordinário está obrigado a fazer por justiça, em virtude da consagração episcopal e da missão que lhe foi confiada na diocese.

Não deixeis de rezar assiduamente pelo Prelado diocesano, como vos ensinei a fazer desde o princípio: e atendei-o com a cortesia que corresponde ao tom sobrenatural e humano da Obra. Também neste ponto nos diferenciamos dos religiosos, que logicamente hão de ter com os bispos um relacionamento diferente – embora seja também muito delicado –, porque é diferente seu modo de trabalhar, porque têm outra mentalidade, outra formação, outro espírito, porque toda a sua tarefa é eclesiástica e se desenvolve com esquemas muito diversos, de acordo com o conceito de estado de perfeição, que os diferencia dos demais fiéis e, portanto, de nós.

Quando os Revmos. Ordinários pediram, colaboramos – e continuaremos a colaborar – diretamente com os apostolados promovidos pela diocese, embora cumprir esses desejos frequentemente tenha acarretado para nós um sacrifício não pequeno, fosse pessoal ou até econômico.

Em todos os nossos apostolados corporativos – pelos quais a Obra responde plenamente –, agimos sempre de acordo com o Bispo, porque o nosso afã é fortalecer a sua autoridade e evitar a divisão de critérios no apostolado.

Esta unidade, contudo, não pode ser uniformidade. Todos os cristãos, e especialmente os que fazem uma dedicação pessoal e total da própria vida no serviço de Deus, estão unidos na missão corredentora da Igreja – já vo-lo disse –, mas cooperam com ela de forma diferente, segundo a sua vocação específica.

A unidade pede-nos, portanto, amar o chamado divino que recebemos e ser fiéis a este chamado: porque é o modo de trabalhar, de ser úteis a toda a Igreja, que quer para nós a vontade de Deus; e porque é o modo de dar a entender, na prática, que são amadas e compreendidas todas as vocações, os diversíssimos dons que o Espírito de Deus comunica aos cristãos.

Quem não for capaz de amar, ou pelo menos de respeitar, a vocação dos demais – com as tarefas apostólicas que cada vocação traz consigo –, não ama retamente a própria vocação: talvez porque deseje desordenadamente que a vocação dos outros seja igual à sua; ou porque quer absorver todos os apostolados no seu próprio, com a consequência imediata de não centrar-se nos fins que, por justiça, deve cumprir e de se tornar – portanto – um obstáculo para o trabalho dos demais e para a unidade e variedade do apostolado.

Não vou me estender em tudo o que me sugerem estas considerações, o que foge do tema da Carta; mas não quero deixar de vos dizer – mais uma vez – como amo e venero os religiosos e todas as almas que trabalham por Cristo. Referindo-me a eles, posso repetir mil vezes com sinceridade as palavras que São Paulo escrevia aos fiéis de Filipos: testis enim mihi est Deus, quomodo cupiam omnes vos in visceribus Iesu Christi39, Deus é testemunha do carinho com que vos amo nas entranhas de Jesus Cristo.

No entanto, o fenômeno apostólico da Obra, filhas e filhos meus, e a vossa vocação são tão peculiares – e tão diversos do nascimento e do desenvolvimento de uma vocação religiosa – que a totalidade dos membros do Opus Dei, nem antes nem depois de encontrar esse caminho de santidade, tinha pensado seriamente em entregar-se a Deus no sacerdócio ou no estado religioso.

Portanto, não tiramos ninguém do seu lugar, levando-o a uma vocação que não seja a sua; não é possível que afastemos ninguém do caminho que Deus lhe tenha traçado. Para que fique bem claro, escreverei sempre que não queremos ser como uns religiosos relaxados: porque não temos nem relaxamento, nem vocação de religiosos.

Devemos continuar a ser o que éramos antes de vir ao Opus Dei: gente da rua, cada qual no seu estado – solteiros, casados, viúvos, sacerdotes –, que não muda de estado por vir à Obra, embora dedique pessoalmente a própria vida a servir as almas por Amor.

Os que são irmãos de Jesus Cristo e trabalham para o único Senhor – embora em labores diversos: fuit... Abel pastor... et Cain agricola40 – não podem ser nunca obstáculo mútuo; a tarefa apostólica não tem limites, e todos os braços são poucos para trabalhar: há trabalho para todos.

Quem fosse um obstáculo para o labor dos seus irmãos – por inveja, por ciúmes ou por tirania – não poderia deixar de aplicar a si próprio aquela dura censura da Sagrada Escritura: é nisto que se conhece quais são os filhos de Deus e quais os do demônio: todo o que não pratica a justiça não é de Deus, como também aquele que não ama o seu irmão. Pois esta é a mensagem que tendes ouvido desde o princípio: que nos amemos uns aos outros. Não façamos como Caim, que era do Maligno e matou seu irmão. E por que o matou? Porque as suas obras eram más e as do seu irmão, justas41.

Não tem nada de especial que o Senhor, que é Pai, mostre predileções determinadas por uns e outros dos seus filhos: embora diferentes, tem-nas para com todos; dá a cada qual o que lhe convém, para si e para a utilidade do conjunto da família e do labor.

O erro estaria na indelicadeza do filho que não aceita e não se contenta com o que é seu, bem como no equívoco de invejar o dos outros. Erro que pode levar a cair na tentação de afastar e distanciar o irmão se possível, como fizeram os irmãos de José42.

Termino já, filhas e filhos da minha alma. Com o espírito que recebestes, com alegria grande, estai dispostos a irdes aonde vos chamar o serviço da Igreja Santa de Deus. E, em qualquer lugar, a naturalidade da vossa vida – homens e mulheres cristãos – far-vos-á instrumentos eficacíssimos para sobrenaturalizar todas as atividades terrenas, também nos lugares onde a Igreja esteja perseguida ou onde não se conheça o nome de Jesus, e – unidos ao labor de todo o Corpo Místico – restaurareis todas as coisas em Jesus Cristo43. Não esqueçais que eu não trabalho esperando pagamento neste mundo. Mas o Senhor é tão bom que mo dá: a vossa fidelidade!

Maiorem horum non habeo gratiam, quam ut audiam filios meos in veritate ambulare44, em nenhuma coisa tenho mais satisfação do que quando entendo que meus filhos vão pelo caminho da verdade. Por isso, uno-me agora novamente à oração do Senhor – sanctifica eos in veritate45, santifica-os na verdade – e peço que a sinceridade e a verdade de um serviço abnegado vos acompanhem sempre, por todos os caminhos do mundo.

Temos a alegria de saber que Deus nos escolheu desde a eternidade – redemi te et vocavi te nomine tuo: meus es tu46; eu te redimi e te chamei pelo teu nome: tu és meu – e nos trouxe a esta grande família do Opus Dei, que tem como orgulho servir: servir a todas as almas e, antes de mais nada, servir à Igreja, Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana; servir ao Sumo Pontífice, com um amor sem condições. Fiéis a Jesus Cristo, dóceis ao Magistério da Igreja, rezai e trabalhai para estender o Reino de Deus.

Filhas e filhos queridíssimos, reparai em tantas coisas que o Senhor, a Igreja, a humanidade inteira esperam do Opus Dei, que é ainda como uma semente escondida no sulco; apercebei-vos de toda a grandeza da vossa vocação e amai-a cada dia mais, decididos a ser o instrumento de que o Senhor precisa, com otimismo, com alegria, com sentido sobrenatural.

Para a frente, meus filhos, porque Jesus e a Igreja esperam muito de vós; mas que penetre bem na vossa cabeça e no vosso coração que não faremos nada se não somos santos.

Nesse serviço que é a vossa vida, não vos faltará a graça do Senhor – foi Ele quem vos chamou – e contareis com a intercessão dos Santos Arcanjos e dos Santos Apóstolos, aos quais invocamos como Padroeiros, e também com a ajuda constante dos Anjos da Guarda.

Será o vosso um serviço abnegado e submisso, com obras: um fiat generoso e sempre atual, em união com a Santíssima Virgem, Mãe de Jesus Cristo e Mãe nossa, que desde a Anunciação até o Calvário nos acompanha com o seu exemplo.

Se nesta batalha de Deus vos encontrais débeis, infirmus dicat: quis fortis ego sum47, dizei, no meio da vossa fraqueza: com a graça do meu Senhor, sou forte. E eu, com São Paulo, acrescento: gratia vobis et pax!48, a graça e a paz estejam convosco!

E também: não cessamos de dar graças a Deus por todos vós e de lembrar-vos em nossas orações. Com efeito, diante de Deus, nosso Pai, pensamos continuamente nas obras da vossa fé, nos sacrifícios da vossa caridade e na firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo49.

Que Ele vos guarde. Abençoa-vos o vosso Padre.

Madri, 31 de maio de 1943

ÍNDICE DE TEXTOS DAS SAGRADAS ESCRITURAS

(com referência aos números marginais)

Antigo Testamento

Gênesis (Gn)

Gn 1, 31.........6, 2

Gn 2,1 ...........6, 2

Gn 2, 15.........6, 13

Gn 4, 2...........8, 60

Gn 37.............8, 60

Levítico (Lv)

Lv 6, 12..........6, 10

1 Reis (1 Rs)

1 Rs 3, 9.........6, 15

Deuteronômio (Dt)

Dt 31, 19.........7, 48

Esdras (Esd)

Esd 5, 11.........8, 1

Tobias (Tb)

Tb 12, 12...........7, 66

Tb 12, 6-7..........6, 58

Tb 14, 10..........8, 1

Ester (Est)

Est 14, 13..........6, 69

Salmos (Sl)

Sl 2, 8...........6, 8

Sl 4, 5...........6, 67

Sl 19 (18), 6-7...........6, 29

Sl 25 (24), 3...........6, 33

Sl 25 (24), 5...........5, 10

Sl 77 (76), 15...........6, 29

Sl 88 (87), 2-3...........6, 46

Sl 88 (87), 16...........7, 30

Sl 96 (95), 1...........6, 34

Sl 100 (99), 2...........8, 12

Sl 103 (102), 5...........6, 34

Sl 104 (103), 10...........6, 46

Sl 118 (117), 8...........6, 72

Provérbios (Pr)

Pr 2, 8...........7, 37

Pr 11, 11...........5, 3

Pr 14, 34...........5, 3

Pr 18, 19...........6, 6

Cântico dos Cânticos

C 7, 13 ...........6, 30

Sabedoria (Sb)

Sb 7, 13...........5, 4

Sb 9, 21...........7, 68

Eclesiástico (Eclo)

Eclo 4, 8...........7, 41

Eclo 6, 15...........6, 70

Eclo 6, 17...........6, 70

Eclo 37, 17.19...........7, 38

Isaías (Is)

Is 43, 1...........6, 28; 8, 62

Is 65,23...........7, 68

Jeremias (Jr)

Jr 10, 10...........6, 1

Jr 18, 6...........7, 67

Ezequiel

Ez 1, 14...........6, 30

Ez 47, 8-10...........7, 15

Joel (Jl)

Jl 3, 10...........8, 63

Novo Testamento

Mateus (Mt)

Mt 3, 7...........8, 17

Mt 5, 14-16...........5, 31

Mt 5, 14.16...........6, 9

Mt 5, 19...........5, 16

Mt 5, 48...........6, 14

Mt 6, 18...........6, 28

Mt 11, 12...........6, 10

Mt 11, 25...........6, 48

Mt 11, 28...........6, 10

Mt 12, 35...........6, 63

Mt 13, 52...........6, 30

Mt 16, 24...........6, 21

Mt 19, 11...........7, 10

Mt 19, 13...........7, 66

Mt 19, 14...........7, 66

Mt 19, 17...........7, 67

Mt 19, 21...........7, 12

Mt 20, 28...........8, 2

Mt 20, 7........... 6, 72; 7, 68

Mt 24, 28...........7, 65

Mt 25, 34-40...........7, 42

Mt 28, 19...........5, 3

Marcos (Mc)

Mc 15, 43...........8, 52

Lucas (Lc)

Lc 8, 5...........7, 67

Lc 12, 31...........5, 30

Lc 12, 42-46...........8, 24

Lc 12, 49...........6, 3

Lc 14, 23...........7, 9

Lc 19, 46...........8, 26

Lc 24, 29...........6, 10

João (Jo)

Jo 1, 4...........6, 3

Jo 1,4-5.9-12........... 5, 5

Jo 1, 5...........6, 3

Jo 1, 14........... 6, 3; 6, 66

Jo 1, 19...........8, 17

Jo 1, 24...........8, 17

Jo 1, 36...........7, 13

Jo 1, 37...........7, 13

Jo 1, 38...........7, 13

Jo 1, 39...........7, 13

Jo 3, 1-3...........6, 55

Jo 3, 8...........6, 32

Jo 3, 16...........6, 7; 8, 32

Jo 6, 35...........6, 72

Jo 7, 5...........6,19

Jo 7, 13...........8, 16

Jo 7, 38...........6, 48

Jo 8, 12...........5, 13

Jo 8, 31-32...........5, 15

Jo 8, 32...........8, 29

Jo 8, 50...........5, 18

Jo 12, 32...........6, 12

Jo 12, 8...........7, 44

Jo 13, 34...........6, 6

Jo 14, 6...........6, 1; 6, 21

Jo 15, 2...........8, 29

Jo 15, 14...........8, 15

Jo 16, 30...........6, 20

Jo 17, 11.15-15-16...........6, 11

Jo 17, 17...........8, 61

Jo 17, 21-23...........8, 31

Jo 17, 22...........6, 11

Jo 17, 23...........6, 27; 6, 6

Atos dos Apóstolos (At)

At, 1, 1...........6, 51

At 2, 4-6...........6, 48

At 10, 34...........8, 24

At 18, 25...........5, 17

At 19, 2...........6, 47

At 20, 28...........8, 3; 8, 55

Romanos (Rm)

Rm 1, 14...........7, 68

Rm 3, 4...........6, 1

Rm 5, 5...........6, 6

Rm 6, 4-5...........6, 2

Rm 6, 22...........6, 10

Rm 8, 14-17...........6, 8

Rm 8, 28...........8, 54

1 Coríntios (1 Cor)

1 Cor 3, 22-23...........6, 8

1 Cor 4, 1...........8, 3

1 Cor 4, 7...........6, 4

1 Cor 4, 20...........8, 4

1 Cor 5, 6...........6, 23

1 Cor 7, 29...........8, 53

1 Cor 7, 7........... 6, 21; 8, 8

1 Cor 9, 12...........8, 27

1 Cor 9, 14...........8, 27

1 Cor 9, 16...........5, 20

1 Cor 10, 17...........6, 63

1 Cor 12, 11...........8, 30

1 Cor 12, 13...........6, 62

1 Cor 12, 4-11...........8, 5

1 Cor 13, 4...........7, 6

1 Cor 15, 27-28...........8, 61

1 Cor 15, 58...........7, 11

2 Coríntios (2 Cor)

2 Cor 1, 12...........6, 60

2 Cor 2, 15...........6, 15; 7, 14

2 Cor 4, 1-6...........6, 77

2 Cor 5, 14...........6, 7

2 Cor 7, 4...........6, 78

2 Cor 11, 28...........8, 4

2 Cor 12, 9...........6, 20

Gálatas (Gl)

Gl 3, 26...........7, 68

Gl 3, 28...........6, 64

Gl 4, 5...........6, 2

Gl 4, 19...........6, 1

Gl 4, 31...........6, 16

Efésios (Ef)

Ef 1, 9-10...........6, 2

Ef 1, 10...........5, 2; 8, 61

Ef 2, 19...........6, 18

Ef 3, 8...........7, 31

Ef 3, 14...........7, 31

Ef 3, 16-18...........7, 32

Ef 3, 17-18...........6, 4

Ef 3, 19...........7, 32

Ef 4, 11-13...........8, 6

Ef 4, 14-15...........5, 21

Ef 4, 15...........6, 67

Ef 4, 26...........6, 67

Ef 5,1...........6, 2

Ef 5, 2...........7, 66

Ef 5, 8...........6, 20

Filipenses (Fl)

Fl 1, 8...........6, 40; 8, 58

Fl 2, 5-7...........8, 2

Fl 4, 13...........7, 21

Colossenses (Cl)

Cl 1, 20...........6, 2

Cl 3, 23-24...........6, 16

Cl 3, 24...........8, 41

1 Tessalonicenses (1 Ts)

1 Ts 1, 2...........8, 63

1 Ts 1, 2-3...........8, 63

1 Ts 4, 3...........6, 25

1 Ts 5, 5...........6, 78

1 Timóteo (1 Tm)

1 Tm 4, 11-13...........7, 69

2 Timóteo (2 Tm)

2 Tm 2, 6-7...........5, 26

Tito (Tt)

Tt 3, 14...........5, 28

Tiago (Tg)

Tg 1, 8...........6, 71

Tg 1, 16-17...........6, 29

Tg 5, 16...........6, 78

1 Pedro (1 Pe)

1 Pe 2, 16...........5, 28

1 Pe 3, 14 ...........8, 16

2 Pedro (2 Pe)

2 Pe 1, 10...........6, 51

1 João (1 Jo)

1 Jo 1, 3-4...........6, 3

1 Jo, 1, 8...........6, 4

1 Jo 2, 1-2...........6, 4

1 Jo 2, 6...........6, 5

1 Jo 2, 7-11...........6, 6

1 Jo 2, 14...........7, 55

1 Jo 3, 1...........6, 3

1 Jo 3, 2...........6, 2

1 Jo 3, 10-12...........8, 60

1 Jo 3, 18...........6, 7

1 Jo 4, 8...........6, 3

1 Jo 4, 20...........6, 7

3 João (3 Jo)

3 Jo 4...........8, 61

3 Jo 8...........5, 25

3 Jo 9-10...........8, 28

Apocalipse (Ap)

Ap 3, 20...........6, 10

Ap 22, 12...........6, 10

ÍNDICE TEMÁTICO

(com referência aos números marginais)

AMIZADE: 6, 70-71; 7, 18.

AMOR: a Deus e aos demais (6, 6-7).

APOSTOLADO: no mundo (5, 2-3; 6, 8); difundir a luz de Deus (5, 5; 6, 3-4; 6, 9); de amizade e confidência (5, 9; 6, 55; 6, 72; 7, 19-20); por meio de labores pessoais e do trabalho profissional (5, 13); ensinar a doutrina cristã (6, 47-49); valor do exemplo (6, 51-54); dedicação a todos (7, 10-11).

CARTAS: suas características (7, 25).

CONTEMPLAÇÃO: no meio do mundo (6, 15-16).

CONTRADIÇÕES: 6, 17-20; 6, 43-46; 8, 10-11; 8, 12-17; 8, 29.

ENSINO: importância e urgência deste labor (5, 3; 5, 31); formar bons professores (5, 4); com sentido cristão (5, 5-6); tarefa laical e secular (5, 7-9); formação dos alunos (5 ,21); contar com os pais (5, 22); atividades muito variadas (7, 65).

ESPÍRITO DO OPUS DEI: sua simplicidade (6, 1; 6, 60); caminho de amor (6, 6); velho e novo como o Evangelho (6, 31).

ESPÍRITO DE SERVIÇO: 5, 16; características do serviço a Deus e aos demais (8, 1-4); ensinar a servir no apostolado (8, 8-9); por amor a Deus (8, 11).

ESPÌRITO SANTO: dom da palavra para instruir (7, 29).

FILIAÇÃO DIVINA: 6, 2-3; 6, 8.

HUMILDADE: e confiança em Deus (6, 4).

IGREJA: sua missão salvífica (5, 1); sua missão de ensinar (5, 2); características da vocação religiosa (6, 22; 6, 39-40); o Espírito Santo a mantém sempre jovem (6, 30); fidelidade ao depósito da fé e transigência com as pessoas (6, 67-69); todos estão chamados a servir (8, 4-7); anticlericalismo bom e mau (8, 20-23; 8, 26-28); características do bom governo (8, 24-25); amor à unidade e variedade na Igreja (8, 30-33; 8, 36; 8, 57-58); humildade e desinteresse no serviço à Igreja (8, 41-44); amor à hierarquia (8, 53-57).

JESUS CRISTO: viver com Ele (6, 4-5); união com Ele (6, 10-12); colocá-lo no centro da vida dos jovens (7, 12-14; 7, 32).

LIBERDADE: no campo do ensino (5, 12); na atividade científica (5, 15); no Opus Dei (6, 19); sem discriminações (6, 65-66); como respeitar a dos demais, conjugando com a fidelidade ao depósito da fé (6, 67-69); e responsabilidade no serviço à Igreja (8, 36-38).

NATURALIDADE: viver como os demais, sem distinguir-se e sem segredos (6, 56-59); e sinceridade (6, 61).

OBRAS CORPORATIVAS: 5, 10; não são redutos defensivos (5, 11); com a colaboração das pessoas que não são da Obra (5, 17); manter a autonomia da direção (5, 18); não discriminar ninguém (5, 19); instrumentos de apostolado (5, 20); são uma atividade profissional e laical (5, 23-24); sustento econômico (5, 25).

OBRA DE SÃO RAFAEL: 7, 1-2; ao que tende a formação humana oferecida (7, 2-4; 7, 20; 7, 56-58); formação espiritual (7, 5; 7, 21-22; 7, 33); espírito de serviço (7, 6); importância da continuidade (7, 15; 7, 22; 7, 54-55); seus fins específicos (7, 16-18); sustento econômico (7, 26; 7, 59-62); meios tradicionais (7, 28-29); cursos (7, 34; 7, 36-37); participação em associações (7, 35); atenção sacerdotal (7, 38-39); catequese (7, 40); visitas aos pobres (7, 41-44); outras atividades (7, 45-50); com os mais jovens (7, 51-53); dificuldades (7, 66-69).

OPUS DEI: seu fim é sobrenatural (6, 27); características de seu governo (6, 27); seu desenvolvimento, com a ajuda de Deus (6, 31-35; 6, 76-77); características específicas da vocação (6, 37-39); diferenças em relação a associações e movimentos (6, 42); seu caminho jurídico (6, 46; 6, 73-75); chamada (7, 7-9); arraiga-se em cada país (7, 31); diferenças em relação ao apostolado dos religiosos (8, 33-34; 8, 58-60); dificuldades durante a Guerra Civil espanhola (8, 44-46); prudência para evitar a perseguição (8, 47); não ao segredo (8, 50-52).

POBREZA: como é praticada no Opus Dei (6, 28).

PRIMEIROS CRISTÃOS: 6, 21.

RESIDÊNCIAS UNIVERSITÁRIAS: 5, 26-30; 7, 58-59; 7, 63-64.

SANTIDADE: no meio do mundo (6, 23-26).

SECULARIDADE: 6, 40-41; 8, 18-19; 8, 35; 8, 38-40.

TRABALHO: 5, 4; prestígio profissional (5, 14; 6, 49-50); colocar Cristo no cume das atividades humanas (6, 12); santificado e santificador (6, 13-14); meio para o apostolado (6, 35).

UNIDADE: favorecê-la com todos (6, 62-64).

VOCAÇÃO: para dar doutrina (5, 3); compromisso divino de amor (6, 10); alegria e gratidão a Deus por tê-la recebido (6, 28-30; 6, 78; 8, 61-63); transforma a vida das pessoas (6, 35-36).

GLOSSÁRIO

De alguns termos e expressões

utilizados por São Josemaria

(com referência aos números marginais)

Atividade laical e secular: refere-se à profissão docente de um membro do Opus Dei, que não ensina somente movido pelo desejo de realizar um apostolado eficacíssimo, mas porque deseja exercitar a sua profissão, dando glória a Deus. Como qualquer outro cristão, pode e deve santificar essa nobre atividade e tentar aproximar seus alunos de Deus, fornecendo uma visão e um critério cristãos acerca dos muitos aspectos filosóficos, históricos, éticos etc. que são objeto do seu ensinamento. Mas isso não impede que o trabalho profissional deva estar regido pelos seus próprios princípios humanos, independentemente do apostolado que com ele se realiza. Para Escrivá, a vocação profissional e a vocação para a santidade confluem na mesma pessoa, mas são diferentes. Aqui assinala uma diferença com aqueles que, com vocação para a vida consagrada, também se dedicam a esse trabalho. Para São Josemaria, o leigo do Opus Dei não está chamado a trabalhar no ensino como consequência da sua vocação para a santidade, mas pela sua própria vocação profissional. Não se trata de um mero apostolado, mas de um trabalho civil que obtém resultados apostólicos. Queria que as realidades seculares fossem elevadas a Deus sem deixar de ser o que são: trabalho laical de leigos responsáveis e, ao mesmo tempo, atentos à transcendência cristã da sua tarefa (5, 7).

Administração: conjunto de tarefas de cuidado e atenção à pessoa que dirigem as mulheres do Opus Dei, encaminhadas a conseguir um verdadeiro ambiente de lar cristão através desse trabalho profissional, que é também um caminho de santificação e de apostolado (5, 30; 7, 60).

alma sacerdotal: trata-se de um conceito essencial no pensamento de São Josemaria, para quem todo cristão pode e deve exercitar o sacerdócio comum dos fiéis em múltiplos aspectos da vida ordinária: oferecendo o trabalho a Deus, em união com a Eucaristia, e orientando a própria vida para o serviço e a salvação eterna dos demais, com o desejo de santificar todas as tarefas terrenas. Para evitar o perigo do clericalismo, unia-o inseparavelmente ao conceito de “mentalidade laical” (6, 11-14).

apostolado de não dar: expressão, aparentemente paradoxal, que São Josemaria usou ao menos a partir de 1931 e que aparece no n. 979 de Caminho. Para ele, significa ajudar quem se aproxima de Deus e das obras apostólicas a ter a atitude de “dar”, ou melhor, de “doar-se” a Deus, e não de “receber” um benefício material ou uma vantagem pessoal. Para estimular a generosidade para com Deus e ao mesmo tempo salvaguardar a retidão de intenção, Escrivá pensava que é próprio da condição humana “ter em pouco o que pouco custa” (Caminho, n. 979). Por isso aconselhava cobrar sempre algo, embora fosse muito pouco, dos que frequentam as múltiplas obras sociais que promove o Opus Dei entre pessoas carentes: desta forma, dizia, evita-se que se sintam humilhados e sem direitos, como quem recebe algo por caridade (7, 48; 8, 9).

Associações ou movimentos: o panorama atual dessas formas de vida cristã é variadíssimo e, em alguns casos, evoluiu bastante desde que Escrivá escreveu estas cartas. Em alguns dos atuais movimentos ocorrem – ao menos para alguma categoria de membros – as condições de dedicação plena, vínculo estável, formação profunda e rigorosa etc. que o fundador notava como diferença entre estas realidades e o Opus Dei. A diversidade da Obra consiste antes, talvez, na união inseparável entre labor profissional e apostolado, que é essencial ao carisma do Opus Dei (6, 42).

em Burjasot: São Josemaria se encontrava nesse lugar para pregar um retiro para estudantes. O episódio está narrado em Andrés Vázquez de Prada, O Fundador do Opus Dei, vol. II (6, 46).

(carta) escrevem a carta: a petição de admissão ao Opus Dei realiza-se por escrito, mediante uma carta redigida em tom simples e familiar, dirigida ao Prelado do Opus Dei (7, 27).

centros dirigidos pela Obra: o Opus Dei se responsabiliza pela orientação cristã das “obras corporativas”, e nesse sentido pode-se dizer, coloquialmente, que as dirige. Não controla necessariamente a sua gestão, mas inspira seus valores, vivificando cristãmente essas atividades, proporcionando uma garantia moral e uma assistência pastoral específica. Pode-se, pois, afirmar também que as dirige no plano espiritual (5, 13).

colaboradores: atualmente, denominam-se “cooperadores” àqueles que se beneficiam da formação cristã da obra de São Gabriel – sem serem membros do Opus Dei – e ajudam com a sua oração, com a sua esmola e, por vezes, com o seu trabalho os labores apostólicos que as pessoas do Opus Dei impulsionam com outras pessoas (5, 13; 5, 17; 5, 19; 5, 25; 5, 29; 7, 11; 7, 14; 7, 15; 7, 53).

(contrato) simples contrato: desde que o Opus Dei obteve, em 1982, sua configuração jurídica como prelazia pessoal, a incorporação temporal ou definitiva dos próprios fiéis se realiza por meio de uma declaração formal entre a pessoa interessada e um representante da prelazia, perante duas testemunhas, acerca dos recíprocos direitos e deveres. Embora tal declaração possa muito bem ser chamada “contrato” ou “convênio” (cf. Const. apost. Ut sit, 19 de março de 1983, norma III, AAS 75 [1983], pp. 423-425; CIC, c. 296), surge dela uma relação de comunhão entre o fiel e os demais membros do Opus Dei dotada de consequências jurídicas, mas sem alguns dos elementos que poderiam fazer deste um simples “vínculo contratual”. Quando São Josemaria escreve esta frase, está pensando por aproximação em algo que só muito tempo depois, em 1982, ficará delineado com precisão. À hora de formalizar o vínculo de cada fiel com a Obra, pensava numa fórmula desse estilo, a fim de distanciar-se da tradicional emissão de votos, mais própria da vida consagrada e mais devedora de uma praxe canônico-teológica que o Opus Dei desejava abandonar quando esta Carta foi concluída (6, 10).

(controle) o controle da direção: refere-se a que pessoas formadas no espírito da Obra – normalmente, os mesmos proprietários ou gestores da entidade em questão – devem poder garantir, com seu trabalho e influência, que tal instrumento não se afaste da finalidade profissional e apostólica para a qual foi criado, de acordo com os próprios estatutos, como é habitual em muitas organizações, católicas ou não (5, 18).

o senhor corregedor tampouco o entende: isto é, não o entende ninguém que tenha senso comum. O corregedor era um alto funcionário da Monarquia Hispânica com funções de governo, polícia, justiça etc. O episódio parece provir da vida estudantil de Salamanca, onde, em meados do século XVIII, morava um sapateiro gozador que, quando via um estudante passar diante da sua oficina, batia com força na sola enquanto gritava em altos brados: “Não o entendo!” A sua maçante atitude foi denunciada ao corregedor da cidade, que ordenou que comparecesse para interrogá-lo. O sapateiro perguntou por sua vez se, para saber, não seria necessário estudar e se para estudar não seria necessário o recolhimento. O corregedor deu-lhe a razão. Então o sapateiro ripostou dizendo que ele via os estudantes de Salamanca irem pela rua de passeio e de visitas a toda hora e que não sabia quando estudavam... Daí que os censurasse, dizendo: “Não o entendo!” O juiz respondeu: “Pois eu tampouco o entendo.” E, a partir daquele momento, quando o sapateiro surpreendia algum estudante passeando, gritava ainda mais desaforadamente: “Não o entendo! E o senhor corregedor tampouco o entende!” O episódio aparece relatado, entre outros lugares, no Album salmantino, semanario de ciencias, literatura, bellas artes e intereses materiales de 19 de fevereiro de 1854. O editor agradece esta informação a Constantino Ánchel (8, 29).

(diletantismo) como amadores: Escrivá sustenta que os leigos, pela sua vocação, estão chamados por Deus a se ocuparem das questões temporais com profissionalismo e competência. Pensava que aqueles que, levados por um complexo de superioridade clerical, invadem um campo que não é o seu correm o risco de demonstrar um deplorável diletantismo. Não ignorava o elevado trabalho acadêmico e científico que desempenham tantos religiosos e sacerdotes – alguns deles foram amigos seus e até filhos, no caso dos sacerdotes –, os quais, ao longo da história, conciliaram as suas tarefas eclesiásticas ou religiosas com a obtenção de altíssimos resultados científicos (8, 19).

(grupo) não fazemos grupo: isto é, o Opus Dei oferece uma atenção pastoral que tenciona vivificar o espírito cristão das pessoas, independentemente do âmbito em que vivem e das preferências, também religiosas e apostólicas, que tiverem. Daí que os que se beneficiam dessa ajuda não formem um grupo dentro da Igreja, embora se reforcem entre eles os laços de comunhão e fraternidade, pois a finalidade não é fazer crescer uma organização, mas que cada qual melhore a sua vida cristã para servir à Igreja onde Deus o chama (7, 35).

(leituras) orientar as suas leituras: no Catecismo da Igreja Católica lê-se que “o primeiro mandamento [do Decálogo] manda-nos alimentar e guardar com prudência e vigilância a nossa fé” (n. 2088). Daí que seja uma obrigação moral melhorar os nossos conhecimentos sobre a fé e evitar tudo quanto possa fazê-la perigar, pedindo conselho e informando-se adequadamente sobre as leituras e outras atividades (7, 36).

lutemos em nossa vida interior: para São Josemaria, a “luta ascética”, isto é, a melhora espiritual, está motivada pelo amor a Deus e ao próximo, e não por um mero desejo de autocontrole e aperfeiçoamento pessoal (5, 21; 6, 20).

mentalidade laical: expressão de significado muito rico em São Josemaria, que declara a sua rejeição ao clericalismo e, ao mesmo tempo, o seu amor ao mundo, que Deus entregou aos cristãos para que o santifiquem; não se deve confundi-la com a “mentalidade laicista”, própria de quem se opõe a que a religião tenha relevância pública (5, 4; 6, 53; 8, 38).

Normas: as “Normas de piedade”, as “Normas do plano de vida” ou, simplesmente, “as Normas” designam o conjunto de práticas de piedade que marcam a vida dos fiéis do Opus Dei (a Santa Missa, a oração mental, a recitação do Terço, a leitura espiritual etc.), ajudando-os a manter um contínuo diálogo com Deus no meio dos seus afazeres (7, 6; 7, 49; 7, 54).

obras de São Rafael e de São Gabriel: são labores específicos de evangelização e formação cristã que o Opus Dei desenvolve para a juventude (obra de São Rafael) ou para pessoas adultas (obra de São Gabriel). São independentes da formação cristã que se ministra nos colégios e costumam realizar-se em centros juvenis, casas de retiro etc., embora também por vezes – no caso dos pais – em instalações do próprio colégio, mas fora do horário escolar (5, 20).

não haverá opiniões: o parágrafo contém duas ideias que de início poderiam parecer contraditórias. Por um lado, afirma que não haverá opiniões “no fundamental”, isto é, no “breve denominador comum” que está constituído pela doutrina da Igreja e pelo espírito característico da Obra, incluindo o peculiar modo de exercitar o apostolado. Não cabe aqui, para o fundador, desagregação em grupos, correntes ou partidos que sigam uma interpretação própria desse substrato fundamental. Ao mesmo tempo, a diversidade de pareceres em questões opináveis parece-lhe louvável e desejável no Opus Dei (6, 27).

perfeição cristã: é um modo de denominar a busca da união com Cristo, a identificação com Ele, própria de qualquer estado de vida e, para São Josemaria, chave na aspiração à santidade cristã; não se deve confundir com o perfeccionismo, nem com a procura de uma excelência espiritual elitista e meramente humana, com as quais pouco tem a ver (5, 4; 6, 24.26.44; 7, 21; 8, 1).

proselitismo: em São Josemaria, não consiste numa mera captação de adeptos, como hoje vulgarmente se entende esta palavra, mas em ajudar na delicadíssima tarefa do discernimento vocacional, proporcionando luz, doutrina e bom exemplo. E, ao mesmo tempo, acompanhando esta ajuda com abundante oração e sacrifício, a fim de que as pessoas, se Deus as chamar, sejam capazes de responder afirmativamente ao grande dom da vocação divina e de seguir Jesus como discípulos. Como a obra de São Rafael tende a tornar todo jovem um seguidor de Jesus Cristo, uma pessoa identificada com a missão redentora do Senhor, um apóstolo no meio do mundo, independentemente de que considere ou não a sua possível vocação para o Opus Dei, ele diz que “com todos fazemos labor de proselitismo” (7, 18; 6, 72; 7, 8; 7, 9; 7, 25; 7, 55).

(religiosos) não convirá que trabalhemos com os religiosos: São Josemaria quer animar os leigos a que trabalhem também em ambientes educativos afastados de Deus, a fim de levar ali a luz do Evangelho, sem pretender refugiar-se em entornos oficialmente católicos para desempenhar o seu trabalho. Desejava que os colégios promovidos por pessoas do Opus Dei não aparecessem como oficialmente católicos ou confessionais, mas abertos a crentes ou não, embora seus valores estejam firmemente inspirados na doutrina de Cristo. Escrivá teve sempre carinho e fortes laços de comunhão com os religiosos, como o demonstram tantos testemunhos; todavia, não queria que os membros do Opus Dei fossem equiparados a eles, tornando assim mais difícil – se não impossível – o seu trabalho numa sociedade secularizada (5, 9; 5, 24).

(religiosos: atividades profissionais) constituem um impedimento que se deve abandonar: São Josemaria se refere àquelas atividades que, para os religiosos, estão canonicamente proibidas ou são incompatíveis com a sua vocação, ao passo que, para os fiéis da Obra, constituem – desde que sejam tarefas honestas – um válido campo de santificação (6, 22).

seletos: a “seleção” de que se fala é, no fundo, fruto da livre escolha dos jovens, que leva alguns a desejarem se comprometer com Deus a fim de se formarem cristãmente e levar uma vida como discípulos de Cristo, segundo a forma proposta pela obra de São Rafael. Esse interesse e essa correspondência pessoal os tornam seletos tal qual São Josemaria indica, a despeito de sua posição social, de sua capacidade etc.: “sem distinção de qualquer tipo”, especifica ele, sem elitismo (7, 2; 7, 21).

(sinceridade) selvagemente sinceros: a sinceridade “selvagem” é uma hipérbole muito frequente na pregação e nos escritos de São Josemaria. Refere-se à valentia de ser transparente e examinar-se a si próprio (6, 61).

vida de família: entre as pessoas do Opus Dei existem laços de fraternidade, semelhantes aos de uma família (6, 61).

Notas
1

Tb 14, 10.

2

Esd 5, 11.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
3

Mt 20, 28.

4

Fl 2, 5-7

Referências da Sagrada Escritura
Notas
5

At 20, 28.

6

1 Cor 4, 1.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
7

1 Cor 4, 20.

8

2 Cor 11, 28.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
9

1 Cor 12, 4-11.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
10

Ef 4, 11-13.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
11

1 Cor 7, 7.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
12

Sl 100 (99), 2.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
13

Jo 15, 14.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
14

Jo 7, 13.

15

1 Pd 3, 14.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
16

Jo 1, 24.

17

Jo 1, 19.

18

Mt 3, 7.

19

Ibid.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
20

Sobre a diferença entre clericalismo e diletantismo, e também sua diferença com o trabalho científico ou profissional de alguns sacerdotes e religiosos, veja-se o Glossário.

Notas
21

Lc 12, 42-46.

22

At 10, 34.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
23

Lc 19, 46.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
24

1 Cor 9, 14.

25

1 Cor 9, 12.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
26

3 Jo 9-10.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
27

“e o senhor corregedor tampouco o entende”: veja-se o Glossário.

28

Jo 8, 32.

29

Jo 15, 2.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
30

Cf. 1 Cor 12,11.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
31

Jo 17, 21-23.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
32

Jo 3, 16.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
33

São Bernardo de Claraval, De consideratione libri quinque ad Eugenium tertium, IV, c. II (SBO, III, pp. 451-452).

34

Cl 3, 24.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
35

Mc 15, 43.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
36

1 Cor 7, 29.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
37

Rm 8, 28.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
38

At 20, 28.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
39

Fl 1, 8.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
40

Gn 4, 2.

41

1 Jo 3, 10-12.

42

Cf. Gn 37.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
43

Cf 1 Cor 15, 27-28; Ef 1, 10.

44

Cf. 3 Jo 4.

45

Jo 17, 17.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
46

Is 43, 1.

Referências da Sagrada Escritura
Notas
47

Jl 3, 10.

48

1 Ts 1, 2.

49

1 Ts 1, 2-3.

Referências da Sagrada Escritura
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